O padrão que nos convém

As vezes – quase sempre – nós brigamos por uma vida que podemos ter e pedimos o mesmo pra quem pode escolher a vida que quiser.

Já me casei algumas vezes. Já fiquei solteiro algumas outras. As duas vidas são completamente diferentes, cheias de prazeres e problemas que nem se comparam. Mas porque as pessoas “certas” tem que seguir um padrão conservador mesmo aos olhos progressistas?

Ontem li uma matéria que questionava o estilo de vida do Leonardo di Caprio. Ele namora garotas jovens, troca de namorada sempre, segue sendo ótimo no que faz e é a mídia que faz de suas relações uma novela, não ele que as expõe.

“Leonardo deveria se casar e amadurecer”, dizia a matéria, escrita por uma progressista feminista dessas que quer que a família seja destruída em redes sociais.

Mas ué?

Defina “amadurecer”.

Porque eu não tenho a menor convicção de que ter uma família faz mais bem ao homem do que andar sozinho, bebendo com amigos e trocando de mulher todo mês. Já vivi os dois mundos intensamente. E nunca me vi mais ou menos cheio de valores por uma dessas condições.

Talvez meu momento de maior equilibrio emocional, inclusive, tenha sido quando aprendi sozinho que não precisava de ninguém pra ser feliz. Talvez eu seja menos correto quando só, mas talvez eu seja mais eu mesmo.

A sociedade criou um padrão. Você casa, tem filhos e paga por isso parceladamente até o final da vida pra “não morrer sozinho”. Hoje tem uma geração que junta os trapos, viaja e não tem filhos.

Será que essa gente, sem família doriana, é menos feliz do que quem viveu pra pagar fraldas e colégios?

Não vejo nada de errado na vida que meus pais escolheram. Mas não acho que é uma demonstração de infantilidade não querer ter a mesma vida.

Que mal lhe faz Leonardo di Caprio em sair com diversas mulheres, todas elas até onde se sabe por livre e espontanea vontade, e viver sozinho, rico, bem sucedido e fazendo o que bem entende?

“Ah mas lá na frente ele vai sentir falta”. E você, com 3 filhos que mal te visitam, não sente falta de ter vivido mais pra você do que pra eles?

São escolhas. E não há uma escolha certa.

Deve ser fantástico ter filhos. E também é fantástico conhecer um lugar novo por mês num belo hotel que com filhos fatalmente você não poderia ir tantas vezes.

É muito bom chegar em casa e ter sua mulher pra jantar e ver um filme. Não é menos bom sair quando quer, a hora que quiser, beber e rir com amigos até as 4 da manha numa calçada suja sem compromisso com nada.

Vivi as duas vidas algumas vezes. Casei-me 4 vezes, fui solteiro, dono de bar, famosinho, morando sozinho. Vivia no pagode, sem hora pra chegar ou dormir. Minha vida era caoticamente perfeita! Hoje, calmamente perfeita. E tudo bem. Em nenhum dos dois momentos eu fui menos responsável.

A teoria do mar gelado é perfeita. Quando você pula incentiva os outros a pularem. Se no barco, tomando sol, você pensa muito antes de pular. E porque não pular é uma escolha ruim? Porque a maioria já pulou. E ser diferente do que te determinam socialmente é muito caro.

Se o Neymar vai a festas e gosta de mulheres é um problema, diz o mesmo sujeito que pede a geração Romário e Edmundo de volta.

Ué?

Todo solteiro quer alguém. Todo casado quer a vida de solteiro. É instinto humano de achar que o que o outro tem é melhor do que o seu, meramente porque você conhece todos os seus problemas e dele só sabe as glórias.

Se beber, não case. Mas se casar, não encha o saco de quem não casou. E se optar por viver como um adolescente até os 60, meus parabéns! É a coragem que muitos queriam ter e não tem.

Se há alguem com inveja nessa relação besta de encontrar um certo e errado é aquele que jura estar certo.

Como diria aquele samba. “Deixa eu beber em paz”. E mais, diria outro “pago tudo que consumo com suor do meu emprego”.

Na vida a coisa mais feia é gente que vive julgando a vida alheia.

RicaPerrone