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Carnaval

O que vi da Vila

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423311_10151314010480053_2130461923_nEm agosto de 2012 me mudei pro Rio de Janeiro. Eu sabia o que encontraria, talvez não nas doses exatas.  Vim por vários motivos, entre eles, o samba. Minha terapia, minha paixão, meu sorriso mais honesto.

Aqui cheguei e imediatamente recebi convites e mais convites para conhecer escolas de samba. Fui a diversas, amei todas elas, guardarei com carinho cada minuto que passei ouvindo aquelas baterias e vendo aquele povo feliz.

Um deles me chamava para conhecer a Vila Isabel. Segundo o autor do convite, Tunico, filho do tal de Martinho, ele queria “colocar uma manchinha azul no meu coração verde e branco de padre miguel”.

Fui, conheci, voltei. Me apaixonei.

E apaixonado fui me envolvendo a cada semana, indo a ensaios, conhecendo gente, a história da escola, do bairro, tudo que envolvia aqueles minutos de desfile que pra tanta gente “é só aquilo”.

Não é.

Tem mais do que o ufanismo da tv, do que as pernas bonitas da atriz global e do que um ritmo musical. Muito mais.

Naquela comunidade aprendi que samba não diz respeito a uma forma de fazer música, mas sim a um estado de espírito que junta gente, alivia a alma e iguala pessoas.

Ali, naquela quadra, como em qualquer outra, o patrão de segunda-feira pára pra ver o empregado fazer o seu show. Não existe mais classe social, preto, branco, gays, turistas e cariocas. É um “ensaio”,  um aquecimento para um simples desfile que na verdade não passa de um pretexto para a existência de tudo aquilo.

Da união de um bairro, do encontro semanal dos vizinhos, da disputa pelo melhor samba, das histórias do botequim, da manutenção da raiz de uma cidade que tanto luta para não perder sua identidade.

O Rio de Janeiro não é melhor nem pior do que as outras cidades do país. Nem se parece com nenhuma outra. Aqui, onde o progresso esbarra no orgulho, nem parece Brasil de tão brasileiros que são. Onde se menospreza por esporte, um Rio de vergonha na cara que exalta o samba, defende sua terra e valoriza seu passado.

Cariocas são marrentos, divertidos, desencanados, mas adoram o que é deles. Um cantinho gringo dentro de um Brasil que adora se odiar, justo na mais brasileira das cidades.

O boteco, o chinelo, o encontro casual. A cerveja, o pandeiro como destaque e não como representação de minorias.

Cariocas gostam ou não de samba, mas o valorizam. E se há um momento em que o Rio é tipicamente Rio é numa quadra de escola de samba, onde todos se parecem amigos de longa data, sorrindo e brindando a vida, cuidando da saúde com gargalhadas e não com comprimidos.

O Prêmio Nobel de medicina deveria ir pra Noel, Candeia, Martinho e tantos outros.

O samba cura. Pela alegria ou pela fé, do que é ruim da cabeça ao doente do pé.

Vi na Vila o que sempre quis ver da Vida.

Alegria, poesia, samba e simplicidade.

Manchou, Tunico. O meu coração verde e branco ainda é verde e branco. Mas a mancha azul “garro” no peito e não quer sair.

“É pra lá de bom…”

abs,
RicaPerrone

Cara a Tapa

Gabriel David: “Se a Beija-Flor cair não haverá virada de mesa”

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Filho do bicheiro Anísio da Beija-Flor e atual manda-chuva da escola, Gabriel quer mudar o carnaval. E revela como é ser filho de um dos maiores contraventores do país.

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Carnaval

Santo de casa

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Lendas urbanas são especialidade do carioca. Todo carioca tem uma história de “terror” pra contar que impressiona quem é de fora. Faz deles mais “sobreviventes”, adaptados ao perigo.

Uma das que mais ouvimos é do acordo entre bicheiros na década de 80, comandado pelo Castor, eterno patrono da minha Mocidade, que algumas escolas não poderiam ser rebaixadas nunca. Especialmente com seus patronos vivos.

Era uma lenda. Ontem passou a ter segunda temporada.

Porque? Em 18 e 17 havia um argumento, goste ou não. Mas em 2019 não há. É meramente a virada de mesa pela camisa e ponto final. De forma nua e crua, sem contestação.

Vai ficar porque vai. Porque? Porque é a Imperatriz.

Luizinho está vivo. Faz todo sentido. Não se faz justo, até pela queda do Império. Mas faz sentido dentro da lenda urbana tão replicada pelo mundo do samba em seus bastidores.

Gosto? Não. Entendo? Sim. De alguma forma, sim.  A Liga é das escolas, e elas decidem o que querem pra sua Liga. Se acham uma escola indispensável, seja por política, acordo ou pelo show, podem fazer com que as regras mudem.

Podem? Podem. As regras são delas.

Lamento? Muito. O carnaval do Rio tem se tornado um pano de fundo pra show do Luan Santana, mega camarotes de promoters celebridades, uma playboyzada que nem sabe o que está fazendo lá e um viés político idiota que nada acrescenta.  Com as viradas de mesa torna-se ainda menor a credibilidade.

Mas cá entre nós, qual a credibilidade do carnaval carioca? Em que momento de sua história ele precisou ou fez uso disso pra ser o maior espetáculo da terra?

Compramos esse evento sabendo quem estava por trás a vida toda. É um óbvio sistema onde o contraventor usa a paixão da comunidade para conquista-la, a TV compra, se torna parceira comercial, alivia pra contravenção e todo mundo sai feliz.

Quem não sabe disso?

Não gosto. Mas daí a me espantar com a decisão vai uma distância…

RicaPerrone

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Carnaval

Marielle não tem culpa

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Como a gigantesca maioria das pessoas de todo país, eu nunca tinha ouvido falar em Marielle. Quando ela morreu achei que foi um crime contra um ser humano. Não me importei com o fato dela ser de esquerda, negra, gay, mulher, usar rosa ou azul, ter cabelo liso ou ondulado.

Com os dias fui entendendo que ali nascia uma lenda socialista para uso indevido de seus pares políticos.  No enterro houve hino do socialismo. Em volta bandeiras vermelhas. E nas passeatas “pela paz” havia ideologia e campanha política. Isso gerou uma puta rejeição a uma parte das pessoas e também compreendo.

No carnaval Marielle foi citada em alguns lugares e será eternamente porque é uma representante recente da esquerda e de outras diversas pautas que não divergem entre lados, embora a esquerda tenha se apropriado de algumas brigas.

A Mangueira não fez enredo sobre Marielle. A citou. São coisas diferentes.

A Vila cita Martinho há 200 anos, ele visita o Lula na cadeia e é um petista declarado há décadas. A Beth Carvalho também é uma petista assumida, sempre citada na Mangueira. E ninguém deixou de cantar ou curtir a escola por isso.

O enredo da Mangueira cabia Marielle. A rejeição a Mangueira por cita-la é um erro, embora eu compreenda o sentimento. Mas de perto, conhecendo como conheço o carnaval, posso lhes dizer que se trata de um ambiente de gays, negros e pobres em sua maioria. E portanto eles tendem a ir pro lado que se apropriou a luta deles: a esquerda.

Eu não posso odiar Jesus Cristo por ter um bando de imbecil enchendo o saco com o nome dele.   Você não é responsável, ainda mais morto, pelo circo que fazem a sua volta.

Sim, Marielle se tornou a bandeira da hipocrisia nacional. Vide uma escola de samba que até outro dia era comandada por um criminosos ligado a traficantes e milicianos homenagear a vítima de quem fez guerra contra isso.

Mas o importante é reafirmar:  a Marielle não está fazendo nada disso. Ela está morta. Quem está fazendo show sobre caixão são outras pessoas. Quem usa droga e vai na passeata contra traficante é outra pessoa.  Os políticos que fazem discurso sobre o partido usando o corpo dela, são as piores pessoas.

A Mangueira fez o que sempre faz. Exaltou seu lado. Hipócrita? Claro! Quem não é nesse país quando abre a boca? A Tuiuti adotou um lado político pra sair do papel de figurante. É um procedimento simples e midiático em ter 30% da população engajada do que 100% dela te ignorando.

Se radicalizar pra um dos lados é mais notável do que o bom senso de centro que vê problemas e qualidades em ambos. E na dificuldade de se destacar com bom senso, se faz o show para um dos lados.

Marielle tinha boas causas. Não sei se ela “faria” o que estão fazendo com ela. Mas não podemos odiar a pedra porque a atiraram na gente. Quem atira é o problema. A pedra é só a pedra.

As causas citadas no enredo foram “roubadas” por um lado político. A estratégia dessa gente é exatamente se apropriar de lutas e classes para “obrigar” certas pessoas a estarem junto deles. É como nascer num lugar. Você é obrigatoriamente “paulista”, “carioca”.  Eles fazem isso para que você sendo mulher, negro, gay ou nordestino seja imediatamente de esquerda.  Alguns escapam, outros não.

E por isso Marielle é a bandeira deles.

Mas insisto: ela não tem culpa.

Fernando Holiday, negro, gay, de direita, sofreu um atentado a bala no seu gabinete com possibilidade enorme de ter partido de um grupo político, já que do lado de fora havia manifestação destes.

Você viu algo sobre?

Nem eu. Mas é Brasil, irmão.

Aqui o esquema é ruim só quando a gente tá fora dele. E a bala só doi se matar. Desde que mate um dos meus, é claro…

RicaPerrone

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