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Carnaval

Terra da garoa e do mau humor

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Eu nasci em São Paulo, cresci e moro aqui até hoje. Já morei na zona sul, leste e oeste. Sei exatamente do que estou falando e não me excluo quando cito o stress e o mau humor do povo paulistano.

Não, não sabemos fazer festa. Sabemos trabalhar, comer e dormir. Quando de folga, ou gastamos um absurdo pra ir a algum lugar fechado ou ficamos andando no shopping.

Quando no fim do dia, no transito. Ser paulista é chato pra caralho.

A cidade não nos dá nada que não seja caro ou trabalho. Não há opção de lazer fácil e integrado. Ou você é rico ou você é pobre. Aqui, tudo se separa.

As escolas de samba não são das comunidades, são de times de futebol. O desfile é uma guerra e, como o futebol, não é visto mais como entretenimento, diversão, prazer.

Tudo em são Paulo é competição. Da hora que acordamos e pegamos o transito pra chegar logo, no dia de trabalho, no transito da volta até mesmo no fim da noite, quando disputamos uma vaga num restaurante ou no estacionamento do Shopping.

É fato que não cabe mais ninguém aqui. É tão fato quanto isso ser o “escritório do Brasil”.  Assim sendo, vivemos nele o tempo todo irritados e pensando em problemas.

Conheço o Brasil de Uruguaiana até Fortaleza. Nada é mais “cinza” do que São Paulo. Culpa da cultura, do governo, do fato de sermos um centro onde todos procuram vir trabalhar e, portanto, lota. Lotado, ninguém anda, e assim ninguém aguenta viver.

São Paulo é, hoje, a terra do mau humor.

No futebol queremos 1×0 e ai do time se não fizer. Camisa do seu time em dia de jogo? Você está maluco! Adesivo no carro? Bandeira em casa? Só se quiser tomar pedrada.

Isso não é futebol.

E no carnaval, onde o futebol e seu lado mais nojento tomou conta, idem.

Não se brinca carnaval, meramente se disputa um título.

Esquece o Rio, nem compare. É uma perda de tempo gritante e bizonha esta comparação no carnaval. É Ferrari contra Fiesta.

E mesmo que você, defensor do indefensável, queira rezar por uma briga na apuracão do Rio hoje pra dizer: “Tá vendo!”, não adianta. Será exceção, não regra. Aqui, é regra.

É hora de rever as coisas, não de lamentar apenas. Não adianta só meter o pau no carnaval e esquecer que estamos vivendo desta forma em todos os sentidos por aqui. Precisamos sorrir mais, brincar mais, levar as coisas menos a sério.

Ser paulista, hoje, é ser chato.

Eu não quero ser chato, não aguento mais ser chato.

Não vou pedir uma praia, sei que essa sorte não tivemos e, por consequencia, a natural integração social que ela oferece.  Mas talvez um pouco mais de responsabilidade nisso tudo e não apenas ficarmos apontando dedo.

Nós ajudamos. Nós não marcamos um chopp em 10 minutos. Marcamos na semana anterior. Nós precisamos esquecer o shoppping e irmos um pouco mais onde não tem teto, onde tem gente rindo e não necessariamente as pessoas da sua classe social.

É preciso integrar, sorrir, brincar e sim, ser mais irresponsavel.

O Anhembi reflete a sociedade, assim como Pacaembu, Morumbi e outros lugares onde uma festa com disputa vira uma disputa e nada mais.

Se a nossa cidade não nos oferece lazer integrado e barato, façamos algum esforço para encontra-lo. Talvez um chopp na segunda a noite com amigos num boteco pé de chinelo ajude a chegar em casa mais leve.

Talvez a rotina de chegar em casa cansado, se trocar, colocar outra roupa fechada e até o pescoço para ir num lugar fechado pagar 8 reais num chopp ajude a sermos tão azedos.

Dizem que somos a locomotiva do país e sim, somos mesmo!

Mas você sabia que a “locomotiva” é a parte do trem que não leva passageiros, que não tem entretenimento e nenhuma função que não seja “gerar energia” para os outros vagões?

Então…  Vale a pena?

Por um choppinho no pagode no fim do dia, de chinelo, camisa do seu time e sem medo de sentar do lado do pobre…

Quem sabe? Experimenta.

abs,
RicaPerrone

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Cara a Tapa

Gabriel David: “Se a Beija-Flor cair não haverá virada de mesa”

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Filho do bicheiro Anísio da Beija-Flor e atual manda-chuva da escola, Gabriel quer mudar o carnaval. E revela como é ser filho de um dos maiores contraventores do país.

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Carnaval

Santo de casa

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Lendas urbanas são especialidade do carioca. Todo carioca tem uma história de “terror” pra contar que impressiona quem é de fora. Faz deles mais “sobreviventes”, adaptados ao perigo.

Uma das que mais ouvimos é do acordo entre bicheiros na década de 80, comandado pelo Castor, eterno patrono da minha Mocidade, que algumas escolas não poderiam ser rebaixadas nunca. Especialmente com seus patronos vivos.

Era uma lenda. Ontem passou a ter segunda temporada.

Porque? Em 18 e 17 havia um argumento, goste ou não. Mas em 2019 não há. É meramente a virada de mesa pela camisa e ponto final. De forma nua e crua, sem contestação.

Vai ficar porque vai. Porque? Porque é a Imperatriz.

Luizinho está vivo. Faz todo sentido. Não se faz justo, até pela queda do Império. Mas faz sentido dentro da lenda urbana tão replicada pelo mundo do samba em seus bastidores.

Gosto? Não. Entendo? Sim. De alguma forma, sim.  A Liga é das escolas, e elas decidem o que querem pra sua Liga. Se acham uma escola indispensável, seja por política, acordo ou pelo show, podem fazer com que as regras mudem.

Podem? Podem. As regras são delas.

Lamento? Muito. O carnaval do Rio tem se tornado um pano de fundo pra show do Luan Santana, mega camarotes de promoters celebridades, uma playboyzada que nem sabe o que está fazendo lá e um viés político idiota que nada acrescenta.  Com as viradas de mesa torna-se ainda menor a credibilidade.

Mas cá entre nós, qual a credibilidade do carnaval carioca? Em que momento de sua história ele precisou ou fez uso disso pra ser o maior espetáculo da terra?

Compramos esse evento sabendo quem estava por trás a vida toda. É um óbvio sistema onde o contraventor usa a paixão da comunidade para conquista-la, a TV compra, se torna parceira comercial, alivia pra contravenção e todo mundo sai feliz.

Quem não sabe disso?

Não gosto. Mas daí a me espantar com a decisão vai uma distância…

RicaPerrone

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Carnaval

Marielle não tem culpa

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Como a gigantesca maioria das pessoas de todo país, eu nunca tinha ouvido falar em Marielle. Quando ela morreu achei que foi um crime contra um ser humano. Não me importei com o fato dela ser de esquerda, negra, gay, mulher, usar rosa ou azul, ter cabelo liso ou ondulado.

Com os dias fui entendendo que ali nascia uma lenda socialista para uso indevido de seus pares políticos.  No enterro houve hino do socialismo. Em volta bandeiras vermelhas. E nas passeatas “pela paz” havia ideologia e campanha política. Isso gerou uma puta rejeição a uma parte das pessoas e também compreendo.

No carnaval Marielle foi citada em alguns lugares e será eternamente porque é uma representante recente da esquerda e de outras diversas pautas que não divergem entre lados, embora a esquerda tenha se apropriado de algumas brigas.

A Mangueira não fez enredo sobre Marielle. A citou. São coisas diferentes.

A Vila cita Martinho há 200 anos, ele visita o Lula na cadeia e é um petista declarado há décadas. A Beth Carvalho também é uma petista assumida, sempre citada na Mangueira. E ninguém deixou de cantar ou curtir a escola por isso.

O enredo da Mangueira cabia Marielle. A rejeição a Mangueira por cita-la é um erro, embora eu compreenda o sentimento. Mas de perto, conhecendo como conheço o carnaval, posso lhes dizer que se trata de um ambiente de gays, negros e pobres em sua maioria. E portanto eles tendem a ir pro lado que se apropriou a luta deles: a esquerda.

Eu não posso odiar Jesus Cristo por ter um bando de imbecil enchendo o saco com o nome dele.   Você não é responsável, ainda mais morto, pelo circo que fazem a sua volta.

Sim, Marielle se tornou a bandeira da hipocrisia nacional. Vide uma escola de samba que até outro dia era comandada por um criminosos ligado a traficantes e milicianos homenagear a vítima de quem fez guerra contra isso.

Mas o importante é reafirmar:  a Marielle não está fazendo nada disso. Ela está morta. Quem está fazendo show sobre caixão são outras pessoas. Quem usa droga e vai na passeata contra traficante é outra pessoa.  Os políticos que fazem discurso sobre o partido usando o corpo dela, são as piores pessoas.

A Mangueira fez o que sempre faz. Exaltou seu lado. Hipócrita? Claro! Quem não é nesse país quando abre a boca? A Tuiuti adotou um lado político pra sair do papel de figurante. É um procedimento simples e midiático em ter 30% da população engajada do que 100% dela te ignorando.

Se radicalizar pra um dos lados é mais notável do que o bom senso de centro que vê problemas e qualidades em ambos. E na dificuldade de se destacar com bom senso, se faz o show para um dos lados.

Marielle tinha boas causas. Não sei se ela “faria” o que estão fazendo com ela. Mas não podemos odiar a pedra porque a atiraram na gente. Quem atira é o problema. A pedra é só a pedra.

As causas citadas no enredo foram “roubadas” por um lado político. A estratégia dessa gente é exatamente se apropriar de lutas e classes para “obrigar” certas pessoas a estarem junto deles. É como nascer num lugar. Você é obrigatoriamente “paulista”, “carioca”.  Eles fazem isso para que você sendo mulher, negro, gay ou nordestino seja imediatamente de esquerda.  Alguns escapam, outros não.

E por isso Marielle é a bandeira deles.

Mas insisto: ela não tem culpa.

Fernando Holiday, negro, gay, de direita, sofreu um atentado a bala no seu gabinete com possibilidade enorme de ter partido de um grupo político, já que do lado de fora havia manifestação destes.

Você viu algo sobre?

Nem eu. Mas é Brasil, irmão.

Aqui o esquema é ruim só quando a gente tá fora dele. E a bala só doi se matar. Desde que mate um dos meus, é claro…

RicaPerrone

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