Futebol

10 motivos pra odiar os pontos corridos

Eu sei que discutir isso é perda de tempo mas meu trabalho é basicamente perder tempo com argumentos sobre coisas que ninguém quer refletir por já ter uma opinião formada. Essa eu mudei, pois fui defensor dos pontos corridos até 2008, quando meu time venceu pela terceira vez seguida.

Hoje sou alguém que trocaria esse formato por quase todos os outros. Por alguns motivos simples de explicar.

Não, ele não é justo. A idéia de jogar todos contra todos e ter o melhor é uma falácia quando nos jogos finais e portanto mais decisivos e importantes você enfrenta times de férias e outros entregando os pontos. Justo é perder sendo melhor porque é do jogo. Ser favorecido por jogos que “não aconteceram” ou prejudicado por eles é manipulação conceitual.

Os olhos não estão no campeão. Sábado passado o continente viu o Botafogo ser coroado como deve ser. Ontem 15% das pessoas optou por isso. Todos sabiam o resultado e a briga pelo rebaixamento, também envolvendo times de férias e portanto manipulando o conceito de todos contra todos era o foco. Num evento de entretenimento pensado os olhares estão sempre em massa pro vencedor, pras cenas memoraveis e pro imponderável. No nosso eles vão pro óbvio, pro resultado armado e escondem o vencedor.

Não há muitos campeonato de pontos corridos que tenham terminado sem o discurso de esquema de arbitragem. A idéia de que um erro na final pode gerar isso é mentira. Você tem raríssimos campeões em finais contestados e quase todo ano o campeão dos pontos corridos é cobrado pelo vice por erros grotescos durante o torneio. Trocou-se o erro decisivo por 20 erros com suspeita de manipulação.

É inaceitável que você jogue 38 rodadas para no final depender da “sorte” do adversário do seu rival estar de férias ou ser seu rival para entregar o jogo. Isso por si só deveria invalidar esse conceito de campeonato.

Calendário. Todos os times do Brasil disputam mais de uma competição. De modo que o mais regular nao significa o mais brilhante. Título procura brilhantismo e não regularidade. Espetáculo nenhum (e o futebol é um espetáculo) vende pra ser regular. Todas as nossas memórias sobre futebol estão no gol do titulo, o jogo do titulo, a final e não naquele periodo de 9 meses super regulares de muito consistencia. Dar aos clubes a idéia de ser campeão porque o calendário te deu a sorte de usar reservas em jogos fáceis ou não é um erro brutal contra a honestidade da disputa.

Desequilibrio – Se eu falar que o Botafogo vai jogar o Brasileiro contra 11 grandes fora de casa e o Vasco contra 9 você aceitaria esse formato de véspera? Não. Então porque você aceita que na disputa entre eles um dos clubes pegue 2 grandes de férias e o outro não e termine o ano dizendo que “foi todos contra todos e venceu o melhor”? Nunca foi todos contra todos. Você depende da sorte pra saber em que momento pega quais times e sob quais interesses.

Todos os olhos tem que estar no campeão. Nos pontos corridos só quem vê o título é o torcedor envolvido. Os outros estão vendo seus jogos com seus interesses menores em disputa. Isso é um erro conceitual.

Discutir futebol enquanto competição é para os comentaristas, treinadores e jogadores. Quem cria e molda o evento deve pensar no evento em si. E não há qualquer argumento para justificar que o evento regular de 38 jogos será mais atrativo do que decisões no final com momentos épicos para serem eternizados no futebol. Ou será a toa que os EUA fazem todos os seus eventos com finais sendo os reis do entretenimento mundial?

Outro argumento que adoro é “já tem mata-mata”. Ok, então se você puder comer 7 refeições boas na semana você come uma ruim na quinta por já ter outras 6? Que sentido faz optar pelo pior podendo ter o melhor todo dia?

E finalizando, é broxante. Os campeões tem dia de festa marcada e não de decisão. Esse ano ainda calhou de darmos a sorte de Palmeiras x Botafogo jogarem perto do final. Mas quase invariavelmente a decisão se faz num estádio qualquer com um dos times entregue e o campeão jogando pra cumprir tabela porque não há adversário.

Meus caros, o futebol é feito para nos tirar do eixo. Todo o resto é bobagem, inclusive os critérios técnicos da competição. Futebol é pra gerar memórias, fazer chorar, unir pais e filhos, criar grupos de amigos e nos tirar da realidade por algumas horas. Enquanto isso for a página dois e a primeira for a questão técnica, estamos tirando o futebol de Nelson Rodrigues e dando seus conceitos pro Juca Kfouri.

O que não me parece genial conceitualmente.

RicaPerrone

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