Botafogo

Eu queria ser botafoguense

Eu pensei em 200 temas pra esse texto. É minha primeira vez, tô um pouco nervoso. São 27 anos de carreira, 46 de amor absoluto e descontrolado por futebol. E nesse tempo todo eu só não escrevi ou falei sobre um grande título seu.

Eu me acostumei com seu pessimismo, com suas derrotas e sua frustração. Me adaptei a ter que te compreender quando não estava presente ou quando duvidava do impossível sem notar que o que chamo de “absurdo” você chama de rotina.

Eu senti, algum dia, pena de você, botafoguense.

E nessas últimas semanas eu entendi que não era pena, mas sim respeito por nunca ter sido testado como você. Meu amor é fácil, sempre foi. Nunca foi colocado a prova.

E depois de tudo que esses 130 anos registraram criando frases como “as coisas que só acontecem com você”, você me surpreendeu.

Porque eu esperava tudo do Botafogo, até mesmo o título. Mas eu não esperava que vocês fossem busca-lo. Achei que era um estágio da relação onde, talvez, se te trouxessem na porta de casa, vocês considerariam repensar.

E quando foi colocado a venda os ingressos eu fui um dos que não entendi muito bem o que estava sendo dito. Esgotados? O Botafogo? Porque? Como? Não é racional e nem instintivo investir de novo com tanta perda e tanta dor.

Os dias foram passando, os botafoguenses foram surgindo de bueiros e tomando a América, literalmente. Caceta, eles vão se expor de novo? E dessa vez em maioria? Porque?

Me senti entre o bom senso e a inveja. Por bom senso eu não faria loucuras por um clube que me frustrou tanto. Mas eu invejo imensamente quem agora está abraçado ao seu pai comemorando o que os dois acharam que não veriam juntos. Porra, tua Libertadores foi mais comemorada que as minhas.

Você tem duas formas de “vencer” uma briga. Ou você bate ou você apanha até o limite e se levanta pedindo mais um round. Os dois impressionam.

A toalha já foi jogada no ringue e você sempre chutou ela de volta. Já acabou, sai daí! Você vai se machucar, porra.

E você ficou. Burro, louco, masoquista, sei lá eu que porra é essa.

De onde vocês tiraram fé pra tomar a Libertadores de assalto? Porque foi isso. Vocês ganharam há 20 dias quando deixaram claro quem era o favorito e quem era o azarão. Vocês invadiram outro país, ignoraram os fatos e foram otimistas, sortudos, maioria…

Cadê meu Botafogo?

E agora eu não encontro palavras porque nunca as treinei. Passei 90 minutos olhando pra TV procurando o herói do jogo, o lance, a história pra contar. E nada, nem mesmo o monstruoso Luiz Henrique, me impressionou mais do que você.

A covardia me revolta. O que a vida faz com o botafoguense é covardia.

Precisava expulsar aos 30 segundos? Precisava. Porque você tinha que exorcizar o fantasma do “vai perder de novo”.

Precisava o gol do Galo no tranquilo 2×0? Precisava. Pra você confirmar que nem todo contratempo vai virar uma derrota sempre.

Precisava do gol no final? Sim, pra você ver que nem sempre será com o seu goleiro no chão.

O título do Botafogo teve vinte e poucos coadjuvantes e milhões de protagonistas.

Tendo a procurar quem te deu o título da Libertadores. Mas pra ser justo de verdade, “jogadores vem e vão”, e quem ficou foi você.

Cara, eu nem te conheço. Nem sei como você veio parar aqui nesse blog hoje. Mas saiba que te admiro, te respeito e de certa forma te invejo. Meu amor é frágil perto do seu embora seja também incondicional.

Mas nunca me deram condições pra testa-lo. Você teve todas, as mais dificeis, e agora “vai festejar”. Nao o meu sofrer ou penar, mas a sua impressionante capacidade de suportar o que talvez outros também suportariam. Mas que ninguém pode afirmar, só você.

Hoje eu queria ser botafoguense.

Parabéns. Vivam o melhor e mais justo dia de vossas vidas.

Rica Perrone

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