600 dias no Rio
Escrevi algo quando completei 1 ano no Rio de Janeiro. Depois, as diferenças entre paulistas e cariocas. Agora, já falando “sinistro” e “maneiro” sem notar, vou mandar o papo.
Eu disse que morava no Rio e logo que aquele texto fez sucesso meus amigos cariocas me corrigiram. “Você não mora no Rio, mora na Barra!”.
A Barra, meus caros, é um bairro do Rio de Janeiro. Pra quem vem de fora, é talvez o mais bonito lugar da cidade pra se hospedar. Pra quem mora aqui, a Barra faz fronteira com a Bolívia.
Não há frase mais assustadora pra dizer a um carioca do que responder um “onde fica?” com “Lá na Barra…”.
É a materialização da “casa do caralho”.
Nestes 235 dias após o primeiro texto, andei explorando melhor o estado. Fui a Búzios, e então descobri que nada pode ser perfeito. O lugar é lindo, as praias, idem. Até mesmo as simpáticas pousadas ou os luxuosos hotéis. Mas alguém jogou um argentino Gremlin naquele lugar e eles começaram a se multiplicar até transformar aquilo numa sub sede de Buenos Aires.
Búzios é fantástico. Mal frequentado, mas ainda assim, fantástico! Ao lado, um tal de “Arraial do Cabo”. Cidadezinha em volta é comum, quase feia. Até pegar chegar nas praias. Ali você descobre que Cancun fica a 100 km do Méier.
Notei também que aqui todo mundo é “irmão”, “cumpadre” ou “padrinho”.
E não pense que é uma forma abusada de demonstrar intimidade. Cariocas se conhecem. Isso é uma Vila onde moram cerca de 500 pessoas, o resto é tudo figurante.
Duvida? Adicione um carioca no seu facebook e veja os incríveis “50 amigos em comum”. Ou então fale mal de alguém e descubra, quando já revelou que o alvo é viado e sua irmã viciada, que eles estudaram juntos com quem ouvia.
Cuidado. O Rio é uma máfia de pessoas interligadas pelo passado que não te permite fazer algo que não passe a ser de conhecimento público em questão de dias.
Famosos? Aqui tem muito. Eles nem ligam, é quase normal. Mas pergunte de um famoso que tu vai ver… Todo carioca conhece alguém que conhece um famoso que jura saber um podre dele. E vão repetindo. Vai virando verdade. Lenda urbana.
O mais notável após estes 600 dias, porém, é a moeda local. Quando o jornal dá o dólar turismo, comercial e paralelo, devia dar o Real e o “Real Carioca”. Pois sim, eles tem valores diferentes.
Em qualquer lugar do mundo o dinheiro determina se você pode ou não pode. Aqui no Rio, o dinheiro é uma segunda opção aos contatos.
Eu explico.
Ninguém vai a lugar nenhum perguntando quanto custa. Cariocas perguntam quem vai estar lá. E então, tentam cavar um ingresso, um convite, um desconto. Se não conseguirem, pagam.
Mas pagam meia.
O Rio de Janeiro é o lugar mais educado do mundo! Sim, pois aqui todo mundo é estudante.
Contatos, no Rio, valem muito mais do que dinheiro. Quanto mais gente você conhece, mais possibilidades você tem. Se tiver muita grana, vão tentar te explorar. Se tiver muitos amigos, vai entrar de graça.
É quase melhor ser pobre do que rico. Só não chega a esse ponto porque os preços nesta cidade estão criminosos. Mas até nisso, há uma dose de lenda urbana.
Sabe o omelete de 99 reais? Então. Foi um caso isolado. Ele custa 25 na verdade.
Entendeu?
– No, i do not speak portuguese…
– Sem problemas, brother! Omelete is 99 reais! Vai?!
abs,
RicaPerrone