“Fred é o c…!”
Engenhão, quinta-feira, 06 de setembro de 2012. Véspera de feriado, liderança em jogo, adversário remendado, Fluzão com 2 desfalques importantes.
O renegado Engenhão acolhia os míseros 15 mil torcedores quase no mesmo setor, assim, juntos, faziam mais barulho. Lá estava eu, entre eles, atrás de um dos mais engraçados deles.
Meio careca, uns 35 anos, com sua esposa quase muda ao lado. Se sentou no setor leste inferior e esperou a bola rolar em silêncio. Não eufórico, nem nervoso. Apenas pronto para cobrar seu bom humor no feriado que vem aí.
Aos 5 minutos, uma boa jogada e ele se levanta. Ao sentar, fala baixinho: “Cone do caralho…”.
Era com o Samuel. Dali pra frente ele tentaria provar pra quem sentasse ao seu lado que aquele substituto do Fred não era digno da camisa que vestia.
Em mais alguns minutos ele levanta e grita: “Coloca qualquer um! Tira esse porra daí, Abel!”. Alugém responde: “E coloca quem, mané?!”. Insistente, ele diz: “Qualquer um! Qualquer coisa é melhor!”.
Gol de Wellington Nem. Festa, euforia, liderança.
Samuel erra mais uma, duas, três. Na terceira, novamente o corneteiro fiel da as caras. Em pé, desiste: “Não dá! Chega! Não dá! Tira esse cara, Abel!”.
O Santos empata. E pra ele, culpa do Samuel. “Tá vendo?! Fica com esse cone na frente e agora está empatado! Era pra estar uns 3….”.
Nem desempata. Ele vibra, beija a esposa, grita o nome do autor do gol e na sequencia, pra não perder a chance, vira pra trás e diz: “Porra, tá vendo?! É só fazer isso… Cone do caralho!”.
Entre risadas, o embalo de também xingar e a vontade de mandar calar a boca, o “careca” já era parte do jogo pra quem estava em volta.
Intervalo, o líder sai aplaudido. Ele não aplaude, está puto.
Bola rolando, só mais um golzinho e fim do sufoco. Ela não entra, o Santos assusta, ainda não dá pra xingar o Muricy.
Liderança, “chupa Ratão”, é muito pra uma só noite. Tudo ou nada, não haverá meio termo.
E ele ali, sentado, fazendo cara de “eu sabia que ia errar” pra todo lance do Samuel.
Até que o garoto abre na esquerda e recebe. Prepara pra cruzar, não é a dele, e bate…
“Nããão, filha da ….. GOOOOOOOOOOLLLLL!!!!!! Puta que pariu!!!!”, e abraça a esposa, o amigo, o desconhecido, a cadeira, o amigo imaginário e a si mesmo.
Sem jeito, eufórico, feliz, perde a razão, o argumento, a tese e a noção futebolística. Mas nunca o direito de ser um torcedor irracional movido apenas a paixão.
De braços abertos, olhando pro campo, com ar de líder do campeonato, grita pra quem quiser ouvir: “Fred é o caralho!!!”
Não é. Mas naquele minuto, era. E basta.
abs,
RicaPerrone