A terceirização do caráter
Uma vez meu avô me disse que “ser homem é saber dizer não”. Eu demorei um tanto pra entender o que ele queria dizer, mas acho que aprendi.
Claro que sua intenção era que eu soubesse que é muito mais “firme” aquele que recusa a maconha na escola do que o que faz o que todos fazem. Mas seu conselho ia além, mesmo que involuntariamente.
Hoje mais um jogador de futebol foi alvo de racismo. Um imbecil qualquer gritou, em meio a milhares: “Macaco!”. Pronto, tornou-se um anônimo terceirizando crime.
Quem paga? O clube. O estádio. A torcida. A história. Mas ele, não.
É como quando um jovem mata 10 pessoas num shopping e a culpa é do video game, não mais dele e de seus pais, que eventualmente não notaram o serial killer que criavam em cativeiro.
Ou quando inventaram as justificativas psicológicas para todo e qualquer fracasso humano. Ser um imbecil era motivo de punição, hoje é motivo de estudo. Mais importa o que o levou a fazer merda do que mandar que ele limpe.
Torcidas respondem por marginais. Partidos por políticos ladrões, clubes por torcedores, empresas por funcionários e seguimos escondendo nosso caráter atrás de algo maior.
Ninguém é responsável por nada. É a era dos poréns.
Ele matou, “porém”… a culpa é do preconceito, do racismo, da sociedade, da polícia, da mãe dele, do tio, do amigo que fez bullyng na terceira série, do pai ausente e, por fim, também dele.
“É a influência da mídia”. “Os games violentos”. Como se todas as crianças do mundo estivessem atirando passarinhos em porcos verdes entre tábuas.
Nos eventos de grande porte pessoas bebem além da conta e as vezes cometem erros. Culpa da bebida. Então, a proibimos.
Como algumas pessoas não conseguem controlar o impulso de jogar até ir a falência, proibimos o jogo.
Num cenário moderno um tiro é culpa da arma, não de quem apertou o gatilho. Afinal, sem a arma, ele jamais atiraria. Mas e sem o autor? Ela seria disparada?
Somos tratados como imbecis, e assim nos acostumamos.
Se eventualmente você achar que escrevo um monte de absurdos neste blog, me ofenda numa rede social qualquer. Não é você que é estúpido e mal educado.
A culpa é da internet.
abs,
RicaPerrone