Favela Municipal do Corinthians
Que o Corinthians é o time do povão em São Paulo ninguém discute. Que sua casa é o Pacaembu, alguns teimam em contestar.
O bom filho vai se mudar. Forte, grande, independente, não precisa mais da casa dos pais. E não é porque sua nova mansão lhe promete muito mais que algo possa substituir sua velha e saudosa maloca.
Sim, “maloca”. Querida.
Um estádio com alma alvinegra mesmo que o mais recalcado palmeirense tente contestar. É a casa de todos, mas especialmente do Corinthians.
E não me diga que é “alugado”, “emprestado”, nem mesmo patrimonio publico. O Pacaembu foi feito para ser de todos, mas os corintianos fizeram com que fosse quase que “só deles”.
Eu sei, eles também sabem, que muita gente jogou e teve glórias ali. Você também sabe, é diferente.
A “casa” do povo era alugada. E daí?
O futebol brasileiro caminha para uma nova era, cheio de arenas, dinheiro, “produtos”, filósofos de terno e gravata, managers… Não tenho nenhum temor em afirmar: Igual ao que foi vivido neste Pacaembu, jamais!
Talvez melhor, pior. Parecido com isso, nunca mais.
Nunca mais uma Libertadores será como aquela contra o Boca. Podem vir mais 20, sem chance. Não existirá sensação mais “filha da puta” no mundo do que perder um jogo e ter que subir aquela ladeira pra chegar no metrô.
Aquele cantinho onde você ficava, o tio do pernil, a rua em que encontrávamos os amigos. O jeito bom de estacionar, o esquema pra chegar na hora certa. O jeito de entrar e sair que te fazia especial em meio a multidão.
E nem acabou. Ainda vai haver muita história por ali. Mas a mais bela delas todas foi escrita pelo corintiano.
O Pacaembu foi, por todos estes anos, o grito de orgulho da periferia em meio a mais nobre área da cidade. Uma “favela” cercada de caviar e champagne.
A maior inversão social da cidade acontecia toda semana sem que ninguém notasse. Porque corintiano é tudo pobre? Não! Porque do portão do Pacaembu pra dentro não existe mais pobre e rico. Existem apenas “corintianos”.
E dali, daquele buraco alvinegro de toda semana, um som surgia alto pra dizer pro mundo que havia “festa na favela”. Que eram “maloqueiros”, “sofredores”.
“Graças a Deus”.
abs,
RicaPerrone