Blá, blá, blá…
Faz quase 3 meses. Desde aquele dia a imprensa esportiva brasileira já delirou nas mais absurdas teses sobre o “porque” e já decretou o fim do nosso futebol. O povo repete, pois é assim que funciona. E ganha eco, aumenta, se transforma em verdade absoluta.
Eu passei os últimos 3 meses conversando. Jantei com dirigentes, treinadores, jogadores, gerentes da base, ex-técnicos de seleção, até chegar a algum lugar. E acho que hoje, sem a frustração de uma derrota na cabeça pra querer destruir tudo, posso dizer com mais calma o que entendi.
Senhores, o futebol brasileiro não é uma merda e nem está falido. É mentira, e das grossas. Somos, na verdade, uma ilha de prosperidade em meio a um continente falido. Somos, talvez, o único futebol do mundo que sobrevive com altas receitas sem contar com os vizinhos. E quando nossa receita é 5 vezes maior que a média do vice-campeão mundial, eu sou obrigado a tirar a seleção como parâmetro.
Afinal, os que acham que a seleção brasileira perder de 7 é um reflexo do futebol interno acham o que sobre o futebol inglês?
Entendi…
19 jogadores que atuam na europa com um treinador que está lá há 10 anos não tem como estar refletindo nada daqui. Se essa seleção fracassou foi por pressão, tática, técnica, o que for. Mas não porque o campeonato brasileiro é isso ou aquilo.
Pois vamos tratar de tudo isso em etapas. Mas vamos começar do “nível ruim”?
É bom registrar que temos internamente o terceiro melhor campeonato do mundo. E se nosso nível é ruim, acho que temos um problema no futebol mundial e não no nosso apenas. Ingles e Alemão são melhores. O resto, abaixo.
Você é covarde quando rotula ou comparara nosso futebol. Vai logo no Real Madrid e comparar com um dos nossos. Não há comparação. Mas a Espanha tem 2 times, a França tem um. Nós temos 12. E nossa comparação tem que ser feita pelos campeonatos NACIONAIS deles, não pela Champions. Ou é problema nosso também termos um continente falido a nossa volta?
A questão que quero tocar hoje é no jogo dentro das 4 linhas.
Há uma diferença cultural brutal entre o brasileiro e o europeu que sempre nos deu vantagem em campo. Mas com a evolução física e tática do futebol, inverteu. Hoje é mais interessante um volante inteligente de técnica comum do que um jogador genial não tão rápido.
Assim, com a mediocridade estabelecida como padrão, o futebol se tornou um jogo rapido, onde errar menos é o objetivo. Europeus tocam a bola de lado até terem condições de tentar algo mais arriscado. Nós tentamos no primeiro lance uma bola que resolva o jogo.
Não há jogador brasileiro que consiga receber e tocar fácil sem antes pensar se ele poderia ou não ter feito algo diferente. Não porque somos piores, mas porque nos criamos assim. Quando garotos não recebemos aplausos dos nossos pais por um toque curto, mas sim por uma sequencia de dribles. Isso é cultural, não se muda com uma canetada ou com uma troca de poder na CBF.
Os europeus simplificaram o jogo na certeza que não poderiam nos vencer na base do improviso. E então, diminuiram o campo, os espaços e aceleraram o jogo até que houvesse uma dificuldade pra nós.
Como você diz pro Robinho, magrelo, driblador, individualista e genio, que agora na Europa ele tem que aprender a tocar de lado pra não perder a bola? Como você ensina uma geração toda a não arriscar tão cedo pra poder agredir com mais gente? Como se ensina futebol pela segunda vez numa mesma vida a um jogador?
É fácil olhar Manchester x PSG e achar nosso futebol uma merda. É brasileiríssimo a reação de detonar tudo que é nosso. Mas tentar entender como, porque e de que forma isso vai ser mudado, nem tanto.
Os times brasileiros após a Copa já seguram mais a bola. Já tocam mais no chão e devolvem menos a bola. Longe ainda do que se pratica lá, mas já notaram a mudança e já começaram a fazer.
Copiar o europeu é burrice pois se fizermos isso vamos perder. Nosso garoto vem da favela cheio de ginga, o deles vem da universidade. Se igualarmos o tipo de futebol, vamos privilegiar o loirinho de olhos claros do papai rico, e com isso vamos desequilibrar pro lado de lá.
O futebol muda o tempo todo e esse é um momento em que acharam uma forma de equilibrar o jogo conosco. Em seguida vem a nossa forma de driblar isso, depois a deles de igualar, e assim vai.
A tal “crise técnica” é mundial e basta lembrar que há 4 anos assistíamos a uma Copa terrível, e há 8 uma ainda pior. Nesta, por melhor que tenha sido, a vice-campeã não jogou futebol. E a quarta colocada, segundo os nossos criticos, fez um trabalho horrível.
Resultados não determinam exatamente tudo que foi feito e menos ainda a distância entre o vencedor e o vencido. Nós temos que encontrar um meio termo onde devolva-se menos a bola, mas que ainda seja fundamental o improviso brasileiro. Ou então viraremos europeus, e então, perderemos pra eles.
A bola no chão. O passe mais simples. O jogo menos acelerado.
Já há uma mudança. E o 7×1 não significa nem 10% do que estão dizendo pra você. Os nossos problemas são os mesmos de 2002, quando eramos reis. E serão os mesmos daqui a 10 anos, caso não mudem o discurso pronto, simplista e barato.
abs,
RicaPerrone