Já havia amanhecido quando o primeiro rubro-negro disse para o outro que “era a cara do Flamengo perder esse jogo”. Despedida do Léo Moura, o rival rebaixado, valendo liderança, aniversário da cidade, o time de maior torcida, estádio cheio.
Tudo indicaria uma vitória do Flamengo não fosse este o Flamengo.
E de rara fé explícita, os botafoguenses caminhavam em direção ao Maracanã sabendo ter neste momento difícil do clube uma arma para buscar a vitória.
Nada é tão convidativo quanto jogar um clássico na condição de “não favorito”. E eles sabiam. Tal qual os rubro-negros, que era absolutamente possível imaginar um contra-ataque que resolvesse a partida mesmo com toda aquela posse de bola dizendo que não.
A bola rolava, o Flamengo mandava, o Botafogo nem sequer jogava. Um primeiro tempo de deixar qualquer pessimista com razão. Mas então, “todos sabiam”.
O rubro-negro virava o intervalo dizendo: “Tinha que ter matado essa porra…”. E o botafoguense enxergava na não derrota até ali uma oportunidade única de vitória.
“É a nossa cara”, diziam ambos.
Se fizesse ou tomasse o gol, os dois tinham o discurso na ponta da língua. Afinal, um gol aos 40 do segundo tempo “é a cara” do Flamengo. E sofrê-lo, favorito, na despedida de seu capitão, idem!
O que também não tirava da cabeça do botafoguense que era “a cara deles” tomar um gol no fim, tal qual surpreender e vencer o jogo num lance qualquer.
Até que quando o Maracanã todo já estava em pé para saber enfim o que de fato “já saberia” no final do jogo, Tomas dá um chute de fora da área e a sequência é “óbvia”. A bola bate na trave, no goleiro, e entra.
Todo pessimista botafoguense “sabia” que ela ia entrar. E o mais otimista dos rubro negros “havia cantado a pedra” no intervalo.
Era o gol dos discursos prontos. O final dramático e surpreendente de um filme onde todos diziam saber o final.
Aquele gol era do Flamengo. Não por mérito, tática, técnica, analise. Mas porque se eu te encontrasse após o jogo e contasse que um dos dois times fez o gol da vitória aos 40 do segundo tempo batendo na trave, no goleiro e entrando, não…você não acertaria.
Mas o Tomas acertou. E todos aqueles que mudaram de idéia sobre o óbvio final que a partida teria por 90 minutos, também.
abs,
RicaPerrone