O Wendell Lira que há em nós
Quando aquele garoto subiu ao palco pra receber o prêmio de gol do ano nós nos sentimos premiados. Mais do que se Neymar fosse o vencedor até.
Costumo afirmar sem medo de errar que brasileiro não gosta de esporte nenhum. Ele TORCE num esporte. É o meio encontrado de vencer numa vida onde culturalmente somos obrigados a perder.
Você não pode perguntar pra um brasileiro se está tudo bem e ele te dizer que sim, que tem dinheiro, saúde, que sua carreira vai bem. É ofensa. Ele precisa se colocar numa situação de “fodido” para igualar a maioria e não parecer arrogante.
“Não tá facil pra ninguem”, né? Frase padrão.
Quando Lira, um jogador “fodido” sobe naquele palco contra tudo e todos e ostenta a vitória do pobre e improvável, ele dá a todos nós o gostinho que o esporte nos dá quando vencemos. Não somos nós, mas é como se fosse.
Ele era o improvável, como você talvez seja. Ele era o menos cotado, como talvez muitos de nós sejamos dentro de nossas próprias casas ou empresas.
Lira é a vitória dos humildes. Num país onde ser humilde significa não assumir sua vitória mesmo quando ela for clara, Lira naquele palco representa o sonhado minuto de fama de todo brasileiro anônimo.
Como Lira, que agora não será mais anônimo. Nem craque.
Será um brasileiro mediano que esperou uma bola pra vencer na vida. Não venceu, não ficará rico, não será craque de time grande. Mas sentiu o gosto.
E é esse o sonho brasileiro. Tal qual o “sonho americano” é o padrão de uma casa, dois filhos, um emprego e um carro, o nosso são 15 minutos de fama por uma bola que pegamos na veia.
Wendell foi mais Brasil do que Neymar seria ontem. Porque Neymar é um sucesso, Lira é como nós.
Jogasse num Palmeiras ou qualquer time grande, o gol nem seria tão bonito. Mas foi num estádio vazio, no campeonato goiano, sem qualquer glamour.
Afinal, “não tá fácil pra ninguém”.
abs,
RicaPerrone