Sem bola

Porque eu não luto contra o preconceito

Lá vem um grupo de cariocas! “Povo feliz e maneiro”.

Lá vem um sambista! “Um cara maneiro, simples e do povo. Tipo Zeca Pagodinho”.

Tenho um amigo japonês. “Um cara mega disciplinado e muito inteligente”.

Tudo isso é preconceito. E não é contra isso que lutamos, meramente porque não há ninguém discriminado nestes casos.

Se um ser humano ou um animal qualquer for atacado 3 vezes por alguém de amarelo, na quarta vez que alguém passar vestindo amarelo ele vai olhar torto. É instintivo, natural. Se ganhar flores de 3 japoneses, quando ver o quarto seu instinto lhe dirá que ali não há perigo. Não me incomoda em absolutamente nada aceitar que somos humanos e portanto podemos cometer erros, inclusive os de avaliação.

Acredito que o ser humano seja preconceituoso por instinto o tempo todo. O que eu tenho que os animais não tem é o poder de, entre ser preconceituoso e discriminar, ter o equilibrio de parar pra refletir por 1 segundo,

A “luta contra o preconceito” é algo que me confunde. Porque o preconceito pode ser bom, e contra esse ninguém luta. Logo, a luta nunca foi contra preconceito algum, mas sim contra a má reação a este preconceito. Ou seja, contra a discriminação.

Eu acho japonês inteligente. Acho negros mais aptos ao esporte. Acho cariocas mais sensuais. Acho que todo petista é meio sem noção.

Preconceito.

Alguma luta contra isso? Ou melhor, alguma possibilidade de se impedir isso dentro de uma mente humana? Sabemos que não. Entre o que achamos certo e errado há o que sentimos e contra isso não podemos lutar.

Podemos coibir atitudes que façam uso do preconceito negativo para discriminar alguém. Aí sim, temos uma causa.

Ou você fará algo contra o preconceito que eventualmente lhe traga benefícios? Sim, existe. Tem coisas que você não nota mas por alguém estereotipa-lo, lhe ajuda. E nesses casos, “ta liberado” o preconceito.

Eu sou gordo, há muitos e muitos anos. “Sofro” com preconceito o tempo todo com a brutal diferença de não dar a mínima pra isso. Tem gente que se ofende, tem gente que não. Eu sou dos que não se ofende.

Tem também a diferença entre eu ter te ofendido e você se sentir ofendido. Uma coisa não necessariamente leva a outra.

Vivemos num mundo hipócrita pra cacete, que escolhe alvos para massacrar e se passar por isso ou aquilo. Exemplifico fácil com 2 casos que tem menos de uma semana:

1- Ataque terrorista na África. Mais mortos que em Paris. Alguém ouviu falar ou colocou bandeirinha?

2- Atlético MG lança camisas com mulheres de biquini há 3 anos. Deu ataque feminista dessa vez. Ok, bons argumentos. Concordo que o mundo seja como elas sugerem. Mas … a F-1, o UFC, todo sábado e domingo passam batido porque? O Galo paga a conta do mundo por ter sido o escolhido?

Aí você sufoca a pessoa que acha A porque ela não pode DIZER que acha A. E então você massacra, oprime, ridiculariza e gera nela não uma concientizaçao sobre o tema, mas um “medo” de dizer o que pensa.

Note: Ela ainda pensa aquilo. Só que agora tem raiva de quem não pensa e o proibiu de dizer.

Senta numa mesa de bar, depois veja as redes sociais das mesmas pessoas e perceba a brutal diferença de discurso. Isso é medo, não mudança de consciência.

Fosse eu uma minoria alvo de alguma discriminação qualquer, juro que não me sentiria satisfeito em impedir as pessoas de manifestar seu preconceito sabendo que elas ainda o sentem. De que adianta proibir e gerar uma polarização quando o que buscamos é entendimento e não censura?

“Ah mas é assim que mudamos as coisas!”. É? E você acha que o Bolsonaro, radical, é líder de pesquisa pra presidente porque? Porque as pessoas estão enfrentando uma guerra de extremos ou porque estão sendo colocadas para ponderar seus valores?

“É porque brasileiro é burro!”. Ei! Olha o preconceito…

A questão pra mim é muito simples, embora vá causar polêmica pelo simples fato de ser uma opinião não convencional num país onde ser mudo, sorrir pras massas e dizer “amo vocês” pro publico signifique retorno.

Se quando preconceito não ofende não nos incomoda, lutamos contra discriminação e não contra preconceito. Se proibirmos alguém de discriminar na base da porrada, vamos gerar mais cidadãos revoltados e com mais ódio ainda daquilo que ele já discriminaria antes do massacre.

Conclusão: Não fazemos ninguém mudar o pensamento, mas sim a atitude. E não fazemos com que mudem a atitude por vontade própria, mas sim por medo da reação alheia.

Se você fosse (e talvez seja) uma minoria qualquer vítima de discriminação, me diga: Você prefere que as pessoas deixem de pensar o que pensam sobre você ou que apenas se calem por medo?

Evoluímos quando mudamos o que pensamos e por consequência as nossas atitudes. Nunca o contrário.

abs,
RicaPerrone

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