A teoria do ingresso caro
Eu conheço dezenas de dirigentes de clube. Alguns honestos, outros nem tanto. Alguns com noção, outros nem tanto. Mas não conheço nenhum que consiga unir o conceito profissional de um negócio com o entendimento de que vende-se paixão e não um ingresso e camisas.
Talvez seja mesmo impossível pro sujeito apaixonado por um clube entende-lo como negócio, tal qual para um profissional sem envolvimento algum entender seu trabalho como paixão. Meu ponto atrela os dois lados e por isso é confuso. Mas é o que considero razoável numa gestão de futebol.
Você sabia que proporcionalmente ao salário médio, o Brasil tem o ingresso de futebol mais caro do mundo?
Porque é caro?
Diz o dirigente imediatista, necessitado de números para a eleição de daqui 2 anos, que para pagar as contas ele precisa cobrar mais caro.
Porque não deveria ser?
Porque existem dois tipos de torcedores de futebol. Os que frequentam estádio e os que acham que conhecem o que o futebol pode nos causar. O segundo nunca será um consumidor fiel e apaixonado como o primeiro. E ao tira-lo do estádio você não apenas interrompe a sequencia natural da sua gente como começa a perde-la pra times de fora que, pela tv, causam o mesmo que você em qualquer um.
E há uma lógica simples no consumo de qualquer produto. Não me importa o quanto o estabelecimento precisa faturar. Me importa o quanto o produto vale pra mim. Ou você iria a um restaurante que dobra os preços e diz: “A comida é a mesma. É que estamos precisando faturar”?
O que é assustador?
Você vende futebol no estádio pra quem tem 60 reais, no mínimo, por um ingresso. Só classe A e B, convenhamos. Mete esse povo na Arena, vende cerveja a 10 conto, leva 500 mil pra casa no fim do jogo e em dezembro negocia sua maior receita: direito de tv.
A tv passa o jogo e durante o jogo se comunica com o torcedor comum. Nela, anuncia Audi? Conta Premiere do hsbc? Ou anuncia cerveja, pré pago de celular e Ricardo Electro em 12 vezes sem juros?
Então, meu Deus, porque diabos o dirigente acha que ele está fazendo um bom negócio tirando do consumidor que mais lhe rende dinheiro a paixão pelo futebol e dando a uma minoria mais rica a falsa idéia de que eles podem te bancar a médio prazo?
Quantos torcedores fanáticos e incondicionais tem um clube grande? 200 mil? 300? Ou você cai na pilha dos x milhões, considerando que 90% destes respondem o time e não sabem nem quando joga? Esse cara não é consumidor. Mas poderia ser, não tivessem fechando as portas pra ele.
O conceito
Quando você cobra 60 reais no mais barato, você diz pra maior parte do povo que ele NÃO PODE IR AO JOGO. Ou seja, ele não está apto a frequentar aquele evento. Isso é entendido de uma forma na cabeça do sujeito.
Quando você vende 10% do estádio que seja a 20 reais, você diz pro cara que ele NÃO CONSEGUIU INGRESSO, o que é completamente diferente de exclui-lo. A sensação do cara é de tristeza, não de abandono.
É dentro de um estádio que o sujeito vai deixar de simpatizar pra amar o clube dele. E quando você não abre essa porta pra que a grande maioria do povo faça isso, você está sendo imediatista, egoista e péssimo gestor de paixão.
Ninguém vai na Disney porque é o melhor parque. Nós vamos lá porque amamos a Disney desde sempre. O melhor parque é a Universal, e por ele pagamos pelos brinquedos e só. Pela Disney pagamos por ser Disney. E pelo clube pagamos não pelo espetáculo apenas, mas por ser nosso clube de coração.
Enquanto os novos dirigentes de futebol venderem tv a cabo, ingresso e Socio torcedor sem entender porque diabos alguém consome aquilo, vamos sempre fechar o mes apertado tendo que vender algo mais pra caber no orçamento.
Futebol gera paixão, que então vende produtos. Vender produtos e esquecer de fomentar a paixão é suicídio.
abs,
RicaPerrone