Faz 20 anos. Era carnaval de 1997, meu pai me levou pela primeira vez à Sapucai. Eu gostava, via pela tv, decorava os sambas mas nunca tinha visto de perto.
Eu já era Mocidade. Acho que sempre fui.
Naquele dia eu descobri algo pelo qual me apaixonaria e nunca mais conseguiria largar. Era um ingresso só pra domingo, mas que evidentemente na segunda-feira eu gastei minhas economias para comprar de um cambista e voltar a Sapucaí.
São 20 anos. Eu deixei de ir em alguns deles por compromissos, dinheiro, problemas pessoais. Mas de maneira geral, são 20 anos de Sapucaí.
As vezes as pessoas resumem tudo aquilo a um festival de bunda e gente dançando. Eu fico constrangido.
Só para alguem muito ignorante o fato de haver uma inversão social como o desfiles das escolas, onde a comunidade vira a estrela e o “patrão” o fã, é “bobagem”.
Só sendo bem superficial para não entender a beleza que há em uma “disputa” de 3 mil componentes de comunidade contra comunidade em absoluta paz, tocando gratuitamente o ritmo do nosso país e contando numa musica e num desfile a história de um escritor, um poeta, uma cidade, algo assim.
Não é possível que ver a velha guarda desfilar não te diga nada sobre a vida. Não quero crer que aquele choro de milhares de pessoas na hora de um grito de guerra te passe como um mero “berro” a troco de nada.
Tem que ser pequeno demais pra não enxergar nada disso e ficar na bunda da Sabrina Sato que, aliás, é também maravilhosa.
“Ah mas o contraventor…!”, pára! Ele está ali sim, mas ele não é maior do que a mobilização de 3 mil pessoas para levar o nome da sua comunidade pro mundo em forma de samba. Há algo errado em tudo que é belo, e há beleza em tudo que é errado.
Lá se vão meus 38 anos de vida. E eu sou o típico cara que não sabe construir nada. Eu não tenho nada guardado, mudei de casa 9 vezes nos últimos 13 anos. Me casei e separei duas vezes, fiz festa em ambas. Me arrependo da forma que gastei meu dinheiro até hoje.
Mas se um dinheiro que gastei na vida e não trocaria nada para tê-lo de volta é o dos dias de Sapucaí.
Se é pra ser feliz que vivemos, e se trabalhamos para viver bem, eu não posso sugerir a idéia de renegar o melhor investimento em alegria que já fiz na vida.
A Sapucaí é a maior contradição do planeta. É o único lugar do mundo onde o pobre é estrela, o rico platéia. É o único momento onde o brasileiro deixa de ser vira-latas e se torna orgulhoso do que faz. E é o maior momento que prova que vir de baixo e passar dificuldades não torna ninguém bandido.
Vou sorrir por 4 dias sem relógio, sem hora pra voltar, sem ninguém pra me aborrecer. Apenas abraços para distribuir, amigos pra rever, música boa pra escutar, mil motivos pra me emocionar e muitas escolas para se orgulhar.
É só uma disputa? Não, nunca foi. É uma festa, uma confraternização, um momento onde nos permitimos sair do chão por 4 noites para sermos, de fato, felizes.
Obrigado por dividir comigo quem também ama. Um abraço pra quem não entende, não gosta e reclama.
Feliz carnaval!
abs,
RicaPerrone