O canalha
O incompreendido sujeito de boa índole que na boa fé de não ser honesto para evitar magoas, leva uma fama ruim.
O canalha, meus amigos, é pingo de honestidade que há num bom homem sem rumos.
Aquele que experimenta e para evitar o desconforto de avaliar negativamente a moça, desaparece. E ao desaparecer, logo ganha o rótulo: “Canalha!”. Quando na verdade, perceba, ele só quis ser elegante.
“Canalha” também é aquele que por instinto tem mais de uma e não assume nenhuma. Mas veja a sinceridade que há em “não assumi-las” neste ser que, evoluído, poderia escolher e opta pela solidão oficial.
O homem que trai não é “canalha”. Porque canalha que é canalha nunca foi pego. E portanto, não traiu.
Quem o viu, mentiu.
O feminismo quer acabar com a nossa safra já enfraquecida de canalhas. Mas note, há uma versão feminina do canalha. Chamamos de “piranha”. E também note que não há qualquer movimento masculino para destruí-las.
Entendemos este verdadeiro patrimônio cultural do país melhor do que as mulheres, talvez. Ou talvez tenhamos todos um lado canalha. Tanto faz, desde que os deixem em paz.
Não há um bar respeitável sem que nele haja um bom canalha. E o canalha é tão canalha que você não pode identifica-lo a olho nu. Apenas a corpo nu. E feminino, porque ainda não sei de casos de canalhas gays.
Tem isso? Vou perguntar aos meus amigos gays, fiquei curioso agora.
Mas voltemos.
Que graça teria ser honesto e pai de família não fosse essa figura tão presente no passado de todas as nossas atuais e, com sorte, só no passado?
Eles baixam o nível de exigência, dão ao feio o poder de colocar a boa fé como qualidade e não mais como mínimo exigido. O canalha ajuda classes menos favorecidas.
Tão importante e desprezado quanto a piranha, o canalha precisa ser preservado. Talvez uma ONG pela não extinção do canalha. Talvez uma praia só de pequenos canalhinhas correndo pro mar em Alagoas.
Eu não sei. Sei que não podem acabar. E que a busca pelo caráter não pode encontrar no canalha um problema, mas sim um pilar extremo de equilíbrio.
Não haveria bom senso se não conhecêssemos o Bolsonaro e o Jean Willys. Entre eles há o equilíbrio. E sem o canalha, considerando a quantidade expressiva de babacas candidatos a “sócios” não avisados do canalha… haveria uma demanda reprimida.
A paz mundial, os casamentos felizes, os carnavais memoráveis e os piores melhores dias de uma mulher, muitas vezes, foram graças a um tremendo canalha.
Ando preocupado. Não tenho talento para ser um deles, embora se tivesse que escolher entre os extremos, do lado dele ficaria.
Em nome de São Portaluppi, o protetor dos bons canalhas, eu lhes peço mais tolerância. Ou vamos acabar com o único “filho da puta de bem” que o mundo conseguiu conhecer.
Um brinde aos canalhas! Eles nunca mentiram, apenas criaram versões da verdade para não machucar ninguém.
Pena que escrevi isso tudo numa madrugada filosofando sobre a vida e que este texto morrerá aqui. Já que nenhum homem será macho suficiente de compartilhar, muito menos um bom canalha o faria.
abs,
RicaPerrone