A Lusa e o suicídio
Eu nunca fui dessa turma que chamava jogo contra a Lusa de clássico. Nunca achei time grande, nunca vi perspectiva de futuro mas também – embora tenha me tornado uma pessoa detestável pelos fanáticos torcedores por achar tudo isso – nunca achei que acabaria.
A Portuguesa encerrou sua história sendo protagonista de uma história mal contada sobre um rebaixamento e um jogador irregular. Das mil teses contadas por aí, há uma que hoje talvez faça sentido.
Enquanto o torcedor e os jornalistas mais empolgados gritam por Flamengo e Fluminense, há uma corrente de bastidores que diz ter sido uma briga política interna e não algo gerado por terceiros. O silêncio do clube, inclusive, nos leva a crer que há um fundo de verdade nessa história.
A versão é que a atual direção na época havia perdido a eleição para seus piores inimigos. E sabendo que em janeiro estariam no poder, quiseram entregar a Portuguesa em situação quase impossível de corrigir. E isso incluía uma série B.
Se feito por um grupo, alguém em específico, não sei. Ninguém sabe. Mas a versão vai ganhando força com os anos passando e o clube perdendo as suas raras taças para penhora.
A Lusa acabou. E como outros ex-notáveis clubes deveria ter feito isso com mais dignidade. Talvez optar em se transformar numa bela história seja mais bonito do que não conseguir continua-la. Mas é difícil pra um clube ter essa capacidade.
Clubes pequenos viviam de revelar e da cidade local. Hoje revelam os empresários, ganham nada com vendas e as torcidas locais sumiram por causa de todo processo de globalização. Não há mais um torcedor na índia sem acesso ao campeonato russo. Imagine alguém no interior de São Paulo distante de um Corinthians.
Não existe mais.
A Lusa é da capital, não tem torcida quase nenhuma e portanto era impossível manter seu patamar idealizado. Era aceitar um futebol que não poderia mais lhe sustentar ou brigar até se afundar nele.
Se por política como sugere essa versão da queda ou por mera incompetência e talvez até mesmo corrupção, não sei. Sei que era óbvio. E não, não é um post de “eu avisei”. Odeio isso.
Mas a Lusa não moveu uma palha pra mudar a direção do abismo que por anos foi aparecendo na sua frente. E então… caiu.
Triste? Sim. Vítima? Não. Mas até pra morrer tu tem que tentar morrer grande. E a Lusa não está conseguindo nem respirar, nem morrer com dignidade.
Aí sim, pela torcida, pela história, dói assistir,
RicaPerrone