O torcedor clama por ousadia
Não é porque odeiam o Mano. É porque o conhecem. Não há rejeição porque ele é ruim. Mas porque ele é previsível.
O torcedor não quer o reforço mais barato, nem o treinador mais fácil. Ele quer sempre a maior possibilidade de uma surpresa positiva possível.
Imagine um cenário simples e atual. Botafogo está ali em décimo, passará o ano provavelmente no mesmo lugar. Não sonha com o topo, nem teme a queda. O Fluminense está “fodido” no Z4. Quem você acha mais fácil atingir, o torcedor do Flu ou do Bota? Quem consumirá mais futebol esse ano?
Vou além. Quem tem a maior chance de terminar o ano com uma história pra contar?
O Flu.
“Você é maluco!”
Não. Você que é só torcedor. Há um negócio em torno do entretenimento que se chama expectativa. Todo entretenimento é fomentado por ela. Quando você contrata o óbvio, tira isso do consumidor. Quando você está sem perspectiva, fica sem expectativa.
O torcedor do Flu tem enorme chance de terminar o ano muito mal. Mas tem uma chance de terminar vivendo uma puta história. O do Botafogo – e aqui vai apenas de exemplo – sabe que provavelmente passará o ano ali. Sem nada demais pra viver ou acontecer.
Repito: Qual torcedor consumirá mais futebol esse ano? Óbvio. O do Flu.
O que isso quer dizer? Que o Mano não é um problema. Só não é uma surpresa em hipotese alguma. E ao não ser, tira a expectativas de algo surpreendente.
O torcedor quer Balotelli. Quer Jesus. Quer Felipe Melo. Quer Dani Alves. Quer o risco de dar muito certo mesmo assumindo o do fracasso.
O que não é tolerável no entretenimento é dar a sensação de que “nada especial vai acontecer” ao consumidor. E contratar o Mano passa por isso.
Pode ser campeão? Pode. A chegada dele gera essa expectativa? Não. Gera a esperança de um futebol bem jogado? Não. De uma mudança radical? Não.
Por isso a reprovação da torcida. Fosse um Chileno desconhecido haveria ao menos expectativa pelo desconhecido. E esse lado do futebol nossos dirigentes estão longe de entender, especialmente porque acham que devem mais satisfação pra jornalista do que pra um mercado que faz bilhões nos EUA por exemplo tratado dessa maneira.
RicaPerrone