Sem bola

A mãe, uma peça. O filho, um “craque”.

Pegue um preconceito seu qualquer. Agora assuma-o e imediatamente imagine o que aconteceria se alguém o agredisse pra condená-lo.  Você já passou por isso, todos nós passamos.  Fez você discutir, se irritar, pegar raiva da causa ou te reeducou?

Simples. Ninguém em nenhum lugar do mundo está livre de ver o mundo conforme foi criado e conforme cresceu. Um pássaro só sabe que tem floresta se alguém mostrar pra ele. Da gaiola ele acha que o mundo é aquele e não tem culpa disso.

Você que berra a um militar de 70 anos contra sua homofobia é menos inteligente do que ele. Ele foi doutrinado a isso, você, não. Logo, na relação deveria haver um educador e um ignorante. O que temos, normalmente, é um ignorante e um burro.

Enfim, eu não acredito nessa putaria que é feita hoje pra mudar o mundo. Não será com lambendo sangue de menstruação que alguém vai mudar a visão sobre mulheres, menos ainda urinando em público na cara do outro que alguém aceitará melhor os gays.

Já fui preconceituoso com gays, óbvio. Tenho 41 anos. Toda pessoa na minha geração era criada pra isso. Mas se você quiser realmente saber como mudou isso em mim, tenha absoluta certeza que não foi através de nenhuma afronta ou lixamento virtual. Mas sim através de gays dispostos a mostrar em atitudes que era bobagem minha.

Através de informação. Educação. Ser apresentado sem raiva a um mundo que eu desconhecia. E portanto, reeducado, mudei.

Paulo Gustavo é uma aula de luta contra a homofobia.

Não é um militante chato, não se promove por ser gay, nem valoriza seu trabalho por isso. Usa a leveza de seus filmes de humor pra fazer entender que não há porque rejeita-los. Não agride o homofobico, educa.

Parece que ele compreende que entre um beijo gay e uma cena onde uma mãe vê seu filho gay feliz se casando, a segunda pode tocar um velho homofobico, a primeira vai apenas afronta-lo.

A guerra é justa. Nem todo batalhão tem um comandante muito inteligente, por isso as batalhas são tão mal feitas.

Asssitir ao “Minha mãe é uma peça”  é a maior aula anti-homofobia que conheci na classe artistica. Nenhum lacre, nenhum clichê, nenhuma mentira. A mãe que se assusta com a notícia, que zoa o filho, que ri, que amadurece e que entende.

Ou seja, educação.

A arte que interessa. Que muda.

Como Diego Hipolito, Paulo Gustavo nunca usou ser gay pra ter espaço. Usou o espaço pra ensinar sobre os gays.

Isso diferencia pessoas, artistas e lutas.

Obrigado, Paulo.

RicaPerrone

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