Vendidos!
Teimoso é aquele que vê algo acontecer 10 vezes na frente dele e ainda discute como aquilo funciona. O que assiste por 130 anos já ultrapassa esse limite e se torna burro mesmo.
Futebol é cíclico. Sempre foi. Sempre será.
Todo ano tem alguém pra dizer que “daqui pra frente será assim”, e todo ano tem alguém pra ter que explicar que “veja bem”. Não tem “veja bem”, tem lógica.
Time grande não precisa ser refeito. Acerte 11 e um treinador e você está no topo. O impossível no futebol é comprar história, tradição, paixão, gente, poder e grandeza. Quando se tem isso você está sempre a 11 jogadores da glória. Quando não se tem você está a tudo que não se compra dela.
Ver o Botafogo campeão de novo é mais do que um simples investimento. Tivemos dezenas de investimentos enormes no Brasil e a maioria deles não deu em nada porque foi mal feito. Quando você investe de baixo pra cima e numa camisa já pesada e de torcida você tende a vencer.
A vitória do Botafogo é a mesma vitória de 1968.
Naquele momento o futebol brasileiro se moldava a um estilo, criava sua identidade e direcionava gerações até o crime de 1986, onde Telê Santana foi crucificado por preferir jogar futebol do que ganhar a qualquer custo.
Em 2024 o Botafogo novamente da as cartas e mostra pro futebol brasileiro o caminho da nova era: SAF.
“Ah mas o time foi vendido não existe mais!”, diz o otário que em 5 anos vai ter que torcer por um time que não existe mais segundo ele mesmo.
Qual a diferença entre ser vendido e ajudado por movimentos políticos ou corruptos para se manter vivo? Eu lhe digo: a venda é honesta e clara.
Manter um clube corrupto por natureza não é um ato de resistência mas sim de burrice. O clube que hoje não buscar uma SAF é apenas uma estatal onde muita gente gasta o dinheiro dos outros rindo da sua cara.
O Botafogo não se vendeu. Vende-se aquele que precisa de 5 deputados pra conseguir o que quer. Vende-se quem precisa de esqueminha com a emissora pra vender um patrocinador. Vende-se aquele que pega empréstimos que serão pagos sabe-se lá por quem daqui sabe-se lá quantos anos.
A dívida do Botafogo tem nome, sobrenome e endereço de cobrança. E a sua? Quem vai pagar, se pagar, e quando?
Resistir a SAF não é exatamente saudosismo ou romantismo. É não entender que num país corrupto por natureza qualquer tentativa de coletivizar uma administração vai virar um cabide de empregos, esquemas e oba-oba.
O Botafogo não se vendeu. O Botafogo foi o primeiro, por necessidade é claro, a abrir as portas pro novo futebol brasileiro. E por necessidade ou não, como em 1968, lá está o Fogão pegando a caneta e dando direção ao nosso futebol.
Emblemático. Imaginem o quão triste seria ver o futebol brasileiro mudar de rumo graças a um título do Red Bull, de vermelho, sem torcida, sem identidade e sem festa segunda-feira. Tinha que ser pela mistura do dinheiro com a tradição. Tinha que ser via Botafogo.
Me orgulho de ter escrito há 13 anos: “O Botafogo será o primeiro clube a falir e vender. E será o primeiro a reerguer nosso futebol através disso”. Não era difícil a conta. O primeiro a ser vendido seria um clube em maior dificuldade financeira. E aconteceu o que eu imaginava. Inclusive em campo.
Vai haver SAF ruim. Como gestões ruins acontecem em toda parte. O ponto simples é que quando for SAF dá pra repassar. E a dívida tem dono, logo, é mais fácil ser paga do que virar um esquemão em Brasília pra sair do teu bolso.
O próximo passo é termos 8 dos 12 grandes com donos. Nesse dia eles vão se sentar a mesa e discutir como melhorar o bolo e não mais quem vai ter a maior fatia de um bolo pequeno e ruim.
E tudo isso, daqui 100 anos, será contado, de novo, via Botafogo.
Sinceramente, o título em si é menor do que o recado. O Fogão fez história e um dia vocês saberão que o campo foi só pra confirmar pros resultadistas o óbvio.
Sempre foi tempo de Botafogo.
RicaPerrone