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Um dia de corintiano

Domingo, 1 de novembro de 2009, 15h55. Sentado na cama, de frente pra TV, pensava: “É uma trairagem ou apenas uma estratégia de guerra?”.

Sim, pois o natural respeito que temos por um clube rival ao nosso nos impede de torcer a seu favor. Isso, diga-se, é o maior sinal de respeito que existe, pois só não se torce a favor de quem pode incomoda-lo.

Mas hoje era necessário. Uma vitória alvi-negra colocaria o SP na liderança, deixaria o Palmeiras pressionado e ainda jogaria uma bomba de tensão pro Maracanã, onde o Flu recebe o Verdão semana que vem pra resolver sua vida.

Seria fácil, não fosse o Corinthians este time.

As piadinhas já começaram cedo. Ao ir na padaria, diversos amigos corintianos já brincavam: “Tá com a gente hoje, né bambi!?”. E eu tinha que rir, concordar e ainda dizer: “Vai Timão!”. Afinal… era a liderança em jogo.

Aí alguém pode perguntar: Qualé a diferença entre torcer pro Corinthians e pro Santos?

É simples. Da sua casa até a padaria você encontra um santista e dez corintianos. Logo, a tiração de sarro é muito maior.

Telefone tocando a manhã toda, os amigos tricolores dizendo: “Puts, vamos ter que torcer assumidamente pros caras”, e eu dava risada, pois não tinha alternativa.

Os corintianos, delirando com a situação, ligavam pra confirmar: “Vai vestir a camisa hoje, bambi!?”.  E com que cara vou dizer que não?

Começa o jogo e a sensação de “que diabos eu estou tão nervoso com um jogo desses” não saia de mim. Até que o juiz marca pênalti, expulsa o Marcão e quando vejo estou pulando na sala, comemorando como se fosse pro SPFC.

E, convenhamos… era! O beneficiado maior com o gol foi o Tricolor, não o Corinthians.

Como quem bateu foi o Ronaldo, a sensação foi mais tranqüila. É um ídolo de todos, não dá aquela raiva que daria comemorar um gol do Marcelinho Carioca, por exemplo.

Um a zero, um jogador a mais, Ronaldo em campo… não tem como!!! Vai dar o nosso Timão! Ops, nosso?

Sim, é fácil! Se ganhar, é o nosso Timão! Se perder, é o Timão dos amigos, e você pode xingar a vontade.

Aí, daquele jeitão Muricystico de jogar, o Palmeiras empata. Pronto, cara de luto. E como não é meu time, posso xingar a defesa com mais vontade.

Ronaldo faz 2×1, e eu já tava pedindo o sujeito na Copa a essa altura. Comemorei o gol e comecei a rir, porque é realmente engraçado.

Mas, no finalzinho, o Palmeiras achou outro. E lá se foi a alegria em ser corintiano.

No final das contas, tudo dentro da normalidade. O Corinthians, que poderia ajudar o SPFC, não o fez. E o Palmeiras, que quer passar o SPFC, passou.

Fui torcer pra um, consegui me irritar com os dois.

Ser corintiano é diferente. Se não por motivos técnicos e de dentro do campo, por ser maioria no bairro por um dia.

Só não achei muito justo, pois quando o Timão precisou do SPFC pra não cair, nós ajudamos. Agora custava ganhar esse jogo?

Mas, tudo bem. Já são mais de 18h, já voltei a ser sãopaulino apenas.

Quer dizer… voltei a ser Tricolor, porque o nosso Fluzão querido já faz parte da minha semana!

RicaPerrone

Texto especial encomendado pelo site do Milton Neves, onde fui convidado a falar como TORCEDOR e não como jornalista.

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