Carnaval

Carnaval SP – A pior escolha

Um dia, vendo que era possível fazer o carnaval paulistano dar certo, alguém teve a brilhante idéia de tentar fazer com que o povo o conhecesse. É bem claro pra quem mora em SP e conhece o Rio que não há muita chance de se comparar um ao outro, só sendo muito paulista ou parte de uma escola daqui.

O carioca, em muito maior número, se envolve com a escola, considera a questão da comunidade e culturalmente aceita a idéia de ter um time e uma escola, goste de samba ou não.  Em São Paulo, terra onde o samba nunca foi tão forte quanto no Rio, as pessoas nunca tiveram essa coisa com escola de samba. Quando você chega no susto e pergunta pra 10 pessoas na rua: “Qual sua escola de samba?”, umas 7 vão responder uma escola carioca.

As outras 3, infelizmente, devem responder “Palmeiras”, “Corinthians” ou “São Paulo”.

Antes que você diga: “Não são todos”, quero comunica-lo que sei disso. Mas me refiro a grande maioria, não as xx mil pessoas da cidade que se envolvem de fato com o carnaval.

Morei perto de 3 escolas. Eu nunca vi o bairro ir até a quadra em dia de ensaio. Fui uma vez a Vila Isabel, quarta-feira, com chuva, 22h, e quando a bateria começou a tocar as pessoas saiam das casas e atravessavam as ruas indo na direção da quadra. Isso se chama “comunidade”.

Aqui, ao forçar o ibope a qualquer custo, cairam pro lado mais fácil. O futebol e o samba, duas paixões nacionais que o paulistano não sabe administrar. Não adianta forçar a barra e menos ainda tentar misturar uma festa com uma guerra. Aqui não há mais futebol de forma romantica, apaixonada. Existem 3 gangues que se odeiam a todo custo e querem competir até em campeonato de cuspe.

Se você é Palmeiras, é mancha. Se é Corinthians, Gavião. E agora, a novidade, se for sãopaulino tem a Dragões da Real.

E o Anhembi virou Pacaembu, com torcidas organizadas, gente comum com medo de ir assistir, fogos, bandeiras, gritos com palavrão e exaltação ao clube. Acabou, já era. Morre a Rosas, morre a Camisa, fortalece o que já era forte.

Quem ganha com isso? Só as organizadas, pois nem o futebol sai beneficiado.

O foco deveria ser o envolvimento, o samba, a comunidade, a diversão.  Vai-Vai, Rosas, X9, entre tantas outras escolas ligadas a bairros, não a organizadas.  Focaram no sucesso mas rápido e, ao invés de raiz, plantaram ódio.

O que chama o carnaval de SP não é o desfile, é o futebol. O paulistano gosta do jogo, não do samba. E, de novo, insisto, enfraquecem escolas tradicionais e legítimas.

Você pode me dizer que “As torcidas fazem carnaval há tempos”, e eu não estou discutindo há quantos anos você joga lixo na rua, mas sim o fato de jogar.  Torcidas organizadas que façam carnaval nas suas sedes. Na avenida, festa familiar e cultural, não é lugar pra quem passa o ano afastando gente de bem dos estádios, menos ainda envolvendo paixão e guerra numa festa popular.

Quando a Rosas venceu, o presidente da Nene foi abraça-lo. Quando uma “delas” não vence, invariavelmente, cadeiras voam pelo sambodromo e porrada pelas ruas.

Há quem ache do caralho ter “meu time” no carnaval. Fatalmente, quem não sabe picas de carnaval. Se soubesse, saberia que não precisa misturar sentimento de ódio e guerra com uma festa entre comunidades que se respeitam e, juntas, procuram um espetaculo.

Desfile de escolas de samba é o momento onde o rico aplaude o trabalho do pobre, tradicionalmente. É este o foco que apaixonou pessoas pelo Rio, foi este o motivo do sucesso popular da coisa.  Quando isso deixa de ser um show para ser uma mera disputa, acabou.

O foco jamais deveria ter sido futebol. As organizadas não deveriam estar ali e, se cumprido o regulamento, quando subiu a segunda, ambas estariam fora. Mas é claro, mudaram. Afinal, sejamos honestos, o carnaval de SP não existe como “ibope” sem Mancha e Gaviões.

Mas são pés de barro. Em tantos anos na tv, não se construiu uma cultura. O paulistano segue ignorando a escola do seu bairro, segue não se importando com carnaval e no dia do desfile tem ingresso na bilheteria pra vender.

Não, não deu certo. Deu ibope na televisão, até por ser nos dois dias de carnaval onde muitos ainda trabalham e não viajaram. Mas não ganhou corpo, não formou hábito.

Moro perto de 2 escolas. Nunca ouvi falar delas, nunca vi uma camiseta ou sequer um comentário pelas ruas para ir num ensaio ou que dia tem este ensaio. Não há envolvimento, porque o corintiano é Gavião, o palmeirense é Mancha e não sobrou mais quase nada.

Burrice. E agora, covardemente, não vão peita-los para colocar a casa em ordem e valorizar quem de fato merece. Rosas, Vai-Vai, Camisa e tantas outras perderam espaço para fanáticos torcedores de clubes que, você sabe, não estao lá pela diversão mas sim pra defender o seu time ou, pior, sua torcida.

E agora com a Dragões, mais uma organizada que sobe, aumenta-se o risco, diminui o espaço pro sambista de fato.

E há quem diga que o carnaval de SP cresceu.

O evento, o ibope e os valores aumentaram muito. O hábito do povo, o envolvimento e a raiz do samba na cultura da cidade… nadinha.

Note, caro bom sambista de uma escola de samba de verdade… Eles não estão dividindo seu espaço ou alavancando seu evento. Eles estão criando guerra onde havia uma festa e priorizando a competição onde havia só diversão.

Em fevereiro, vou ao Rio. Ver Mangueira, Portela, Mocidade, Salgueiro e muita paz nas lotadas arquibancadas da Sapucai. Porque será?

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Traducão pra quem tem dificuldade – O post DEFENDE as escolas de fato e acha um absurdo elas terem perdido espaço pra organizada. A critica é ao evento, a forma que foi exaltado pela mídia, não as boas escolas e ao bom samba.

abs,
RicaPerrone

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