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20 anos de Ceni

No dia 7 de setembro Rogério Ceni completa 20 anos de SPFC. Um marco nos dias atuais, onde qualquer proposta faz o jogador virar de lado e mudar de camisa. Mais do que goleiro, mais do que artilheiro, mais do que capitão, Rogério conseguiu atingir o incrível posto de “representante do clube”. E isso é algo que raros jogadores conseguem pelo mundo.

Em 2007 fiz uma coluna sobre o capitão. Ele leu, gostou e dias depois fizemos, pela Estação Tricolor, uma entrevista fantástica com ele, onde falou palavrão, brincou, contou história e esqueceu do microfone.

Rogério é um sujeito que aprendi a respeitar e admirar.  E por isso, clubismo a parte, hoje presto esta pequena homenagem ao capitão tricolor.

Abaixo a coluna que escrevi em janeiro de 2007, e no final o audio da entrevista feita dias depois, que pra muitos foi a melhor que ele já deu até hoje.

Lembrando que isso foi feito num site do SPFC, num tom torcedor e não jornalistico, com meus colegas Marcelo Murro e Daniel Canto, que não são jornalistas e que, comigo, conduziram a entrevista num papo “entre tricolores”. Não estranhem a diferença no “formato”. Era outra época, outro tipo de foco, outro site, outra coisa.

“Oi! Quem é você?”

Se não me engano foi em 1994 ainda. Só me lembro que o Zetti ainda era o titular do Tricolor e um dia, após uma vitória sobre um time pequeno no Morumbi, eu fui até o vestiário. Peguei autógrafo de alguns jogadores e sai todo feliz com a camisa mais pixada do que muro de presídio.

Na saída meu pai encontrou um conselheiro amigo dele e ficou batendo papo. Eu, que um dia já fui “não fumante”, sai de perto porque a fumaça que o velho barrigudo soltava me incomodava. Encostei na pilastra ao lado e tinha um sujeito com cara de menino, com roupa esporte. Olhei… pensei… não reconheci e, cara-de-pau, perguntei: “Oi! Quem é você?”.

“Eu sou o Rogério, goleiro do seu time”, ele respondeu. Eu fiquei olhando meio torto porque o goleiro do meu time era o Zetti. Mas tudo bem, eu reconheci que era o reserva dele, que eu sabia quem era, mas desconhecia o rosto ainda.

Ele virou pro outro lado e eu pensei: “Palhaço… quer roubar o lugar do Zetti”. Eu era fã do até então dono da camisa 1, peguei birra do goleiro reserva. Na verdade ele não foi metido, apenas respondeu o que eu perguntei e virou de lado. Eu fiquei puto porque não queria o Zetti saindo do time de forma alguma. Mas, aconteceu.

Alguns dias depois disso, um amigo do clube, o Vinícius, me alertou para o fato de que aquele cidadão que sentava no banco do SPFC era o mesmo “altão” que jogava vôlei conosco no clube as vezes. Imaginem vocês, eu joguei vôlei com o Ceni e não sabia. (Somando isso ao fato de eu ter formado dupla de ataque do meu prédio na Praia Grande com o Julio Baptista por muitos anos, chego a conclusão que eu sou um descobridor de talentos. rsrs)

Num dos primeiros jogos como titular do Ceni alguém me disse no clube que ele batia faltas. Eu comecei a rir achando que era piada. Imagina… um goleiro batendo faltas sem ser aquele anormal do Chilavert? Nem a pau. Fui conferir e o sem vergonha batia mesmo, e bem. Minha birra diminuiu, afinal, era engraçado torcer pro goleiro fazer gols. Eu nunca imaginei que veria isso no SPFC.

O tempo passou, ele começou a fazer gols e um dia, em 1997, arrumei uma discussão na cativa por causa dele. Um velho, provavelmente conselheiro do clube, passou os primeiros 45 minutos o chamando de “goleiro de pebolim”.  Eu comecei rindo, mas com as defesas que ele fazia fui me irritando, só que com o velho. No intervalo o tiozinho foi até a grade pra encher o saco dele, e eu gritei lá de cima: “Vai torcer contra, fica em casa, seu merda!”. Pronto, lá estava minha primeira briga na cativa.

O cara subiu as escadas me xingando, como quem fosse me bater. E eu ria, afinal, até ele chegar lá onde eu estava já teriam 20 do segundo tempo. Eu ria, ele se irritava. Até que a turma do deixa disso chegou e separou, quando ele já estava a 20 minutos de chegar onde eu tava. Passei o jogo ouvindo: “Vai, marionete do Rogério Ceni!”. E eu lá, ouvindo quieto… até que teve um penalti aos 39 do segundo tempo. O capitão defendeu e eu fui correndo comemorar adivinha onde? Com o velho. Ele tentou me bater, mas eu o abracei e sai correndo enquanto a galera em volta ria.

A partir daí, comecei a ser fã do Rogério. Ele não ganhava títulos e já havia dirigentes no clube que o colocavam o rótulo de “líder negativo”. Ta, ta. Eu confesso: Um dia eu cheguei a dizer que já achava isso também, afinal o SPFC não ganhava merda nenhuma e perdia as finais. Acabei até aceitando essa idéia de que a liderança do Rogério é que evitava os títulos. Mas não… não era isso.

Em 2002, quando meu site de F-1 fez aniversário, eu tive a cara de pau de ligar pra ele e dizer: “Oi Rogério, é o Perrone do F-1 na WEB… você não me conhece mas como eu falo muito do SP, hoje o site faz 1 ano… você é o capitão do SP… sei la, talvez você gravasse uma vinheta..”. O cara topou na hora e fez na hora. Disse inclusive que era internauta do site, o que até hoje desconfio ser mentira das grossas. Mas adorei a mentira.

Em 2004, durante a Libertadores, novamente ele deixou uma mensagem no site de F-1 pra mim dando parabéns pelo aniversário de 3 anos. Em 2005, antes do jogo contra o Palmeiras, liguei para saber se ele falaria com a SPNET, onde eu tava fazendo a rádio. Ele disse que era só agendar, que não haveria problemas e conversei por 5 min com ele no telefone. Me lembro bem. Ele disse assim: “Vamos com a cara e com a coragem que é o que nós temos”, sobre as chances na Libertadores.

Depois disso falei com o capitão apenas na festa do Tri, do site do Nelsinho, o Tricolorpaulista.net. Ele tirou uma foto, disse: “Opa, você que é o Perrone!? Tudo bem?” e já foi atender outra pessoa. Depois disso eu nunca mais falei com ele. Dei “Oi” um ou duas vezes no vestiário, e ele respondeu sem saber quem eu era. Uma vez, no Estadio 97, ele citou que 2 colunas da SPNET foram lidas e usadas pelo grupo antes da final de 2005. Uma delas era minha, e eu fiquei muito feliz em saber que os jogadores leram.

No CCT, ele raramente vai à sala de imprensa, se não pegam ele pra cristo. Eu vou lá mais raramente ainda, portanto… não posso dizer que tenho contato com o Capitão como tenho com vários outros jogadores do elenco. Mas eu entendo, não é fácil ser o que ele é. Falar com o Rogério hoje em dia é algo que, confesso, me deixaria um pouco mais nervoso do que com os demais.

Ele se tornou um ser inatingível, um marco no clube, um pedaço de história de uma nação. Merece, sem dúvidas. Me tornei fã deste profissional a quem carinhosamente chamo de “Capitão”. Claro que tem coisas que eu não aprovo, como a história da medalha, a briga com o Milton sobre o penalti, mas é natural que não se concorde em 100% nem com quem você admira.

Ontem ele fez aniversário e, ao levantar seus dados para publicar no site, percebi o quanto ele fez pra chegar lá. O quanto de porrada deve ter levado até vir o primeiro elogio e assim por diante. Tem que ter muita força pra aturar certas coisas que notei neste levantamento. Rogério é diferente. Não sei se o maior da história, o melhor, o mais importante. Isso é relativo demais. Mas sem dúvida alguma, Rogério Ceni é ator principal das páginas mais bonitas da história do São Paulo Futebol Clube.

Ele virá na Rádio nas próximas semanas, está tudo combinado desde o ano passado, só não agendamos a data, mas ele já havia aceitado o convite. Provavelmente vamos gravar no CCT neste dia, e não no telefone. Provavelmente eu não vou estar igual eu sempre estive pra abrir uma entrevista. E quando digo isso, nem é por ficar nervoso, pois depois de 10 anos fazendo a mesma coisa você não fica. Mas é um tanto quanto difícil você olhar nos olhos do cara que te fez chorar de alegria por, no mínimo, 5 vezes nos últimos 3 anos e agir naturalmente.

Na verdade essa coluna fala e não diz nada. Eu só escrevi o que pensei hoje após levantar os dados e ler o carinho da torcida com o Capitão. Lembrei de tudo isso, e fico imaginando qual será o final dessa história…

Presidente? Mais um mundial? Treinador? Comentarista da Globo? Professor de educação física? Preparador de goleiros? Ou será que ele ainda consegue fazer mais do que já fez e se candidata a santo de uma vez? Já pensou? Não daria certo… Com certeza haveria algum “São Jorge” pra dizer que ele é arrogante, marketeiro… E nós, Tricolores, reivindicaríamos a saída de Deus do cargo maior para deixá-lo para o nosso Capitão.

Brincadeiras à parte, mesmo com um dia de atraso, deixo aqui os meus “parabéns” ao maior jogador da história do SPFC. Não sei se o melhor, nem se o mais importante. Mas, sem dúvida alguma, o mais notável. E se eu fizesse novamente a primeira pergunta que fiz pra ele na vida, ele poderia responder: “Eu? Eu sou o cara!”.

A entrevista, dias depois.

Duas opções pra ouvir:

1 – Fazendo download para ouvir no seu pc ou ipod, aqui!

2 – Pelo player abaixo no próprio blog.

Hoje, passados 3 anos disso tudo, entrevistei e conversei com ele mais dezenas de vezes. Tenho outros elogios e criticas a acrescentar, assim como aumentou minha admiração e respeito pelo profissional e pelo sujeito que é.

Mas isso fica pra outro dia.

Como jornalista, foi uma honra ter visto e acompanhado a carreira do Ceni. Como sãopaulino, um privilégio enorme ter sentado ao seu lado no ct e batido alguns papos com um dos maiores da história, se não o maior.

Parabéns, capita! Tá na hora de tomar “uma brahma com o Perrone” de novo hein? Tô enviando o convite pelo Zé, e registrando aqui, já que você é leitor do meu blog e corneteiro dele que eu sei. rs

Abaixo, o vídeo que ele fez pro aniversário do site, um ano depois.

abs,
RicaPerrone

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