A alegria é proporcional a dor
Ser botafoguense nunca foi fácil. A graça é essa, inclusive. E com meus 40 anos vividos enfiados dentro do futebol nas mais diversas formas e setores, eu tenho a convicção que o sabor de uma conquista está diretamente atrelado a raridade dela.
A um botafoguense um estadual é mais gostoso que a um rubro-negro. Ele vai negar, é claro, mas como ganha menos vezes, sofre mais, valoriza mais a conquista.
Atleticanos e botafoguenses carregam em suas costas a fidelidade na dor. E extravasam como poucos na hora das alegrias, naturalmente.
O Botafogo de hoje é aquele que te joga na cara o “porque” de todas as vezes que você se indagou sobre o seu amor pelo clube.
“Porque eu sou Botafogo?”, você se perguntou após uma das mil eliminações frustrantes ao longo da vida.
E aí está a resposta. Por isso. Porque a sua dor é mais comum, mas a sua alegria é mais intensa.
Eu queria ser botafoguense ontem a noite. Os olhos deles brilhavam, o orgulho era tão forte que nem raiva adversária causava. Todos, sem exceção, concordam: eles merecem.
É uma provocação aos orçamentos, caga-regras e aos profetas do apocalipse que, como eu, já olharam o cenário em janeiro de 2016 e não enxergavam saída.
Hoje, na América do Sul, e talvez no mundo, ninguém comemora gols como o torcedor do Botafogo. Cada bola lá dentro carrega a dor de décadas, a desconfiança recente, as magoas dos rebaixamentos, a filha do Roger, o histórico familiar do Jair, o orgulho da campanha brilhante e a fé, mesmo que ainda tímida, de que chegou a hora de subir um degrau no exato momento de sua história onde todos previam o tombo.
Eu sinto inveja. E aí alguém dirá: “Mas você é são paulino, porra! Ja ganhou tudo!”.
Existem formas de ganhar cada título. O Botafogo está trilhando conquista-los da forma mais brilhante, intensa e memorável possível. É isso que nos apaixona no futebol.
Ganhar ou perder é dia a dia. Como se ganha e se perde é o que nos move.
abs,
RicaPerrone