A volta
– Ah, que isso?! Onde eu tô?
– Calma rapaz, calma…
– Não! Não! Aconteceu de novo?!
– É, aconteceu….
– Ah meu Deus, quanto tempo dessa vez?
– Foram 3 anos…
– Qual motivo?
– Melhorias, essa coisa de vida longa, modernidade, sabe como é né?
– Tipo Globo Reporter?
– Isso, isso.
– Puta merda, que dia é hoje?
– 27 de abril.
– De que ano…?
– 2013.
– Cê ta de sacanagem!
– Não tô não. Você ficou aí 3 anos igual morto, cheio de gente em volta, mexe daqui, conserta dali…
– Cara, minha última lembrança é um gol do Palmeiras, acho. É isso?
– Isso, boa memória! Tá novinho hein?!
– E era o que? Final? O Palmeiras foi campeão?
– Não, não. Caiu de novo.
– Ca-ra-ca….
– Pois é.
– Me da um espelho!
– Pega aí.
– Que porra é essa?!?!?!?!
– Botox, irmão. Deram um tapa ai, disseram que ia ficar mais moderno, tendência na Europa toda… Gostou não?
– Encolhi!
– É, fizeram tipo uma lipo….
– Cade meus aneis?
– Eu não queria entrar nesse assunto mas, enquanto você dormia… perdeu o anel.
– Puta que pariu, onde ficou a dignidade!?
– Reclama não, rapaz. Tá bonitão, cheio de moral. Até a Dilma veio aí te ver.
– Olha que traira…. nunca veio me ver antes do coma.
– É, agora como ela ajudou a pagar a porra toda, ta aí e tu tem que tratar bem.
– Foda-se. Me conta! O que aconteceu nestes três anos? Pelo amor de Deus, e os meus filhos?
– Então… Um se mudou pra minha casa de vez. Os outros dois ficaram lá e agora devem voltar. O outro continuou lá mesmo, já morava sozinho.
– Estão bem?
– Um está muito bem, outro bem, outro razoável, o que mora sozinho precisa de uma ajuda.
– Mas conseguiram se virar esses anos todos? Estão como eu deixei?!
– Não. Não exatamente. Eu segurei 2 festas do playboy sozinho.
– O menino venceu?!?!
– O senhor precisa ver que beleza. Tá respeitado no país todo, cheio de moral.
– Ô notícia boa!!! E o malandrinho?
– Popular comò sempre, né? Ta aí agora falando em estudar, se formar, levar a sério…
– Que bacana! Casou?
– Não. Chegou a namorar com uma musa que já encantou o mundo! Mas ela deu o pé nele.
– Pena. E como anda meu saudoso pé frio?
– Ta na fita. Quer inclusive estrear sua casa dando festa. Pode?
– Pode. Filho é filho! Mas você disse que ele se mudou pra sua casa de vez. E ai? Se comportou?
– Bastante. É ajuizado, quietinho, na dele. Não apronta muito. Mas tá caminhando viu? Namorando uma gata holandesa… rapaz…
– Garoooooto! Só orgulho.
– Trabalho mesmo tá dando o outro. O mais velho tá foda.
– O que houve?
– Ah não paga conta, vive pedindo ajuda, tá um problemão.
– Agora eu vou poder ajudar mais. Liga pra lá. Diga que voltei!
– Não da não, cortaram o telefone. Vai ter que esperar ele vir aqui pra contar.
– Ah, rapaz. Que saudades de todos vocês. Desse Rio de Janeiro maravilhoso, desse povo tão apaixonado, desse calorão e desse batuque.
– Nós também, mestre. Sentimos muito sua falta.
– Mas parece que nem tanto. Afinal os meninos ficaram bem, você parece ter segurado legal a onda…
– Mais ou menos. Na real não vim aqui te visitar.
– Não?!
– Não. Agora quem vai apagar sou eu. Vou entrar na faca. To ruim…
– Ô rapaz, você é jovem, supera.
– Eu sei, é que na primeira internada já tem nego falando em me largar, me deixar de lado. É foda.
– São assim mesmo. Ingratos, rebeldes, mas no fundo adoram contar nossas histórias e morrem de orgulho da gente.
– É, eu sei. Brasileiros, né? Tolos como sempre, adoram falar mal do que mais gostam.
– E vem cá. Quanto custou minha recuperação?
– Caro. Bem mais do que o previsto.
– Mais do que o seu parto?
– Quatro vezes mais.
– Idade né? Custa mais mesmo…
– É, e aí tem que ver direitinho essa grana e tal.
– Bom, dinheiro não é o mais importante. Agora vamos comemorar que voltei, rever todo mundo e depois sim pensamos no dinheiro!
– É isso! Boa sorte meu velho! Bom tê-lo de volta.
– Valeu, Engenhão! Boa recuperação.
– Falô, Maraca. Até já! E seja bem-vindo.
abs,
RicaPerrone