Seleção Brasileira

Dez vezes “não”!

Vejo campanhas abertas de jornalistas e até veiculos de comunicação pela vinda de Guardiola, como jamais vi por um brasileiro, diga-se. Tenho noção que é de direito igual o sujeito achar o espanhol Jesus Cristo disfarçado de tecnico e meu de achar um idiota quem pensa assim.

O que não acho de razoável direito é olhar o lado que convém e propagar uma mentira dizendo que “o povo quer Guardiola”, pois o povo sequer o conhece. Quem quer o técnico espanhol é parte da imprensa esportiva e torcedores de internet. O povo, aquele que não vale menos por não ter iphone, não sabe nem pronunciar o nome do sujeito.

Tenho sim razoável paciência em ler argumentos a favor da vinda dele. Não vejo porém nenhuma vontade dos interessados em ler os argumentos contra, assim como não vejo coerência alguma nesse pedido.

“Ele é gringo”. E esse argumento é sim o mais vazio de todos, mas é um argumento.  A discussão se resumir a “aceitar ou não um tecnico estrangeiro” me soa até ignorancia. Vai muito além disso, e o momento é de ponderar uma aposta, não de cravar certezas em busca do desejado “eu avisei” quando der errado.

Jornalistas passam o ano vendendo que “não torcem pela seleção”, “não são obrigados a torcer”, e agora “pedem como torcedores” a vinda de um treinador de fora? Com que critério? Sob qual argumento Guardiola tem credencial para dirigir o time mais importante do mundo para todo mundo, menos pra nossos jornalistas?

1) Ele é gringo
Sim, ele é de fora. Ele fala outra lingua, ele vive outra cultura, ele não tem idéia de como é o Brasil e de como pensamos futebol. Ele vê, na tv, como nós vemos o campeonato Inglês. O que não significa, até pelo histórico de fracassos dos nossos treinadores por lá, que sejamos capazes de pensar o jogo como eles e vive-versa.

2) Ele é “perfeito”
Tudo que a seleção hoje tão pouco blindada precisa é de alguém que os coloque como vilões de véspera. É óbvio, claro e natural que se Guardiola escalar 8 volantes e perder o jogo a imprensa não terá coragem de reconhecer um erro e jogará a culpa em jogadores. Eles sabem disso, e pela primeira vez no século um treinador na seleção será mais estrela que o time.

3)  Ele não nos conhece
Você pode dizer que “a base está na Europa”, e eu acho engraçado pois no  dia que fomos com o time C jogar com a argentina cansei de ouvir que “a base do time ta ai…”. Agora, como convém inventar outro foco, a base está lá.  Esteja ela onde for, o técnico da seleção brasileira precisa saber o que é e como é o futebol brasileiro. Guardiola não é Deus pra chegar aqui e passar a conhecer história, caracteristicas, clubes, etc e em 2 anos estar com um time pronto, cabeça de brasileiro e adaptado ao que nós sabemos jogar e não ao que eles entendem por futebol.

4) Desvaloriza o mercado
Imagine você, treinador de futebol, que após ganharmos 5 Copas, 200 Libertadores e torneios internacionais, a seleção chega ao grande momento de sediar uma Copa em seu pais. E neste momento a resposta que daremos ao nosso mercado é de que precisamos buscar alguem fora pois os nossos treinadores, de forma clara e objetiva, não servem. São todos incapazes.  Nada contra, mas vamos trazer um ingles pra ser presidente do sindicato dos jornalistas? Que tal?

5) Não jogamos basquete
“Funcionou no basquete!”. Pois é, mas nós não jogamos basquete. Precisamos aprender basquete, enquanto ensinamos futebol. Se ensinamos, porque vamos sugerir aos nossos alunos darem aula pra nós do que aprenderam conosco. Que sentido faz ir buscar uma cultura européia fã da nossa para adaptar o idolo ao fã e não o contrário?

6) Nível tático e social
Não sejamos hipócritas de fingir que não sabemos porque o europeu joga um futebol tático e nós não. Sabemos que nossos meninos favelados não tem o nível de informação e preparo para receber as mesmas instruções que a maioria dos jogadores europeus tem. Você explica 10 regras de posicionamento pro Gerrard, mas acho difícil explicar isso pros nossos garotos que sequer estudaram. É sim uma questão social, não de futebol. Nosso nível tático é muito abaixo do europeu, e o Guardiola sabe falar pra europeu. Pra aprender, terá 2 anos, e meio erro será fatal.  Ele não sabe falar a lingua dos nosso boleiros, pois metade dos nosso treinadores não sabem. Imagine ele.

7) Tempo “relativo”
Eu já notei que o desespero é relativo ao interesse. Quando analisamos o Mano, “faltam só 2 anos!”, quando pensamos em reformular uma filosofia inteira, “ainda faltam 2 anos”. Fato é que faltam 2 anos. E neste período você pode até montar um time de futebol que não treina, mas você dificilmente vai montar uma filosofia, enfiar na cabeça dos caras, aprender a lidar com a situação, encarar a imprensa local, ganhar a simpatia do torcedor,  aprender outra lingua, entrar num país e pensar como um brasileiro.  Sei que pro Luxemburgo, por exemplo, “2 anos seria arriscado”. Mas pro Guardiola, que convém, “é mais do que suficiente”.

8) Currículo
Cade aquele discurso que acompanhava o Dunga e o Mano sobre “não ter curriculo ainda pra assumir uma seleção”? Eu entendi bem ou um treinador que passou 4 anos num só clube, o que tinha o melhor time do mundo, diga-se, passa a ter este trabalho tão testado e aprovado pra tal confiança?  Guardiola foi bem demais no Barcelona, o que não significa que ele saiba lidar com outras mil situações e elencos diferentes. Sua experiencia como treinador é pequena, nem uma segunda casa foi experimentada. O que era absurdo pro Dunga e pro Mano agora é o “ideal”?

9) O topo
Sei que pra nós, brasileiros de pouca fé, a seleção é só um time. Mas informo  a quem não saiba que o topo da carreira de qualquer profissional de futebol no planeta é chegar até ela.  É realmente o caso de após 4 anos de trabalho um espanhol chegar ao topo de onde todos sonham em chegar e pior: Quebrando o tabu de ser de fora do país?

10) A seleção mais brasileira?
Onde estão os argumentos da seleção se aproximar do povo agora? Quando joga nos EUA, é “distanciamento”. Quando pensa num treinador gringo é o que? Amadurecimento? Quanto critério…

Enfim, Guardiola é um cara que respeito e gosto muito (Leia esta frase mais 3 vezes antes de ir comentar por ai que o Rica não gosta do Guardiola, ou que o Rica acha que ele foi mal no Barcelona). Mas eu gosto mais ainda da coerência de entender que SELEÇÃO NACIONAL seleciona os melhores de uma nação. É o simples do simples, mas não o mais relevante.

Guardiola não tem histórico pra seleção. Luxemburgo e Felipão, por exemplo, tem. Muito mais do que ele, inclusive.

Toda decisão tomada na história do nosso futebol para agradar a imprensa terminou mal. Guardiola diz respeito a uma vontade jornalistica de pauta e de dizer:  “eu avisei”, nada mais.

E mais: Não era a escola do Barcelona que ensinava toque de bola e futebol bonito desde os 8 anos de idade? Agora virou o técnico que fez isso acontecer? Afinal, qualé a verdade que convém pra hoje?

Quando Lazaroni era nosso treinador, ninguém sugeria nada de fora. Hoje, por moda, por vontade de ser do contra, sugerem ao menor sinal de fraqueza.

A Copa na nossa casa não é o melhor momento para dizer pra nós mesmos e pro mundo que nossos treinadores não são capazes de assumir o lugar que é de DIREITO deles, o de selecionado treinador da seleção do país.

Eu não acho muito justo que o prêmio de melhor jornalista do Brasil vá pra um narrador da ESPN americana. Mas há quem ache.

O cargo de técnico da seleção é um prêmio, o maior deles. E aqui, na nossa casa, na nossa Copa, não é um risco ter Guardiola.

É um insulto.

abs,
RicaPerrone

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