Futebol

E quem paga o pato?

Jornalistas de São Paulo falam pra paulistas, gaúchos pra gaúchos, mineiros para mineiros e cariocas para cariocas. Essa regra comum acontece em virtude de termos popularizado nosso futebol focando no “mínimo possível”.

Ao longo dos anos não acostumamos o torcedor a ver um grande jogo. Ensinamos todo dia que ele deve “torcer naquele jogo” e, portanto, se seu time não está, ele não vê. E por isso não tenho o menor pudor em dizer que brasileiro não gosta de futebol. Gosta do time dele jogando futebol, o que é bem diferente.

Aqui em Sào Paulo é muito comum a imprensa tratar os times do Rio com razoável deboche.  Me lembro que em 2010, antes do jogo de volta, diziam numa emissora de TV que era um absurdo o Corinthians perder para o ridículo time do Flamengo. Eu não acho Love, Adriano e Pet ridiculos.

Tanto que eliminaram o Corinthians no Pacaembu, sob aplausos da Fiel, o que atesta uma partida boa do adversário e não apenas um jogo ruim do eliminado.

O Flu, que pra muitos aqui era “caso encerrado” em 2006, voltou babando. Ganha, chega, briga, contrata, faz o diabo.  E mesmo assim, desde sempre, há menosprezo. Aqui o Flu não foi campeão brasileiro. O Muricy foi lá e “deu pro Flu” um Brasileiro.

O torcedor, coitado, vai acreditando nas merdas que lê e ouve. Afinal, somos a fonte. Se damos água ruim, o torcedor fica doente. Não tem outra saída. Sem a mídia ele não sabe e sem ele nós não vendemos informação.

Mas que tal vender a informação certa?

Porque a regra dizia que hoje em dia era fundamental Reffis, CT e não sei mais que porcaria pra ser campeão. E por isso os cariocas não ganhavam, não era isso?

Ai ganha o Flu, ganha o Fla, o Vasco chega e… cade o Reffis do Vasco? Cade o CT do Flamengo? Cade a tese?

Sumiram todos.

Times cariocas não são citados e discutidos por 90% dos programas esportivos de São Paulo durante todo o ano. Mas basta um deles ser eliminado ou atrasar um salário que passam 2 horas menosprezando e debochando do clube.

Pior do que isso é a repetição irresponsável. Por falta de conhecimento, por preguiça de ir atrás e por achar que o mundo acaba na Dutra, informam errado, omitem méritos e inventam problemas nos vizinhos.

Se depender do que ouvimos, há 20 anos nenhum clube do Rio fecha um mes sem atrasar salários.

No Rio, Adriano é um vagabundo. Aqui, escondido pelo Corinthians e pelo SPFC, foi um “mau menino”.

No Rio, é porque é cultural. Aqui é profissionalmente inadequado.

Lá, quando R10 falta, é “varzea”. Quando descobriram que o Corinthians escondeu 50 atrasos, faltas e etc do Adriano, foi “jogada de marketing”.

E quando vem um time do Rio e ganha, tome bla bla bla pra explicar o que era mais fácil ter sido explicado no começo, onde bastava tratar má fase como má fase e não como fim dos tempos.

Hoje todo jornalista de São Paulo sabe tudo de Flamengo. Mas não, ninguém viu sequer o jogo de ontem. Mas como perdeu, é pauta. Se tivesse vencido por 4×0, acreditem, ninguém nem lembraria que teve jogo ontem por aqui.

Esse bairrismo é opcional, burro, mediocre, mas… é o que tem. Na sua opinião, por pior que ela seja, você fala o que quiser e ninguém pode te impedir. Mas informar errado é grave e tem um preço.

Quando você diz, por exemplo, que a Patricia demitiu o Zico, você está mentindo. E essa mentira custa ao jornalista que, amanhã, no Rio, não consegue as coisas ou é visto com receio pelos erros que os outros cometem.

Eu vou la, eu tenho audiência la. Eu sei como é chegar no Rio e dizer ser da imprensa paulista. Alguns dos meus colegas, que se limitam ao mundo de Palmeiras, Corinthians e São Paulo, não precisam ir. Logo, podem falar o que for o ano todo.

Não estou nem colocando a coisa naquela situação com o nordeste (Luciano do Vale) onde os caras ameaçam com pedras e tal. Não é isso, não.  É no trato com as pessoas do meio, não com o torcedor.

Porque os times do Rio não devem 20 anos de salários consecutivos, nem são todos piores que os de São Paulo em suas administrações. Euricos, Mustafas e Dualibs são a mesma coisa.

Mas isso depende do interesse de quem vê. E enquanto fizermos “jornalismo sob encomenda”, ou seja, pagando de ético e falando o que o cara quer ouvir e não o que de fato aconteceu, teremos cada vez mais problemas e menos credibilidade.

Se entre nós, vizinhos, que cobrimos os mesmos campeonatos, houver uma disputa para menosprezar o outro, como vendemos o produto como um todo?

É muita burrice a troco de miséria.

Pensa grande. O Flamengo precisa do Palmeiras como o Inter do Cruzeiro. Os 12 se sustentam e o futebol paulista, sem os 4 do Rio, tá falido e vice-versa.

Temos 12 grandes atrativos dentro de um grande produto para vender.  E vendemos só 3 ou 4 menosprezando os demais, diminuindo o valor do produto principal porque?

Burrice, bairrismo, mediocridade.

E pago o pato aquele que tentar não falar pra um só estado.

“Ah mas na Europa também é assim. O jornalista catalão é assim, o de Madrid é assado…”, dirá o fã de esporte.

Então muda pra lá, aplaude lateral, compra cachecol ao invés de bandeira e vai encher o saco em ingles e espanhol.

Ou então teremos em breve um campeonato nacional tão mediocre quanto o deles.  Coberto e comentado por “representantes de regiões”, não por jornalistas.

abs,
RicaPerrone

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