Carnaval

Ela… a minha Mocidade!

Conheci diversas, visitei e brindei a maioria delas. Melhores, piores, mais profissionais e mais amadoras.  Vi sambas de melhor qualidade, quadras mais empolgadas, ensaios mais organizados e até gente mais confiante.

Mas meus olhos brilham mesmo é em Padre Miguel.

Naquela nova e imponente quadra verde e branco, o Maracanã do Samba, fui conhecer de perto a minha paixão platônica. Era mais na comunidade, agora na Av Brasil, aquela onde “tudo passa, quem não viu”.  E se “Estrelas mudam de lugar“, a minha pode ir um bocadinho mais “pra lá”.

Com medo de me decepcionar, fechei os olhos e esperei o pior. Do caminho para a quadra à volta pra casa, prometi a mim mesmo que não esperaria nada além de um ensaio comum.

Pois meu amigo Diego Alves dizia que não. Que seria uma noite especial. Duvidei e, graças a Deus, estava errado.

Da chegada conturbada com erros no caminho e algum “medo” de me perder até subir no camarote numero 6, só ansiedade. É longe, quase desisti. Mas lembrei  que “Sou Independente , Vou a qualquer lugar”. E lá, então, a primeira decepção.  Diego havia armado para que eu beijasse a bandeira da escola nas mãos da porta bandeira.

Já no chão, ao lado da diretoria esperando para beijá-la, avisaram-me que de bermuda não podia. Só minha esposa poderia, portanto.

E lá foi ela, como num batismo, virar oficialmente torcedora da Mocidade. Confesso a inveja que senti, mas meu amor por aquela bandeira nunca esteve a perigo, o dela ainda não era tão forte. Se tornou.

Dali assisti ao começo do ensaio, cantei, aplaudi e subi de volta ao camarote.

Diego, mau caráter, sabia o que me aguardava. Mas não contou.

Até que em determinado momento ele me chama para “ir com ele” na direção da bateria. Ali, conheci Bereco, um dos mestres.  No caminho, o filho do presidente, que comentou sobre minha charge da escola, e por onde eu passava ia mostrando minha corrente com o simbolo da escola que carrego no peito.

Desci dentro da bateria, não é modo de falar.  E sim, nosso “Baticumbum é diferente. Não, não existe mais quente.”

Diego devia estar me achando um idiota, afinal eu não conseguia esconder a cara de felicidade plena só por pisar ali. Então ele me levou ao Andrezinho, mestre de bateria, filho do mestre André, o maior de todos.

O abracei, parabenizei, ele foi altamente gentil e disse me conhecer, ser grato pelo meu carinho com ele e a escola. Fiquei honrado, mas não esperava ganhar uma pulseira que tirou de seu próprio pulso para me presentear.

“A casa é sua! Ande, vá onde quiser, e se quiser até toque! A casa é sua”, ele me disse.

Depois disso ainda fui ao camarote do presidente ser apresentado. Ali pude desejar boa sorte a ele, sua esposa, mestre-sala e porta bandeira da escola, assim como diretores e integrantes que ali estavam.

Tirei fotos, diversas pessoas da comunidade me conheciam e eram “meus fãs”.  Fui tratado como alguém especial em meio a comunidade mais especial que há.  E no templo dos meus sonhos mais parciais e apaixonados pude conhecer o que é ser Mocidade de fato.

Não dormi tão cedo. Cheguei as 5, dormi depois das 7. Tentei de todas as formas não terminar aquela noite.  Até o sono me venceu e pude novamente sonhar com o que agora era uma lembrança e não mais um sonho. Lá é assim, quando a gente “chega é felicidade, Quando vai embora, é um mar de saudades”

Fui até lá para entregar um pouco do meu carinho por ela através de um gesto qualquer. Isso já me faria o cara mais realizado do mundo naquele dia. Mas lá, além de poder demonstrar tudo que sinto pela escola, recebi também um monte de abraços de gente que mal conheço, mas que se são Mocidade, são quase meus parentes.

Aprendi, na marra, o que ela havia me dito há tanto tempo: “Sonhar não custa nada”.

Lutei muito pra ser um jornalista com algum conceito entre os torcedores.

“E agora que me tornei realidade. Vou encontrar o meu futuro por aí. Curtindo a minha Mocidade”.

Tá chegando a hora. Mais uma vez na avenida, em busca do seu lugar de destaque.

“Padre Miguel, olhai por nós”, iluminai nossos  caminhos e abençoe nossa gente.

Domingo eu desfilo por ela pela primeira vez na vida.

E sei que “Meu coração vai disparar de novo”. 

Campeã? Duvido.  Rebaixada?

 “Pode rogar praga em minha sorte. Meu santo é forte e ninguém vai me derrubar “

Aprendi a respeitar todas as escolas e amar uma só. Em má fase, longe dos seus grandes carnavais, só uma fase.

Vai passar.

Porque como bem disse meu amigo Diego Alves, sem poder perpetuar: “Eu sou Mocidade e quero respeito. São 5 estrelas bordadas no peito”.

Olhai por nós, Padre Miguel.

abs,
RicaPerrone

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