Então, Pai…
Meu pai tem perto dos 70. Eu, 40. Nossa vida e relação sempre foi muito baseada no futebol. Ontem quando acabou o jogo o São Paulo foi a final e ele me telefonou pra comemorar. Moro no Rio, ele em São Paulo. Caso contrário estaríamos juntos vendo a partida, é claro.
Eufóricos comemoramos a vaga. Comentamos a defesa, o Cuca, enfim, as coisas do jogo. Ele sabe que no domingo que vem não poderei ver o jogo, estarei viajando. Mas no outro, na grande final, eu estarei em São Paulo. E então avisei entusiasmado:
– Pai! No dia da final é páscoa! Eu vou estar ai! Vamos na final!
Ele se empolgou. Começamos a planejar mais uma decisão num estádio, talvez a gente nunca tenha deixado de ir em uma desde 1978. Toda vez que nosso time decidiu um campeonato a gente esteve lá.
E logo enquanto planejávamos a ida me caiu a ficha.
– Pai, esquece…. Não pode. É torcida única.
– Como assim? Pode sim.
– Nao pode, pai. A gente nem ia poder comemorar.
Aquele silêncio.
Então tá. A gente combina durante semana, de repente vemos o jogo juntos em SP após o almoço. Sei lá.
Mas em 40 anos é a primeira vez que eu e meu pai “não podemos” ir a uma final.
Pagamos cativa, pagamos o clube, frequentamos ativamente desde que me conheço por gente. Mas nessa decisão eu não posso ir. E talvez se o meu time levar mais 10 ou 15 anos pra voltar a uma decisão eu nunca mais possa ir com ele a uma final.
Porque? Porque o estado tem medo de um bando de menos de 50 marginais organizados, uniformizados e com sede e cnpj que impede que pessoas como eu e meu pai estejamos no estádio do rival.
Já que 1% é imbecil, a gente pune os 99%. É mais fácil, mais covarde. E assim morre o futebol, que no fundo é só um pretexto. Em casa na tv o abraço será diferente. Mas pra quem fala de futebol nada disso importa. Importa o 442, a política da CBF, com quem transou o Neymar….
RicaPerrone