Eu queria ser Emerson Sheik
Seres humanos se dividem entre os que assumem a magoa, a raiva, o preconceito e a vontade de ver o “inimigo” na merda e os que tentam passar a vida mentindo.
Como a maioria, mesmo os que não confessam, eu adoro ver quem me detesta ter que me engolir. Me vingar de alguma ofensa, poder rir de quem riu de mim. Sou humano, me desculpe.
Outro dia alguém me perguntou se eu fosse jogador que jogador eu gostaria de ser. Mas que pergunta difícil! São tantos perfis, tanta gente parecida, tão distantes do meu mundo.
E então tentei encontrar alguém humano, exagerado, que cometa erros, que adore vencer, que não tenha medo algum de tentar fazer diferente e que quase sempre saia rindo. Ora, eu queria ser Emerson Sheik!
Eu adoraria poder ser jogador e enfiar a perna num argentino na Libertadores. Mas essa é a minha limitação. Se fosse Emerson Sheik, ganharia dele e ainda debochava sem perder a cabeça.
Sheik trabalha com o lado mais insuportável da vida: a inveja.
Todo rubro-negro, por saudades e inveja, queria vê-lo “se foder” no Flu. E ele foi campeão brasileiro, tirou os caras da fila, fez o gol do título.
Brigou. E então todo tricolor quis ver o Sheik pelas costas. Ele foi ser campeão da Libertadores pelo Corinthians, com 2 gols na final.
Deu merda. E ele foi pro Botafogo. Lá, o presidente o peitou e, pasmem, o demitiu! O time foi rebaixado.
Sheik voltou ao Corinthians. Sob a desconfiança infundada de que havia acabado pro futebol, retomou sua posição no time e mais uma vez brinca com os adversários e ajuda seu time a vencer.
Emerson é um vencedor irritante. Um sujeito que joga na sua cara apenas ao passar na sua frente o quanto ele venceu e, se for um adversário direto, o quanto você perdeu.
É rico, veio do nada, se diverte, troca de namoradas e não dá a mínima para uma mídia que tenta fazer de sua vida uma novela. Sorri. Mostra o recibo, dança na camera e dá selinho no amigo.
Sheik não está nem aí pra ninguém. Porque ninguém conseguiu pará-lo.
Sim, eu queria ser Emerson Sheik.
Não queria que ele casasse com a minha filha. Talvez nem quisesse ter um filho como ele.
Mas o futebol precisa de mais Sheiks do que Kakás.
abs,
RicaPerrone