Garotos não jornalistas tomando espaço dos jornalistas. Torcedores derrubando a credibilidade dos profissionais de imprensa.
O público buscando cada dia mais quem torce do que quem finge ser superior a tudo aquilo.
Há uma crise no jornalismo esportivo brasileiro, uma resposta dos torcedores e uma tendência fácil de explicar.
No Sul, tem o Grenalizando. Um programa de torcedores que tratam o futebol como ele é. Sem a falsa ideia de que não torce pra ninguém, de que não sente raiva, de que não fala palavrão e não reage de forma apaixonada após a partida.
No Rio tem o Rock Bola (e também o Popbola) que são parecidos, no rádio, mas tão sensacionais quanto. Eles destruiram a audiência dos “debates malas” padrão de futebol das rádios AM.
Surgiu agora essa polêmica no final de semana. Jornalistas reclamando dessa “inversão de valores”.
Ora, meus caros colegas, vamos saber reconhecer derrotas. Ainda mais as que são por goleada. Se o torcedor sem diploma se comunica com torcedores melhor do que nós, ou somos muito ruins, ou eles muito bons.
Partindo de um meio termo, estamos fazendo algo errado, eles corrigindo pro lado certo sem ter tido 4 anos de aula de como se comunicar. Talvez porque sejamos arrogantes, talvez porque tenhamos perdido a paixão.
E sem paixão, como sempre digo, não tem como trabalhar com esporte ou qualquer outro entretenimento.
Pessoas de olhar opaco, transmitindo “cansaço” de tudo aquilo, um ar de quem “já viu de tudo e nada mais mexe com ele”, ou aquele discurso imbecil que tanto contesto nos padrões ESPN Brasil onde se avalia tudo que deu errado pra depois, se der tempo, falar do que foi apaixonante.
Na Copa, pra se ter idéia do tamanho da estupidez, a ESPN colocou no ar ao vivo um uruguaio e um argentino chorando de alegria pela classificação de seus países como comentaristas. Não houve um jornalista na emissora capaz de torcer pela seleção brasileira.
O torcedor ama futebol e seu clube. Quando procura futebol ele quer lazer, não problemas. Ele quer um espelho de alguém que sinta o que ele sente, que seja capaz de entende-lo, não de menospreza-lo.
As demissões em massa, a perda de espaço e a troca de “profissionais” por torcedores não é apenas uma tendência como também uma aula prática. Aprende quem quiser/puder.
Eu estive na Copa do Mundo e quando o Brasil fez o gol contra a Croácia, o primeiro da Copa, o primeiro gol em copas de muitos jornalistas que ali estavam, a maioria não tirou as mãos do teclado pra vibrar.
Sem exageros. Se sou editor de um portal/emissora, tanto faz, e meu funcionário que cobre futebol não reage a um gol da seleção na Copa, em seu país, no jogo de abertura, eu mando embora.
E não é uma forma de falar. Eu mandaria embora 80% dos meus colegas jornalistas se fosse chefe deles. Não sou. Sou meu chefe, apenas. E me oriento para tentar estar sempre o mais próximo do que sente um torcedor, não do que acha um jornalista.
Grenalizaram o Rio Grande do Sul! Porque não há diploma pra falar de amor. Apenas apaixonados conseguem.
E nós, jornalistas, frígidos, estamos cada vez mais sozinhos. Graças a Deus.
abs,
RicaPerrone