Temos nas mãos um caso para mudar o futebol brasileiro. Um caso para gerar reflexão coletiva, mudar a forma de administrar clubes, egos e relacionamentos.
Na nossa cara um outdoor com letras enormes dizendo: “Olha aqui! Vocês estão diante de um erro enorme! Atenção!”. E ignoramos, passamos reto, discutimos a grama no acostamento, mas não o que diz o outdoor.
A mediocridade em busca do ibope, do bairrismo e do clubismo enforca o futebol brasileiro. O São Paulo passou anos indo na justiça comprar jogador. Seus torcedores, tolos, achavam que era “o máximo” ser espertão que não pagava pra trazer talentos.
Os anos passam e o óbvio acontece. Um dia alguém vai usar do mesmo argumento para tirar um jogador do SPFC. É tão óbvio quanto a falência de prostituta depois dos 40.
Se você vive fazendo, se você dá o caminho para que passe por cima do clube e tire o jogador de graça, um dia alguém vai tirar o seu. É patético achar que não, mas por clubismo, sempre achamos que não.
O Inter pegou Oscar de um clube que não tem moral nenhuma pra reclamar disso. E agora, o Inter também não. Até porque, se achando inteligente como o SPFC se achava, não notou que está, também, abrindo precedente para perder os seus garotos amanhã.
O lógico dessa história toda é muito simples.
Não podemos julgar quem tem razão no caso Oscar x SPFC. So quem sabe o que tem ali nos contratos e no processo pode, e pelo que sei nós jornalistas não temos isso em mãos. Se tivermos, não temos capacidade juridica pra analisar.
Portanto, se ele está certo ou errado em processar o SPFC é uma discussão meio vazia. O que não torna sua atitude bipolar de exaltar o clube na sexta e processa-lo na segunda comum. Alguém mudou a cabeça do Oscar.
Ninguém me contou. Tinha bom relacionamento com ele no SPFC e sempre nos falavamos. Era um garoto grato ao clube, fazendo mil planos de jogar no Tricolor até que, um dia, mudou radicalmente e processou o clube. Ou ele é maluco, ou alguém fez a cabeça do garoto.
A questão é que o Inter não devia entrar nessa. Pois amanhà quando o seu garoto ganhar uma liminar, outro clube fará o mesmo. Se ninguém pegasse o Oscar, ele tinha voltado rapidinho pro Sào Paulo pedindo emprego.
O Inter o abrigou, e assim, deu asa pra cobra. A cobra não sabe voar, mas o empresário sabe. E fez da carreira do garoto um inferno.
Culpa do São Paulo, que já fez uso disso para contratar. Culpa do Inter, que repetiu sabendo que vai pagar o pato amanhã. Culpa do Oscar, que não sabe o que quer e muda de idéia em 24h. E culpa nossa, da imprensa, que não estamos conseguindo ver o que isso quer dizer.
Não diz respeito a São Paulo x Inter. Não diz respeito a patética mania de alguns gaúchos em achar que não gostamos deles ou que temos um duelo Brasil x Rio Grande do Sul. Diz respeito a ética, a forma de conduta e a aula de o quanto agir coletivamente é mais lucrativo pra todos.
Se fossem inteligentes, os clubes se falariam e ninguém compraria jogador que processa o clube formador. Assim, os empresários não fariam. Mas como são medíocres e só enxergam 2 meses a frente, fazem. E amanhã pagam por isso.
Não há vitima nisso. O garoto não tem personalidade nem de ir ao Morumbi e sentar na mesa com o presidente do SPFC, que por sua vez fez isso o tempo todo e agora reclama que fazem com ele. E o Inter, o “novo burro”, que fez e, fatalmente, amanhã levará uma bola nas costas igualzinha, como o SPFC está levando.
O caso era pra fazer o futebol brasileiro refletir e crescer. Está fazendo só barulho.
Porque somos medíocres quando temos bairrismo e clubismo na nossa frente.
Paixão as vezes custa caro.
abs,
RicaPerrone