Meu “influencer”
Você consegue pensar rapido e lembrar de alguém mais brilhante, vencedor e talentoso do que Silvio Santos? Talvez em alguns minutos, mas não vai ser uma resposta rápida.
Você conhece quantas pessoas que conseguiram sem recursos mudar um mercado de bilhões, barões e chefões?
Quem resumia tão bem um desejo numa frase ou conseguia te fazer desejar o mesmo num palco? Quantas vezes você acelerou em casa pra saber se a pessoa ia ou não ganhar o prêmio na porta da esperança? Quem nunca abriu um sorriso domingo ao passar pelo SBT e ouvir uma gracinha do Seu Silvio?
Falar do Silvio Santos é chover no molhado. Então vou falar de mim, que ninguém liga.
Eu odeio influenciador e coach. São as duas maiores provas de que o brasileiro é um povo burro. Mais do que esses dois, eu odeio aquele cara que abriu uma padaria, deu certo, e passa o dia na internet dando aula de empreendedorismo e dicas de liderança. Esse cara pra mim é o maior fracassado de todos.
O cara que não satisfeito em ter precisa mostrar que tem, provar que venceu e ousar dizer que sabe o que você tem que fazer para. Como se fosse possível entender que o método de liderança ou gestão de alguém cabe a todos, especialmente pelo lado humano de todo negócio.
Mas enquanto tiver gente idiota vai ter malandro ganhando em cima. Silvio Santos nunca deu um curso de como ser apresentador. Nunca fez um perfil pra te ensinar a ganhar dinheiro ou dar dicas de liderança. Nunca mostrou o almoço caro, a dieta que ele fez ou a piscina que ele comprou pra que você o invejasse e o seguisse pra ver o que você não poderá ter.
Melhor do que isso. Ele nunca ganhou mais dinheiro por fingir ter mais do que tinha pra tomar de você o tanto que ainda faltava.
Silvio Santos, como Zico, Senna e alguns outros, é meu influencer.
Eu só conhecia seu lado profissional. Porque o lado pessoal de alguém é e sempre será uma mentira midiática. Toda vez que uma camera é ligada você entrega a sua versão para as massas. Quando ela fecha é que você é você. E ali, naquela intimidade, pouquíssimas pessoas sabem de fato quem você é.
Então não, eu não acho que conheço as pessoas que eu admiro. Eu conheço o cantor, o jogador, o piloto, o apresentador. A pessoa, por exeperiência de 27 anos conhecendo tudo que é famoso de todas as áreas, eu te garanto: você não tem a menor idéia de quem seja.
E talvez por não conhecer eu respeite. Talvez por notar a falta de questão em validar-se como marca e preservar-se como humano eu goste tanto dessas pessoas que citei.
O bom líder não se faz professor. O bom rico não entrega a fórmula da riqueza. O homem feliz não faz questão de vender sua felicidade pros outros. E quem é muito rico de verdade não vende curso e dicas de porra nenhuma.
Sua mulher é problema seu. Sua família fica na sua casa e não no seu pacote de entretenimento. Seus problemas você resolve e suas dores você guarda pra quem te ama, não pra um storie chorando.
Meus influencers faziam o que lhe cabia brilhantemente e mesmo sendo “públicos” zelavam pela privacidade. Nunca me venderam inveja, apenas admiração.
Eu nunca soube que o Zico comia uma carne no almoço que eu nunca teria dinheiro pra comer. É bem possível que ele tenha isso todo dia no Japão. Mas ele não precisava que eu o invejasse, só que o respeitasse.
Sai Pelé, entra um jogador de um time inglês qualquer que não sabe nem quem foi Ademir da Guia.
Sai Silvio Santos, entra um youtuber que mostra sua mansão alugada até ter views o suficiente pra compra-la de fato fingindo já te-la antes disso.
Sai o Senna, entra algum piloto que prefere a pena do seu povo do que o orgulho dele.
Uma geração de revolucionários e criadores está nos deixando para uma geração de oportunistas que prezam pelo caminho mais fácil e rápido e não pela excelencia.
Morre hoje meu influencer. E eu nunca soube o carro que ele tinha, nunca comprei um curso dele nem mesmo acreditei numa cena de família perfeita pra consumi-lo e deixa-lo mais rico.
Morre uma idéia de luta com tentativa e erro, fica a idéia de que se você seguir as dicas do fulano você vai ficar rico da noite pro dia.
Morrem conceitos firmes e o orgulho da luta. Ficam os injustiçados por uma sociedade cruel que se negam a lutar por serem vítimas.
Não haverá outro Silvio Santos. Simplesmente porque não tem como fazer uma coisa pela primeira vez duas vezes.
Que a família fique bem. Porque nós não vamos ficar. Nossos filhos estão chorando vendo a dor da gorda que foi chamada de gorda. Enquanto nós vimos o camelô que queria um programa na tv criar um canal de tv pra ter o programa que ele queria.
Viva Silvio Santos! Viva nossos pais! Viva nossos avós! Viva uma geração que está morta.
RicaPerrone