Não é tão simples
É fácil chegar a uma conclusão sobre a má fase da seleção brasileira. Décima terceira no ranking que nunca foi parametro de nada, mas que agora virou relevante. Eliminada pela finalista Holanda na Copa, derrotada nos penaltis na Copa América e medalha de prata nas olimpíadas.
O que pra muitos seria grande momento, pra nós é crise.
E até é. Afinal, somos os melhores no que diz respeito a futebol. Sempre tivemos e ainda temos não só os melhores do mundo como principalmente um leque enorme.
O futebol mudou. Não por acaso a seleção decaiu muito.
Eu não vou entrar no discurso pré-fabricado de que “falta raça”, “falta vergonha”, porque não acho que falte. Acho que o time corre, se esforça, não vejo um time “bunda mole” em campo desde 2006.
O que falta, talvez, é olhar em volta.
Ontem o futebol era resolvido na técnica individual. Não por acaso a seleção dava show. Com o tempo, o coletivo evoluiu e, com menos treino, mais defesa e menos espaços, o Brasil deixou de sobrar em campo.
Veio a parte física e transformou o futebol num jogo diferente do que foi um dia. Além da gigantesca facilidade em destruir, preencher espaços e conter um time mais qualificado, veio também a cara-de-pau de jogar como nanico.
O que antes só uma Suiça talvez fizesse hoje qualquer Holanda faz se necessário. E contra o Brasil, sabemos, é o jogo da vida de todo mundo. É o jogo onde ninguém se sente superior, onde somos sempre os favoritos.
O futebol “evoluiu” (será?) pra um formato onde a técnica manda menos e a individual menos ainda. Assim sendo, um catado de jogadores que não jogam juntos tem dificuldades que não tinha ha 30 anos.
A Espanha é a união de 2 times. A Alemanha de 3. Não a toa, os que melhor jogam futebol hoje em dia.
Itália não joga nada há séculos, a Argentina é digna de pena há décadas e a Alemanha, que joga bem, tem nossa tolerância por não vestir amarelo. Se vestisse, coitada…. “Os pipoqueiros”.
O nosso “junta” uns 15 times, aqui e lá. Não é mole.
Não sei se a idéia de termos sido “lesados” pela evolução do futebol lhe cai bem. Não sei se é “só isso”, nem se “principalmente isso”.
Mas procuro explicações menos óbvias e vazias do que as que escuto todo santo dia ha 10 anos. Ou, até, 11 anos atrás, quando prepando-se para ser penta, a seleção ouvia estar em decadencia e ser “um lixo” tático e de correria.
Venceu, todos esqueceram.
Foi na vitória, em 1994, após a dolorosa derrota de 82, que o futebol virou resultado também por aqui. E desde então, num futebol cada dia mais competitivo, pegado, sem tanta diferença técnica e sem espaço para show, a seleção perdeu seu grande charme que era exatamente o show.
Se é pra torcer pra ganhar, temos nosso time. Queremos mais, queremos o show.
E o futebol, hoje, não permite show a quem não treina muito por muitos anos juntos. Não é o caso, nem pode ser.
Culpa de ninguém, se é que isso passa pela cabeça de algum cidadão na era da caça as bruxas.
abs,
RicaPerrone