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Nunca aconteceu

Acabou. O nosso direito de conversar com amigos, brigar com a namorada, falar mal do chefe e dizer que de fato acha determinado local “uma merda”, acabou.

Sem nosso consentimento, diga-se.  Mas acabou.

Não sei se você já se deu conta que todas as brincadeiras racistas, homofobicas e aberrações machistas ditas entre amigos num boteco qualquer, hoje, estão arquivadas e podem leva-lo a julgamento.  Não o da justiça, esse é até tosco perto do massacre virtual que se faz.

Talvez você não perceba, mas tudo que você acha da mãe da sua mulher está também gravado. Tal qual o que você pensa sobre seu chefe, aquela amiga que você suspeita ser lésbica e aquela fofoca maldosa que “sem querer” você passou adiante.

Era tudo besteirinha. Agora é crime.

Eu não vou fazer o papel ridículo de fingir que não falo absurdos com amigos, nem falo mal de ninguém ou xingo pessoas para terceiros. TODOS nós fazemos. Em algum momento nós falamos que odiamos um lugar, uma pessoa, ou que queremos que fulano se foda.

Pegar isso e expor a público como uma “declaração” de alguém é de uma falta de caráter incalculável.

Quando Eduardo Paes falou de Maricá, falou o que amigos falam entre si numa mesa. Sim, Maricá é um lugar menos bom que Angra. A piada era essa.

“Como prefeito ele não pode dizer isso”. Ele não disse.  Ele disse como “Dudu”, ao telefone com um amigo.  E sim, ele pode. Do mesmo jeito que você pode falar que seu ex é um filho da puta broxa pra suas amigas.

Uma vez um jogador falou que em Belém não tinha muita mulher bonita.  Coitado, foi pisoteado.  Como se alguém numa conversa informal não registrada soltasse por aí: “Quer ver mulher bonita? Vá a Belem! Esquece Santa Catarina! Vá a Belem”.

Não, você sabe que não.

Porque a gente tem que fazer cara de assustado pra coisas que fazemos no dia a dia? Porque é tão assustador o Felipe Melo falar “tanto palavrão” num audio pra um amigo?  Tu não fala não? Ah, tá.

Queridos, sejamos honestos, mais tolerantes e menos hipocritas.  Se o whatsapp virasse amanhã um site aberto com todo seu conteúdo publicado, não haveria um casamento em pé, um emprego mantido, uma família unida e um só sujeito capaz de se achar no direito de atirar pedras.

Felipe falou pra um amigo. Não pro Cuca. E se ele disse isso no particular, nunca aconteceu.

Ou você consegue pensar na sua vida transformando tudo que você disse até hoje em “declaração pública”?

abs,
RicaPerrone

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