O 352 não é opcional
É muito comum ouvir por ai que o time tal é retranqueiro porque joga com 3 zagueiros. Assim como é bem possível alguem ver 3 atacantes numa escalação e achar que o time é ofensivo por isso. Na verdade, é besteira. Não é o número de jogadores na frente ou atrás que determina a postura de um time.
O 352, tão questionado por ai, é um esquema cada vez mais adotado no Brasil e jogado fora na Europa. Mas, ao contrário do que muitos pensam, ele não é opcional a qualquer treinador. É preciso peças fundamentais para que funcione.
Quando você monta um 442 simples, com 2 volantes, 2 meias, laterais, zagueiros e 2 atacantes, você está, no mínimo, distribuindo seu time em campo de forma equilibrada. Em momento algum, em tese, o adversário terá espaço no meio sobrando, pois existem 4 jogadores por ali. Não terá como partir pra cima de você com muita força, pois você terá sempre 2 atacantes e 2 meias prontos para contra-atacar.
O 442 prende mais o adversário, assim como o 433. Cada um a sua maneira, mas na verdade este numero que representa um esquema diz respeito apenas a posicionamento, nada alem disso. A postura é totalmente dependente do rival e dos jogadores.
Exemplos práticos do que estou dizendo:
Quando o Fluminense colocou 3 zagueiros em campo ele dá liberdade ao Dieguinho e ao Mariano. Mas, como o Diguinho não é um jogador de ficar preso apenas a marcação, ele obriga o Cuca a usar outro volante. Assim sendo, o Fluminense joga toda a responsabilidade de criação no Conca. E quando ele está marcado, a coisa fica preta. Por isso, Cuca tem usado o 442, sacado o garoto Digão (ótimo jogador) e dado mais opção lá na frente prendendo o Diogo ou o Mauricio no meio.
Quando o São Paulo 2009 tenta fazer esse jogo no 352, ele comete um erro grave. Ao escalar 3 zagueiros você pede pra que o adversário venha mais até seu campo, naturalmente, ja que seu meio-campo está menos numeroso que o dele. Ao retomar a bola na sua defesa e não na intermediaria, você tem mais espaço pra contra-atacar, porém, quando deixa claro que apenas J Wagner e J. Cesar vão avançar nessa retomada, o adversário consegue anular facilmente. Se houvesse jogada pelos dois lados, funcionaria melhor. Como em 2005, onde o Cicinho cansou de virar meia/atacante preenchendo os dois lados do campo quando a bola era retomada.
Quando o Palmeiras joga com 3 zagueiros, o Armero cresce. E considero, inclusive, o formato ideal pra este time. Porque? Simples. Você tem o Pierre pra ficar na frente da zaga, e ele raramente avança. Dois meias, um de cada lado, e laterais que podem avançar. O time ficaria solto, rápido e muito perigoso. Alem de agredir bem, evitaria que o rival viesse com força.
E como sempre digo, o melhor jeito de se defender é preocupando mais o seu rival. Quanto menos gente ele mandar pro seu campo, menor a chance dele fazer gol.
Lembra do SP do Tele? Qual era a sacada daquele time?
O Cafu era um ponta, o Victor lateral. O Muller abria o tempo todo, enquanto o Rai fazia as vezes de meia e atacante. Não havia um pilar na frente esperando a bola, e tambem não havia nada de 442, 352. O adversário ficava perdido, e quando vinha, fazia 2, mas tomava 5.
Uma das jogadas mais impressionantes daquele time era tão simples que dava pena dos rivais. O Zetti chutava pro alto e fatalmente o Rai ganhava de cabeça. Quando ele fazia isso, o Pintado já estava atrás, o Cafu de um lado, Palhinha do outro e o Muller a frente. Pra onde fosse a bola, tinha sobra tricolor. Quando, por exemplo, o Cafu pegava essa bola, o Rai virava de FRENTE pro gol e ia concluir, o Muller abria de um lado, o Vitor passava de outro e o Palhinha puxava a marcação pra cabeça de área. Era mortal. Opção pra todo lado. E isso é a melhor defesa do mundo, porque seu adversário não é maluco de vir pra cima de você.
O Mengão 2009, por exemplo, tem um segredinho simples. O Pet fica mais pela esquerda, o Zé Roberto também, e o Juan avança. Ali, morre o lateral direito adversário. Com isso o Maldonado pode cair pra fazer a cobertura mais pra direita e dar ao Willians total liberdade de ir e vir, jogando nas costas do outro lateral adversário. Quando não vai ele, vai o Airton, ou o Toró. Mas repare. Sempre um deles cai do lado direito pra dar opção de saida de bola. O Flamengo capenga pro lado esquerdo lá na frente e capenga pro direito atrás. Quando o time avança, fica equilibrado. Quando defende, idem, pois o lado direito do adversário não sobe.
E aí tem o fator mais importante do futebol que é a técnica. O Flamengo joga na base da técnica. Dribles, passes, gols do Adriano, lances do Pet, etc. Não é um time tão tático. É um arroz com feijão cheio de imprevisibilidade.
Você lembra da seleção de 94? Pois bem. Imagine aquele time com 3 zagueiros. Teria alguma condição de dar certo?
Não. O Dunga e o Mauro Silva, mais 3 zagueiros, fariam o time viver de bicão. Romário e Bebeto não são altos pra receber uma bola alta e brigar por ela. Coisa que, por exemplo, o SP insiste com Washington. Se tivesse Dagoberto e Paraiba no ataque, por exemplo, nunca que ia jogar no 352 que joga hoje. Mudaria, ao menos, o meio campo.
Basicamente, o 352 dá campo pro rival chegar. O 442 empata o numero no meio, o que tranca mais o jogo. O 433 é um risco pela ousadia de tentar segurar 4 adversários na defesa o tempo todo. Porem, quando a bola sai da defesa, você tem um a menos no meio campo, que é onde se concentra o jogo a maior parte do tempo.
Portanto, caro amigo, esse papo de “joga no 442”, “joga no 352”, “joga no 433”, não é tão simples quando a gente imagina. O que parece ótimo no Palmeiras, não funciona pro Gremio, e vice-versa.
Puts, agora que me dei conta! Consegui escrever um post inteiro sobre tática, forma de jogar e o escambau sem falar mal do Muricy!!!!! ahahahahaha
abs,
RicaPerrone