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O “cala a boca” de André Dias

0,,32985542-DP,00Quando chegou no SPFC André Dias era um ex-zagueiro do Goiás e só. Tinha jogado no Flamengo, e mal. Sua reputação era “estranha”, já que ele chegou com status de grande zagueiro sem ter conseguido nada num grande clube até então. E não era um menino, convenhamos.

Ficou meses enrolado na justiça até poder jogar. Quando entrou, afundou o time contra o São Caetano na semi do Paulista e cometeu outras falhas menores em outras partidas. Desde então, questionei o real potencial do tal “André Dias”.

O tempo passou, e em janeiro de 2008 André se apresentou magro. Cerca de 5 kilos, alto notável para um atleta. Pela primeira vez fui entrevistá-lo, e me surpreendi com o bom nível do sujeito.

Eu o apelidei de “Preta Gil”, pois ele era famoso, tinha status, mas ninguém sabia exatamente porque. Jogou em times pequenos, e no unico gigante que jogou, não jogou.

Um dia, encostado no murinho do CT, André e eu começamos a conversar.  Notei um sujeito educadíssimo, inteligente e cheio de história pra contar. Perguntei sobre o Flamengo, fora do ar.

Ele me contou que tinha muita magoa porque queria muito ter jogado bem lá. Mas, por uma sacanagem de um dirigente empresário que levava o dele por fora na época, o jogador foi encostado para que o André Bahia pudesse jogar e ser vendido. Dias ficou muito decepcionado, e nas raras vezes que jogou, pagou pela fase do time e pelo total desentrosamento.

Saiu do Fla sem moral. Era o momento em que sua carreira decolaria, mas na verdade ela se afundou. Foi jogar em times menores até chegar ao Goiás. Lá, se destacou e veio para o SPFC.

Me contou do quanto sofreu com o periodo na justiça, da tristeza que ele sentia em ser considerado um zagueiro ruim pela torcida do Flamengo, e da vontade que tinha de provar o contrário.

André não falta no treino, não recusa entrevista, dá bom dia quando te encontra, treina e joga sempre no limite do seu esforço.

André sente magoa em relação ao Flamengo, mas não porque odeia o clube, e sim porque queria ter vencido lá.

Ele se firmou no SPFC. E quando já era titular ha algum tempo, uma coisa curiosa aconteceu.

Em 2008, quando sua fase já era boa, terminou uma coletiva e eu ainda tinha 3 perguntas pra fazer. Ele continuou lá e me deixou terminar a entrevista sozinho.

Perguntei sobre a Libertadores, ele respondeu.

Sobre o clássico que viria, ele respondeu.

Até que perguntei sobre uma possível ida dele para a seleção um dia. Eu não me esqueço daquela cena.

Ele abriu um sorriso, ficou completamente sem jeito, os olhos dele brilharam e ele disse. “Voce é o primeiro cara que me pergunta sobre seleção. Se um dia eu for, a camisa é sua”.

Ele foi. Em 2009, e eu nem fui lá cobrar a camisa. Mas fiquei feliz.

André é um cara que muito critiquei quando chegou. Que cheguei a desconfiar do potencial e da condição de jogador de time grande um dia. Aos poucos, ele calou minha boca.

Como pessoa, como jogador, como zagueiro da seleção e agora como um valioso jogador que está a caminho da Europa por alguns milhões de reais.

Um puta sujeito, dos raros que conheci no futebol e guardarei coisas boas. Um baita zagueiro.

Alguém que calou minha boca dentro e fora do campo. E que não tenho nem vergonha de admitir: Errei feio.

Boa sorte, André!

E não esquece minha camisa!

abs,
RicaPerrone

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