Não vou chegar aqui e dizer que todos os clubes do Brasil praticam as barbaridades que a diretoria do Cruzeiro foi acusada de praticar. Mas poderia. Correria um risco de ser injusto com 2 ou 3. Não mais do que isso.
O futebol brasileiro é extremamente problemático por causa das noções básicas de poder. Clube, como a Petrobras, é cargo de confiança. E confiança em país de sem vergonha como o nosso é “esquema”.
Se o Cruzeiro tivesse um dono esses valores absurdos não seriam pagos, afinal, estaria saindo do bolso de alguém. Não tendo, no modelo Brasil, o dinheiro não é de quem opera e, portanto, foda-se.
Não é o Cruzeiro. É o Brasil. Dinheiro dos outros é farra.
Não sou a favor que o clube pague institucionalmente quando acontece algum crime individual. Mas quando esse crime tem o aval do conselho em troca de churrasco, aí o crime é institucional.
Não, ninguém matou ninguém. E nenhuma, repito, NENHUMA, atitude dessa diretoria apontada ontem no Fantástico é exclusiva do Cruzeiro.
Vou dar um exemplo político pra que até o leigo entenda. Já notou que na possível relação do Queiroz em colher a verba de gabinete com conhecidos e pegar de volta não há partidos políticos cobrando investigação? Porque eles estariam cobrando um método comum a todos eles. E portanto, se ferrariam junto. Cobramos dos outros só o que não fazemos publicamente. Não haverá comoção anti-Cruzeiro na CBF. Pode ficar absolutamente tranquilo quanto a isso.
Pagar organizada, dar dinheiro pra empresário, pagar mais do que deve pros parças em nome do clube, empresa fantasma pra passar dinheiro, uso da base pra esquema… infelizmente nenhuma novidade.
Mas é como eu escrevi uma vez sobre o Vasco. Quando um filho da puta faz isso com o clube não assusta. Quando o conselho fecha com o filho da puta e passa e esconder isso, algo de muito errado aconteceu.
“Amor ao clube”. Essa idéia de administração e indicação a cargos deveria sumir. Ninguém ama mais ao clube do que a si mesmo, e portanto os interesses pessoais, ainda que seja só o ego, virão sempre na frente.
Donos. Funcionários. Cobrança. Meritocracia e dinheiro com origem e fim.
Caso contrário vira Brasil. E quando vira Brasil a gente sabe o resultado…
RicaPerrone
