O disfarce
Nas cadeiras do Pacaembu havia um tricolor. Escondido em meio ao mar alvi-negro, mandante do clássico, se comportou como planejado durante o jogo para não ser descoberto.
Quando Antonio Carlos fez 1×0 para o adversário, ainda aos 9 minutos, foi tão convincente que aplaudiu em pé o gol do “seu Curintia”. Em seguida, quando Ganso fez o que fez de onde fez, apenas baixou a cabeça, como que escondendo o sentimento de raiva, que na verdade era de euforia pura.
Luis Fabiano vira o jogo e o tricolor disfarçado aperta o celular com uma força incomum, mas suficiente para aliviar a vontade quase incontrolável de gritar gol no meio “deles”. Ao contrário, ainda ironiza em voz alta: “Pipoqueiro! Só faz quando não vale nada!”.
2×1, o jejum vai terminar. Apreensivo, ele olha mais em volta do que pro campo, esperando que um amigo rival o surpreenda e acabe com sua saúde ali mesmo.
Mas neste intervalo, enquanto se escondia e torcia, Antonio Carlos fez mais um gol contra. E lá estava ele, em pé, aplaudindo o gol alheio.
O tempo passa. Aos 33 minutos do segundo tempo, já nem pensa mais em ser descoberto após ótima atuação nos dois gols rivais, com aplausos e socos no ar. Até que uma bola é levantada da esquerda, cruza toda a área do Corinthians e encontra Rodrigo Caio, o único zagueiro que sabia pra que lado atacar no time, que empurra pro gol.
E então nosso amigo, que tanto disfarçou, não se entrega comemorando o gol. Se contém. Mas ao ver Muricy voltando pro banco de reservas grita: “Tira o Antonio Carlos, Muricy! Tira agora, pelo amor de Deus!!!”.
E em linha reta, sem olhar pra trás, caminha na direção dos policiais para que seja protegido. Dali, passou para o setor da torcida do SPFC sob vaias e ofensas. E lá, enfim, pode comemorar a vontade a vitória tão suada quanto merecida deste clássico.
Passou por torcedor rival, é verdade. Mas a partir de agora, ai daquele que do lado de lá não fizer isso nas próximas duas rodadas.
abs,
RicaPerrone