Era uma tarde qualquer de terça-feira há mais de 15 anos. Julio Casares era diretor de marketing do São Paulo e fomos almoçar no antigo Vento Haragano, na Rebouças. Eu tinha um site chamado Estação Tricolor e independente disso tenho uma história de vida dentro do SPFC que poucas vezes contei. Um dia conto.

Enfim, conheço todos os dirigentes do clube de infância. Cresci ali, fui sócio desde o meu nascimento, fui a mais de 1000 jogos só contando os que paguei pra ver sem ser como jornalista. O SPFC sempre foi o carro chefe da minha vida até ter que dividir meu coração com os demais clubes por profissão e gratidão.

Naquela tarde eu sugeri ao Julio que viesse candidato a presidente. Ele me disse que pensava mas que achava que ainda não era hora. Insisti, achava ele um cara com ótimo perfil pra tentar remediar o cenário de arrogância que o SPFC estava criando na sua imagem. E ele me prometeu que um dia viria.

Mas naquele dia, há 15 anos, eu pedi uma coisa a ele. Ele vai se lembrar disso se perguntado. Eu disse que o maior orgulho que eu tinha não eram nossas conquistas e sim quem nós eramos. E que estava absolutamente errado brigar pela taça de bolinhas, que era polêmica na ocasião.

Ele não discordou. Mas entendia os motivos politicos que faziam o Juvenal não devolve-la ao dono de fato, que é o Flamengo conforme assinado pelo próprio SPFC em 1987.

Disse a ele que não há marketing maior pra um clube do que agir como grande. Que nossa história remetia a seriedade e um clube correto e que, portanto, aquela situação me incomodava. Pra quem não sabe o SPFC criou a Copa União, assumiu junto do Flamengo e dos demais que não haveria confronto com o módulo amarelo e na figura do próprio Juvenal, diretor na época, assinou que reconhecia o título brasileiro conquistado por Zico e cia.

Como que 20 anos depois você apaga isso tudo por uma taça horrorosa que nasa significa? Eu não aceitava aquilo e já tinha dito pro Juvenal algumas vezes. Assim como Julio, ele nunca me disse que discordava. Só que politicamente era difícil. E eu entendo, mas ainda assim, eu brigaria por ser o clube diferente.

Hoje o SPFC é abraçado pelo Uruguai por sua postura diante do ocorrido com o jogador do Nacional. Hoje o São Paulo se faz ainda maior e ganha mais respeito internacional que teria conquistado com um ou dois títulos por aí. E é nisso que eu acredito.

Aprendi isso quando fui pra Orlando a primeira vez e notei que os parques da Universal eram consideravelmente melhores e mais novos que os da Disney, mas que ainda assim você comprava os 4 parques da Disney e se desse o da Universal e não o contrário. Porque?

Porque os valores da Disney te pegam. A Universal é só um parque. A Disney até tem um parque, mas e só um detalhe.

Hoje talvez o Julio se lembre da nossa conversa. Porque naquele dia eu disse que gostaria de ver algum presidente do SPFC botar a taça na mala, pegar o avião e descer na Gávea com ela, entregando em mãos ao presidente do Flamengo e reconhecer o “erro”.

Hoje talvez seja um dia que você, que sequer sabia desses bastidores, entenda o que eu queria dizer.

O maior não necessariamente vence mais. O maior as vezes é apenas diferente. Se você puder somar ambos você se torna soberano, mas sem acreditar nessa conversa em campo e nem se tornar um clube soberbo como erramos desde 2008 e pagamos por 15 anos.

Hoje o Uruguai nos reverencia. E sigo esperando o dia que o Brasil vai aplaudir a nobre atitude que pode não apenas corrigir a história como ser um passo para, quem sabe, os clubes brasileiros entenderem que a LIGA só vai existir se for com essa mentalidade.

Julio, parabéns pela condução do caso Izquierdo. Mas eu ainda tenho esperança de ver o SPFC corrigir o constrangimento que é mudar uma assinatura em troca de uma tacinha nada significa.

Rica Perrone