Campeões de audiênciaVasco

Ouvi falar muito de você, Roberto

Parte da minha criação incomum se deve ao meu pai ter me dado a dimensão dos meus rivais sem ódio, mas com admiração. 

Era comum em viagens pelo Brasil irmos a um estádio local e meu pai me contar da história do clube em questão  ou do estádio citando seus craques e grandes jogos num tom muito respeitoso. 

Subornou o segurança pra que nos permitisse entrar na geral fechada e vazia. E lá me contou pior alguns minutos a história de Flamengo, Fluminense, Vasco e Botafogo. 

Ouvi muitas vezes meu pai falar do Roberto. Assisti outras tantas, mas na época não era como hoje onde se escolhe o jogo e assiste. Era um jogo. Então tinha que cair na sorte de passar um jogo do Vasco com ele pra São Paulo. 

Sempre foi pra mim mais história do que memória. Mas ainda que acompanhasse menos do que gostaria, era um ídolo criado na minha cabeça. 

Quando me mudei pro Rio de Janeiro em 2013 uma das primeiras coisas que aconteceu foi encontrar o Roberto saindo de um restaurante. Eu fiquei parado olhando, ele não me conhecia, eu não tive coragem de falar com ele. Ele passou, eu liguei pro meu pai e disse “Eu vi o Roberto!”. E ele riu da minha cara por eu ter contado que não falei nada pra ele. Só olhei.

Aí um dia eu já era mais conhecido no futebol e o encontrei novamente na saída de um restaurante na Barra. Dessa vez eu falei “Oi Roberto. Prazer”, ele me estendeu a mão educadamente mas sem saber dizer quem eu era. Ele sabia já ter me visto mas não sabia de onde, claramente. 

E em 2022 ele foi ao Cara a Tapa me dar uma entrevista. Não aguentei. Liguei pro meu pai em vídeo e ele estava em reunião com uns 10 caras numa mesa. Foda-se! Interrompe ai que tem um cara que vai falar com você. 

Ele parou, olhou sem graça e o Roberto apareceu falando com ele. Rapidamente ele conseguiu explicar a interrupção na reunião quando mostrou o celular na mesa e todos ficaram olhando pra ele enquanto ele conversava com Dinamite.

Foi especial. Sei lá se pra ele, mas pra mim ter feito o Zico dar um abraço no meu pai e o Roberto um telefonema foi.  Afinal, ele me levou nos ombros pra encostar no Careca em 86. Que me custava proporcionar esses dois encontros pra ele? 

E ele se foi. Gente boa, simples, fácil.  Um ídolo como não se faz mais. Daqueles que vive entre nós, como se nada fosse, sendo tudo que é. 

Vá em paz, idolo.

RicaPerrone

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