Flamengo

Pais e filhos

Era terça-feira, 26 de novembro de 2013.  Muito nublado, o Rio de Janeiro vivia um dia pouco carioca.

– Pai? ….    Pai!? ……  Preciso falar com o senhor!
– Oi, meu filho.
– Preciso falar com o senhor em particular.
– Por isso as nuvens?
– Sim, nublei tudo.
– Então diga, filho. O que tanto te aflige?
– Na verdade eu queria pedir uma coisa pro senhor que….(interrompido)
– Pára! Eu já imagino o que seja.  Não começa…
– Pai, o senhor não entende. Eles precisam, não custa nada…
– Filho, não posso fazer milagres o tempo todo no mesmo lugar e menos ainda pro mesmo beneficiado! Vai ficar muito na cara…
– Mas Pai, o senhor mesmo me ensinou a amar o próximo…
– Ah, e o outro lado não é “próximo”?
– É, mas eu moro aqui, então esse é mais “próximo”. Pegou?
– Como fala bobagem…  Ainda bem que não se mexe.
– Antes aqui com essa vista do que pregado numa cruz.
– Senso de humor ….  sinal de inteligência.
– Pai, não muda de assunto.
– Filho, minha resposta é não.  Pediu Olimpíada, Copa… chega!
– Mas, pai…
– Você está me saindo um tremendo garoto mimado!
– Pai. Me ouve.
– Vai…
– Eles se empenharam tanto, meu pai.  Eles acreditaram, deram lição de fé pra humanidade que tanto precisa.
– Não apela…
– Ok, mas pai….  O povo merece!
– Hum…O povo?
– É pai! O povão! Aquele que ama o senhor, rala muito e paga um pedaço do que ganha achando que é pra você.  Gente de fé! Gente de bem, pai!  Não os deixe na mão.
– E quem vem mais de baixo não é gente de bem?
– É, também! Mas é que aqui eles são especiais…
– São todos filhos do senhor! Amo todos igualmente.
– Eu sei, pai. Mas o senhor me ama mais do que a esse monte de filho adotivo que tem por aí no mundo, certo?
– Sim, de certa forma…
– Então, pai…
– Garoto. Desde pequeno você pede por eles, eu vou lá e faço o milagre pra você.
– É que eu gosto deles…
– Notei. Bastante, né?
– É, bastante. Mais do que devia.
– Tá bom filho. Eu faço de novo.  Mas este é seu presente de Natal! Não me peça mais nada este ano!
– Jura?! Obrigado pai! Poxa, que você se abençoe! Muito obrigado mesmo.
– Agora tira esse monte de nuvem horrível e deixa o sol entrar de novo.
– Pode deixar.  Ah, Pai! Mais uma coisinha…
– Fala.
– Posso gritar gol?
– Acho melhor não. Eles não estão preparados pra saber sequer que você fala, quanto mais pra quem você torce…

abs,
RicaPerrone

– Dedico este post ao amigo Dirceu e seu filho, que ontem fizeram a mais bela imagem do Maracanã ao chorarem abraçados eternizando o que há de mais importante no futebol.   Obrigado.

 

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