Se “serve”, não serve
“Ele é bom pra mim. Me leva sair, é carinhoso, gosta de mim, parece honesto, minha família gosta dele… sei lá”. Foi assim que uma amiga me contou do namorado novo dela, que acaba de completar 2 meses de relacionamento.
Me lembrei das vezes em que eu completei 2 meses com alguém. Eu nem dormia direito esperando uma ligação. Eu suava frio quando ia encontra-la, morria de medo de algo dar errado e não tinha o menor controle sobre as qualidades e defeitos dela.
Eu nunca tive o privilégio e nem a estupidez de escolher alguém.
A lista de exigências só aumenta com o passar dos anos. E toda vez que você passa alguém por ela, perde alguém interessante. Esteja você ou não com a razão, ela não faz o menor sentido se tratando de paixão.
E então mesmo certo, você está errado. Porque nunca se tratou de uma escolha ou de uma adaptação. Trata-se de mãos suadas, noites mal dormidas e uma versão sua totalmente idiota sua que você não consegue explicar e nem evitar.
O seu aplicativo acha pessoas “compatíveis” com você. E te torna um “cliente” do amor. Você olha o cardápio, escolhe a cara, o corpo, as características, o passado, a distância e até a porra do signo. E aí, só então, se dá o direito de conhece-la.
E quando conhece já sabe muito, descobre pouco, acelera o processo, se envolve rápido, julga cedo e em uma semana já sabe se dá, não dá, e como desistir.
“Ela era vegana…”, você explica. E eles concordam. Porque o risco é uma coisa do passado. Essa geração quer tudo na mão. Se depender dela chegará o dia em que as pessoas andarão com um cadastro registrando seu passado, seus gostos, suas qualidades e até seu corpo pra que você possa escolhe-las como um pote de sorvete no mercado.
Ou já chegou?
Se adaptar a alguém pode até dar certo, é como sushi. Você se acostuma e passa a gostar. Mas eu só confio no chocolate, que você experimenta e quer comer aquilo o dia todo, todos os dias, inconsequentemente.
Eu sei, eu sei. Minhas chances de me foder são maiores.
Mas e as suas de suar frio quando ela chega?
Não dá match. Dá uma chance. Não curta, menos ainda compartilhe. Ela deve ser problema só seu e essa história não precisa de platéia até que possa ser contada.
E quando puder, espero que conte com brilho nos olhos e não com um pacato, conformado e seguro “a gente funciona”.
Se demorar, que seja. Mas entre um seguro amor mediocre e uma paixão inconsequente, me promete que você não vai ser burro de preferir saber o que está fazendo.
RicaPerrone