Será que você entendeu?
É o destempero do psiquiatra. O ponto fraco do lutador. O choro do insensível. O abraço entre quem se odeia e o ponto de discordancia que mais une do que separa.
A única coisa que o homem fez que deu certo em todo planeta.
É o rico chorando de joelhos pelo rebaixamento. O pobre jogando cerveja pro alto pela vitória. Não faz o menor sentido.
É o mais escondido esquema de corrupção que todo mundo conhece. É uma mentira atrás da outra narrada e protocolada por jornalistas que sequer tem o trabalho de ouvir quem de fato faz a coisa acontecer.
Agora eles tratam os fãs do futebol. Ora, vá tomar no cu. Quem é fã de futebol? Quem tipo de idiota é fã de algo que não está ali pra ser admirado mas sim vivido?
Ser fã de futebol é a prova irrefutável de que a pessoa não gosta de futebol.
Futebol não se gosta. Se vive. Pra assistir ele é chato. Produto ruim. Poucos gols, mais lances que não dão certo do que o contrário. Risco de 0x0, juiz interferindo, mais jogos ruins do que bons. Quem pode gostar disso? Só mesmo um imbecil.
Por isso ninguém gosta de futebol.
Mas existe um pacto não oficial entre nós, seres humanos evoluídos, que deveria ser exemplo pro mundo.
A gente se odeia, mas se protege. A gente se xinga, mas se respeita. A gente briga, mas não perde a amizade. A gente pensa diferente, rivaliza, quer o outro na lona, mas não deixamos de falar com ninguém por isso.
Ao contrário, queremos é estar com eles na mesma mesa pra poder discutir por horas mesmo sabendo que ninguém vai mudar de idéia.
O torcedor do Inter odeia o Grêmio. Mas ele consegue olhar pro gremista e entender em 2 segundos que ali está um igual a ele, só que com outra cor, outros motivos, mas o mesmo elo familiar, cultural e social.
Boi preto conhece boi preto.
Coloque um fã de futebol numa arquibancada que em 5 minutos a gente te diz quem é.
O problema é que estão colocando esses caras pra comentar, gerir e até ensinar futebol. Gente que tem o futebol no cérebro, não na veia. O futebol não quer sua análise, nem sua admiração. Ele quer sua devoção.
Outro dia um amigo me disse que nunca conseguiu gostar de futebol. Perguntei do pai, ele disse que morreu cedo. Dos amigos, ele disse ter poucos. De onde cresceu, ele contou que muito fechado com a família. Pronto, tá explicado. Você se blindou do futebol.
Como um norte-americano que passou décadas tentando evita-lo a todo custo e agora se rende humilhantemente e aceita que não será capaz de fazer nada parecido que o isente de disputar com alguém de fora.
Eu tenho algum sucesso no que faço, ganhei algum dinheiro, conheço gente de todo tipo, viajo pra cacete, já me casei algumas vezes, trabalho com o que amo, conheço meus ídolos, poxa! Que vida legal! Mas sabe onde foi o melhor dia da minha vida? No Morumbi.
O pior? No Mineirão.
Eu sou capaz de estar numa praia de férias e procurar um wi-fi pra assistir Gremio x Novo Hamburgo. E eu nem sou Grêmio.
Eu estava em Cancun quando o meu São Paulo ganhou a Copa do Brasil e tive uma crise de choro de 10 minutos. E eu nunca choro. Pior: eu nem sabia dizer porque eu estava chorando. Só não conseguia fazer parar.
Eu assisti a final da Libertadores no aeroporto de Miami em 2019 e passei 2 horas tentando entender como aquela gente toda podia estar fazendo check in e não vendo a final.
Eu realmente não entendo essas pessoas. E nem quero. Na real, nem preciso.
Após 45 anos de vida, 25 de profissão, mais de 1000 jogos na arquibancada e outros tantos trabalhando, a única certeza que tenho é que o mundo se divide entre dois tipos de pessoas.
As que amam futebol e as que não entenderam nada.
RicaPerrone