Entrevista: Alfredo Loebeling
Rica Perrone: Voce deixou a arbitragem protestando contra a pressão da CBF para alterar uma sumula….
Alfredo Loebeling: Caxias e Figueirense, em 2001. A última rodada do Brasileiro.
RP: Voce se arrepende de ter batido de frente dessa forma? Faria diferente hoje?
AL: É a pergunta de um milhão de dólares. As vezes me arrependo porque eu nunca mais apitei. Sofri uma pressão grande, a denuncia não deu em nada. Não havia interesse em apurar a denuncia.
RP: Na sua carreira de arbitro já tentaram te subornar?
AL: Duas vezes. Num jogo da Ponte Preta e Santo Andre, um diretor da Ponte foi no vestiário e fez o pagamento, deu um “presente”. Eu denunciei e ele pegou um gancho. Outro foi Comercial x Botafogo. Presidente do Comercial foi no vestiário e cobrou. Um cara havia ido no clube segunda-feira e dito pro presidente que conhecia o juiz e que resolveria. Ele pagou 15 mil reais, o cara não apenas não conhecia o arbitro como o sorteio do jogo só foi feito na quinta. Passei a noite na delegacia. Nunca me chamaram pra prestar depoimento, nem nada.
Com as arenas novas, a reforma do Morumbi saindo do papel, você não vai poder chamar a Vila Belmiro de estádio.
RP: Hoje voce assiste futebol como torcedor e eu noto você uma coisa interessante que me alivia de certa forma. Você voltou a ser um palmeirense fanático, comum. O que me da a impressão que quem esteve do lado de lá, volta e retoma essa paixão, acredita que o futebol é limpo num geral.
AL: Eu achei que quando parei de apitar ia torcer como antes. Mas não é a mesma coisa. Eu já assisto olhando o arbitro, detalhes. Quando eu era criança ia em estádio, era mais emocional. Hoje é mais capitalista. Ai a gente descobre essas coisas, que não vão dar em nada, como Amarilla, e FIFA, país sede. A gente se pergunta: Será que não fui usado varias vezes sem saber?
Mas eu vou usar de exemplo o Flamengo. Não dizendo que o Flamengo faça isso. Mas eu apitei 12 jogos do Flamengo. Dois apenas no Rio. Porque não interessava um maluco em casa, precisava um maluco fora. Então as vezes me pergunto se não fui usado pelo sistema sem saber. Se eu quiser ajudar um time hoje coloco um arbitro caseiro. E um maluco quando jogar fora. Quando o cara chutava a porta no intervalo e dizia: “vai morrer, ladrão!”, ai é que eu voltava puto. “Ah vou morrer… “.
RP: O que uma torcida faz que de fato influencia um arbitro?
AL: A torcida em si faz parte do espetáculo. O arbitro tem que ter a sensibilidade de aceitar que esta sendo xingado. Ele é o anti cristo do futebol. Ele que anula gol, expulsa e tem que entender. O que ele tem que ficar atento hoje com torcidas é jogar coisa no campo, essas coisas. Atitude racista, essas coisas tem que relatar.
RP: Existe juiz ladrão na série A hoje?
AL: Pro torcedor todos são, né. Mas a classe, em sua grande maioria, é formada por uma gente séria que vai trabalhar honestamente. Você coloca a mao no fogo por 100% da classe? Não. Em nenhuma classe.
RP: Qual foi o seu maior erro dentro de campo?
AL: Cometi muitos erros. Muitos. Mas tenho mais acertos que erros. Nunca sai de casa pra prejudicar ninguém intencionalmente. O maior erro que vi foi um pênalti que marquei contra a Ponte Preta, o Piá caiu, tocou com a mão, eu dei pênalti. Não vi que ele foi tocado por um jogador do São Paulo. Inverti.
RP: A maior injustiça que cometeram com você?
AL: Puts, dificil. Uma vez parte da imprensa que alem de não conhecer a regra faz média com torcedor. Uma vez numa palestra um jornalista disse que na rádio que ele trabalha é simpático falar mal da arbitragem. Que isso faz o torcedor não mudar de estação.
Pior comentarista? Disparado Arnaldo César Coelho…
RP: Qual o jogador mais chato de apitar jogo dele?
AL: Hoje é meu amigo. Mas o Ronaldo goleiro do Corinthians era uma mala sem alça. E o Evair também. Tive problemas com ele na carreira. No último jogo dele no palestra, nos falamos, demos risada e tudo bem. Passou.
RP: Fez grandes amigos jogadores, tem?
AL: Rogerio Ceni, Tonhão, Marcio Costa, a lista é grande. Grandes amigos.
RP: Voce concorda com o show de gestos e cartões dos árbitros hoje em dia?
AL: Aí a culpa é de quem comanda. Quem comanda não é do ramo, Rica. Até ontem podia reclamar, agora não pode mais. O jogador mais experiente passa a vida reclamando e agora, de repente, eles tem que se adaptar a não poder mais falar com o arbitro?
RP: O que você acha da regra do amarelo pra quem tira a camisa na comemoração?
AL: Essa é complicada. O arbitro não discute regras, e essa é uma determinação da FIFA. Eu concordo com a FIFA por vários motivos, mas acho que fere o principio da palavra “uniforme”. Então ele não pode fazer aquilo.
RP: O nivel da arbitragem brasileira é inferior aos campeonatos europeus?
AL: Muito inferior, não. Mas caiu nos últimos anos. Porque as comissões não são técnicas, são políticas. Você so pode cobrar quando você sabe.
Eu não confio no Jefferson. Daria uma chance pro Cavalieri.
RP: O que você acha do sorteio da arbitragem?
AL: Uma das maiores aberrações do futebol. Se você diz que terá sorteio você está dizendo que não confia na comissão de arbitragem. Eu entregaria meu cargo. O que é mais “engraçado” é que os que mais apitavam sem sorteio apitam com sorteio. Eles são sorteados da mesma forma. Se não num jogo, caem em outro.
RP: Tudo começou com o Edílson, né…
AL: Bobagem! Acha que acabou? Deve ter gente ainda apostando, jogando.
RP: Você acha razoável que arbitro liguem pra alguém no intervalo?
AL: Não deveriam, mas fazem isso sim. Interfere. O cara liga em casa, avisam que ele errou, ele não intencionalmente apita pra compensar.
RP: Já aconteceu com você?
AL: Ah já! Lógico. Você volta pro segundo tempo rezando pro cara cair na área. (risos).
RP: Melhor comentarista de arbitragem no Brasil?
AL: Sinceramente, tá dura a parada. Gosto do Gaciba.
RP: Pior?
AL: Disparado, Arnaldo Cesar Coelho.
RP: Voce é um palmeirense declarado. Já ajudou o Palmeiras por impulso?
AL: Eu tinha medo de errar e acho que mais prejudiquei o Palmeiras do que ajudei. Graças a Deus o São Paulo e o Corinthians foram campeões comigo apitando e o Palmeiras não. Devo ter errado contra e a favor. Mas nunca de forma intencional.
RP: Tecnologia no futebol. Contra ou a favor?
AL: A favor. Mas ai voce coloca no Maracanã o telão com replay. E como faz nos países mais pobres? Não dá pra unificar isso.
RP: Quem você queria ver nessa seleção que não tá lá?
AL: Acho que Gabriel volante do Palmeiras merecia uma chance na seleção e o Cavalieri como goleiro. O Jefferson não me convence. Acho no nível do Cássio. Faz a defesa fácil mas…
RP: O fato de termos muitas faltas no Brasil é responsabilidade maior dos clubes ou dos árbitros?
AL: Acho que de muita gente. Na base, ninguém se preocupa com a formação. Só pensam em quanto lucrar com os garotos. O Kaká é muito mais profissional que o Neymar. Se os clubes se preocupassem mais com a formação do atleta do que com o lucro todos sairiam ganhando.
RP: Qual a torcida que mais pressiona num estádio?
AL: A mais violenta é a da Ponte Preta. Mas as torcidas maiores são as que fazem mais barulho, normal. Mas torcida que pressiona dentro, fora, faz confusão e tal, é a da Ponte.
RP: Pior estádio pra apitar?
AL: Tem estádio ai que nem da pra chamar de estádio. Vou nem sair de São Paulo. Santistas ficarão chateados comigo, mas você tinha antes das arenas o Morumbi nota 7, Pacaembu 5 e a Vila nota 4. Com as arenas novas, a reforma do Morumbi saindo do papel, você não vai poder chamar a Vila Belmiro de estádio.
abs,
RicaPerrone