Quando terminar o Brasileirão 2010, portanto daqui 8 rodadas, apenas um clube terá feito um bom planejamento, terá sido bem administrado e feito um grande campeonato. Infelizmente a mentalidade é essa.
Hoje me peguei brincando com o simulador da Globo.com. Senti pena daqueles que, por azar ou incompetência, perderem um pontinho que decidirá todo o rótulo de um trabalho.
Se eu te disser hoje que o Fluminense foi campeão, você terá diversos argumentos para exaltar sua conquista. Podemos falar sobre a evolução do clube, os bons reforços, a chegada do Muricy, as boas campanhas nos últimos anos, enfim, um crescimento nítido do que vinha sendo há alguns anos.
Se não ganhar, ninguém vai notar. Todo o “bom trabalho” será esquecido em mais um ano “sem títulos”.
Outro dia o Renato Gaúcho contestou isso com razoável sabedoria. “Quer dizer então que em todo torneio um se planejou bem e os outros todos erraram?”.
Sim, a logica do futebol nacional é essa, infelizmente.
O Grêmio tem o risco de ser épico pela arrancada com seu maior ídolo. O Inter pode sonhar com um ano brilhante, que coroa os últimos sempre brigando e se reforçando bem.
O Palmeiras, que buscou identidade nos reforços, pode sonhar com a recuperação também nas mãos de um ídolo do passado.
E o Fogão, que mesmo tendo um 2009 contestável, vem conseguindo ser protagonista no Brasileirão, coisa que há tempos não conseguia ser. Contratou bem, tem jogadores de nome, atua num grande estádio e tem um treinador, hoje, reconhecido.
O Cruzeiro, que vive em cima, que vive brigando. Sem casa, se vencer, é fantástico! Se lhe faltar um ponto, é pipoqueiro.
Santos, que sonha com a triplice coroa, com um time agressivo e sofrendo com a perda do seu maior astro. Se ganhar é genial, se perder é “dependente do Ganso”. Tudo bobagem.
O Corinthians de Ronaldo vive situação parecida. Se perder, o “Andres acabou com o centenario”. Se vencer, é o time que se reestruturou, saiu da série B, fez um CT, um dep. médico enorme, contratou bem, lucrou alto e voltou ao topo. Um pontinho separa as duas analises.
E é aí que temos que parar e avaliar.
Todos os elogios acima são fatos, conquistem o título ou não.
Todos os clubes citados, e até Vasco e São Paulo, que ainda podem sonhar, tem seus méritos e motivos para serem exaltados em caso de conquista. Mas não serão.
É justo que tudo aquilo que hoje é quase unanime enquanto “candidato a” se torne uma mentira se faltar um ponto no final?
É possível desmerecer a evolução natural dos 12 grandes do futebol brasileiro nos últimos anos, onde todos os clubes sulamericanos estão falidos e os nossos grandes cada vez maiores?
Será que alguém poderá ser chamado de Cavalo Paraguaio após 30 rodadas e os mesmos ali em cima brigando e sonhando com o caneco?
Será que alguém já teve a mesma curiosidade que eu tive de mexer no simulador sem colocar nenhum resultado “anormal” e ter 9 clubes separados por 5 pts daqui 3 rodadas?
É uma “derrota corintiana” perder a liderança pro Cruzeiro, ou é mérito do Cruzeiro?
Será que não notamos ainda que, há muitos anos, não tinhamos os 12 grandes com grandes jogadores e todos eles com atrativos para falar em conquistas?
Qual dos 12 não tem, no mínimo, 2 grandes jogadores?
Qual deles tem um time incapaz de vencer qualquer outro em casa neste momento?
Isso é equilibrio, o que as vezes se caracteriza por nivelamento de incompetencia, as vezes o contrário.
Este ano não estamos vendo o campeonato “cair no colo” de alguém. Estamos vendo, talvez pela primeira vez em muitos anos, grandes times disputando o título de igual pra igual, com grandes jogadores e elencos capazes de competir com qualquer outro.
Ao brincar no simulador, senti pena. Quando virava um 2×2 pra 2×1, notava que o trabalho do Inter, brilhante nos últimos anos, se tornava “razoável”. Notava que o Fluzão deixaria de ser protagonista pra ser piada, virando um placar pra 0x0.
Sei que assim será. Lamento, mas prefiro escrever hoje, onde vejo 12 grandes clubes disputando em alto nível e buscando ser protagonistas no futebol brasileiro do que em dezembro, onde um será genial e outros tantos serão “derrotados”.
Olha em volta. Veja como anda o futebol uruguaio, argentino, colombiano… Todos falidos, quebrados, em decadencia.
O único que sobe é o nosso por aqui. E ainda assim, diante de clara evolução, nos limitamos sempre a apenas desmerecer e criticar.
O ano de 2010 merece ficar marcado. Pela Copa que conseguimos trazer, pelos 12 grandes clubes com times no mínimo competitivos e pelas mudanças que alternaram todos eles em bons e maus momentos na temporada.
É isso que nos diferencia. E é isso que, enfim, parece termos de volta.
abs,
RicaPerrone