Sem bola

Tá tudo bem, Diego


Hipólito é gay. Todo mundo sabia, mas agora ele confirmou. Uma vez eu o elogiei por não fazer de sua orientação sexual uma bandeira maior do que sua profissão. E agora que ele já fez sua brilhante carreira resolveu assumir.

Eu honestamente só não entendi a parte dele dizer que temeu perder patrocinadores. Acho que ele não tem boa visão de mercado.

Sua imagem vai explodir. Ele aparecerá em todos os canais de tv, dará mais entrevistas do que quando ganhou a medalha olímpica e se tornará uma propriedade intelectual de um lado político sem que seja perguntado se pode.

O obrigarão a falar contra certos políticos, o contratarão para campanhas publicitárias e ele ganhará mais dinheiro do que como atleta.

Existem cantores que hoje em dia vivem apenas do fato de se revelarem gays. Não é um problema publicitário, pelo contrário, é um grande “plus” publicitário hoje ser gay, negro ou mulher. As marcas estão buscando esse “engajamento” e abraçando as causas.

Diego é um ídolo nacional. Um sujeito de carreira incrível e que revelou com muita dor o preconceito que passou por “parecer” gay antes de assumir. Agora é justo que colha os frutos de quem já brigou para ele poder assumir.

Mas era um medo bobo, Diego. Se você era um “ídolo esportivo”, passa a ser um ídolo social a partir de então. Com os exageros dos “gays profissionais” e toda a justiça dos que de fato lutam por algo, não tem o que temer.

Se muda algo é pra melhor. Pra você, livre de se esconder, pra sua carreira, pro mundo e pra quem te patrocina. Porque além de quem vai entrar, quem já patrocina não vai, nem a pau, tirar o patrocinio de quem “agora é gay”. Não porque o faria por isso, mas porque se o fizer será massacrado sob a “suspeita de”.

Relaxa, Diego. O mundo quer que você acredite que vai te prejudicar assumir ser gay, mas o principal cantor de uma gravadora enorme hoje nem cantar sabe. Mas é gay.

Dezenas de artistas vivem de trabalho nenhum hoje meramente porque engajaram numa causa qualquer.

O mundo mudou. E nesse processo surgiram milhares de oportunistas de merda que fazem de um drama real sua profissão. Fazem de uma causa um gatilho pra se tornar influencer.

Só tome cuidado e não deixe que transformem um campeão olímpico no “ginasta gay” pra vender jornal as suas custas. A briga que vale a pena é a que faz o “gay” passar batido. A que adjetiva é mídia, não causa.

Se tem algo que me fez admira-lo a carreira toda foi exatamente o fato de você ter optado por ser “o medalhista” do que o “ginasta gay”. E foi. Ambos. Só que a segunda não é pra fazer diferença.

Parabéns!

RicaPerrone

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