O Caio Junior era uma porcaria, o Fogão estava em crise, o torcedor repetia aquelas frases de sempre. Do outro lado tudo era festa, o Dedé era Rei, ninguém passa da defesa do Vascão, o Prass é seleção e o Ricardo Gomes o melhor técnico do país no semestre.
Pronto, bastaram 90 minutos para que toda avaliação feita em 7 meses virasse lixo. Hoje, e não importa se isso vá mudar amanhã, o Botafogo é fantástico, o Vasco, mediocre.
Mais um capítulo daqueles que nos ensina, ou tenta ensinar, que o futebol não é algo que se possa cravar teorias e certezas absolutas.
No Engenhão, com ar de atropelamento do “trem bala”, ressurge um Botafogo muito “loco”.
Um primeiro tempo avassalador, cheio de detalhes, com placar mais cruel do que o merecido e com um jogo psicológico mais forte que o tático.
Existe Botafogo com Abreu, existe Botafogo sem Abreu. O que não existe é comparação entre eles.
O Vasco não jogava pra ser goleado. Fez, inclusive, a mais bela jogada da partida, que terminou nas mãos do goleiro ainda no primeiro tempo, quando estava 1×0.
Mas o Botafogo não perguntou, não estudou, não fez a menor cerimônia e ignorou o que havia do outro lado.
Costumo dizer que só gigantes são capazes de sair de uma partida ruim, uma semana conturbada e ir dormir no domingo sendo a “sensação” do campeonato.
Não, nem a pau. Não tô “loco” não. Deveria, mas não estou. O Fogão não está com os pontos do Fla, nem do Corinthians e nem mesmo do Vasco.
Aliás, talvez os botafoguenses da semana passada tenham mais razão do que os de hoje. Eles dizem não ter time, não ter técnico e estarem fadados ao sofrimento por mais uma temporada.
Os de hoje sonham com a taça, porque só campeões fazem 4×0 no embalado campeão da Copa do Brasil.
São os mesmos, mas não são.
E sim, foi uma vitória de campeão. Por mais que ela não queira dizer nada.
Não quer dizer, também, que o apagão do Vasco desmereça tudo que foi feito até aqui. Ao contrário, alerta enquanto pode.
Farão da vitória um título e da derrota uma tragédia. Porque assim o futebol sobrevive.
Mas não é o caso. Nem de achar que “pintou o campeão”, nem de ver o trem-bala estacionar.
É o caso de se exaltar mais do que o 4×0, a postura de “dono da casa” que confesso não ter visto até hoje o Botafogo ter tido no Engenhão.
Hoje, jogou como mandante contra um rival da sua cidade. Foi a primeira vez.
O Vasco não esperava o que encontrou. O depressivo Botafogo, que adora ir pra UTI antes de passar pela enfermaria, não reagiria num clássico contra um Vascão embalado…
Ou reagiria?
Reagiu. E sob a batuta de Abreu, o botafoguense que destoa do perfil recente do clube, venceu, brilhou, goleou.
Crise? Que crise?
Quem falou que o Fogão ainda não se postava como “mandante” no Engenhão? Quem disse que era “ladeira abaixo” depois da última rodada?
Caio Jr. na rua? Cuca na parada? Imagina… delírios.
E assim, com uma postura incomum que deveria ser mais comum para quem carrega tantas glórias em sua camisa, o Fogão transformou crise em sonho.
Porque se todos os botafoguenses fossem como Loco Abreu a fila seria bem menor do que é hoje. Se é que ela existiria.
Será que é tão difícil acreditar que o Botafogo possa ser quase sempre “Botafogo”?
abs,
RicaPerrone