Um “zangado” mais feliz
Muricy é líder do Brasileirão novamente. Como aconteceu no SPFC, no Palmeiras, no Inter e agora no Flu, o professor zangado é incontestável na arte de somar pontos em torneios longos, evitando sair da briga cedo e chegando sempre forte.
Ganhando ou perdendo no fim, terá feito um bom trabalho. E olha que pra eu reconhecer isso a coisa tem que ter sido boa mesmo… (risos).
Mas, falando sério, independente do meu gosto pessoal por Parreiras, Roths e Muricys com seus estilos pouco ousados, devemos notar as melhorias do professor.
Todo profissional cresce ao longo dos anos, vide Telê, campeão de tudo no fim da carreira e contestadíssimo ao longo dela. Muricy tem sua forma de ver futebol que dificilmente mudará. Mas, dentro das suas certezas, muita coisa mudou em 2010.
1- Tratamento com pessoas
Uma das minhas maiores criticas ao técnico era a forma estúpida e arrogante de tratar pessoas. No Flu, talvez por amadurecimento, talvez por ainda não saber em quem pode bater na imprensa do Rio, ele se comporta muito melhor do que no São Paulo e no Palmeiras. Lá, não tem agredido ninguém quando desagradado numa pergunta, também não tem menosprezado os seus colegas para se promover, o que é ótimo.
2- Improvisos
Ao contrário do que adorava fazer por aqui, não improvisou meio time no Fluminense. Seus jogadores atuaram a maior parte do campeonato nas suas respectivas posições, dando a eles o poder de brilhar individualmente, coisa que não fazia tão bem no Inter, SP e Palmeiras. Não pode dizer que é por “elenco”, pois no Flu ele tem menos opções de banco que, por exemplo, tinha no SPFC. É uma evolução técnica ao meu ver.
3- Laterais – laterais
No Inter, os laterais eram meias. No SPFC, sempre fez de tudo pra usar meias nas laterais e assim fez na maior parte do tempo. No Palmeiras, mesmo sem ter titulares absolutos, também insistiu em improvisar por ali algumas vezesj. Isso quebrava muito o apoio pelos lados, deixava o time previsível e dependia demais de bolas cruzadas antes da linha de fundo. No Flu, ao contrário do previsto e em virtude da boa fase do Mariano, os manteve. E na esquerda, mesmo sem ter um titular indiscutivel, alternou entre os da posição. Melhora significativa.
4 – Liberdade aos diferentes
Muricy nunca foi um técnico que permitiu a um jogador grande liberdade na frente. Mesmo atacante, tinha que marcar o tempo todo. Neste Fluminense vemos muito mais liberdade a Conca e Deco do que viamos a Diego, Xavier, Leandro, Hernanes, entre outros. Ao dar espaço pro craque, fica ainda mais fácil se defender bem e ter a chance de achar um gol quando não há volume de jogo. Conca é exemplo disso. Marca, ajuda, mas quando pode cai por onde quiser no campo.
5- Talentos individuais
Também é verdade que poucas vezes Muricy teve, do meio pra frente, um time tão talentoso. Mesmo tendo jogado desfalcado parte do campeonato, é sempre muito bom ter 4 jogadores diferenciados no ataque. Ele teve.
6- Sem cornetagem
Muricy chegou ao Palmeiras pra provar. Muricy chegou no Inter pra provar. Muricy passou pelo SPFC tendo que provar toda hora. No Flu, chegou ídolo. Quando algo dá errado, raramente a culpa é dele. E assim, em paz com a torcida, que ouviu elogios exagerados vindos de SP, ficou mais fácil trabalhar. Ele tem o aval mais importante que um técnico precisa: Diretoria e torcida. Assim, os caras correm porque sabem que a derrota não vai na conta do técnico.
7- Obrigação pelo resultado
Quando você dirige um clube campeão mundial, espera-se dele um futebol bonito de se ver. Quando você pega um time que busca um grande título há muitos anos, importa apenas o resultado. Um prato cheio pra um técnico que importa-se apenas com o resultado. A cobrança no Flu é por 1×0 e mais nada. No SPFC e no Palmeiras não era assim. E se o Flu faturar 2 titulos, também não será. A oportunidade do “emergencial” ajuda no estilo de jogo.
8 – Etapa final de um ciclo
Como disse em 2009, o Fluminense constroi um título grande há alguns anos. Nada vem de graça, e é só notar o quanto Flamengo, SPFC e Inter foram construindo suas conquistas nos anos anteriores. O Flu também segue esse caminho e, após Libertadores, bons Brasileiros, Copa do Brasil e Sulamericana, o time chega perto daquele ponto de finalizar a conquista corrigindo os erros que atrasaram o caneco.
9 – Pragmatismo a carioca
Em 2008 escrevi que algo me dizia que o Muricy se daria melhor no Rio de Janeiro. Não porque muda alguma coisa pra ele, mas porque o futebol carioca é muito mais irresponsável e bonito de se ver do que o paulista e o gaúcho. Assim, mesmo pragmático, ele teria uma dose extra de irreverencia vinda do seu time. A mescla se tornaria menos burocratica. Assim tem sido.
10 – Competência
Não gosto do estilo Muricy, nunca escondi isso nem dele. Mas, nunca discordei que funciona. Parreira é o pai do futebol de resultado no Brasil, Muricy o filho mais próximo. Se eu gosto ou não, é uma coisa. Se dá certo ou não, é outra.
Eu não gosto, mas dá certo.
Com estes ingredientes Muricy chega perto do título de 2010. Um Muricy ainda cheio de suas convicções, mas também apresentando mudanças significativas. Todos os itens acima foram muito questionados por colorados, tricolores e palmeirenses. A maioria deles amenizados em 2010, no Flu.
Faz parte da evolução do profissional, que nem todos tem qualidade pra conseguir.
O Muricy 2010 é, pra mim, o melhor dos “muricys” até hoje. Mesmo se o caneco não vier.
O que não significa que eu vá passar a gostar de futebol resultado. Não adianta, é pessoal.
Mas assim como insisto em notar todos os seus defeitos, também noto suas melhorias e qualidades.
abs,
RicaPerrone