Carnaval

Uma seita no samba

Faltando 1 semana pro carnaval chegou a hora de perder o “medo” de ir tão longe (moro na barra) e conhecer a tal quase imbatível Beija-Flor.

Paulo Beto, aquele mesmo da Beat 98, me levou até lá. E lá, entendi muita nota 10 que um dia questionei.

Fui a mais de 20 ensaios nos últimos meses aqui no Rio, conheci diversas escolas, mas nunca vi nada parecido.  A Beija-Flor é uma seita, uma religião. Ela não ensaia, pratica seu ritual.

Era meia noite de quinta-feira, a bateria estava parada, a escola inteira com velas nas mãos fazendo oração para São Jorge. Em seguida, ao som do samba do ano de 2013, sem acompanhamento da bateria, a escola foi até o altar do santo para depositar as velas e flores.

Quando voltaram pro centro da quadra o samba começou com os anteriores. Até chegar em 2013, o cavalo manga-larga, e uma reação sem igual.

Fogos na rua, já era quase 1 da manhã.  A escola começa o samba e o ensaio de alas como começa um desfile. Entre o som dos rojões e a bateria, o povo canta como se desfilasse valendo pontos.

E não vale pra Liesa, vale internamente o seu direito a fantasia. Tem chamada, tem bronca em quem não canta, é quase uma obrigação.

A empolgação dos primeiros minutos assustava. E mais do que ela só constatar que as 3 da manhã, na mesma pegada, a escola continuava pulando na mesma intensidade do primeiro refrão tocado na quadra naquela noite.

É longe, e tem que ser. Uma “tribo” como aquela não pode se misturar a “civilização”, pois perderia a sua essência. Diferentes de tudo que já vi, merecem nota 10 em harmonia de véspera.

Pouco ousada, é verdade. A Beija-Flor desfila e ensaia para não perder pontos e não para conquista-los. Mas é a regra. Errada, mas é.  Na Sapucai todas entram com 10 e ganha quem “errar menos”.

A Beija-Flor quase não erra.

E é tão correta que nem se deixa notar a grandiosidade do que tem por trás daquele “não erro”  de cada carnaval.

É um enorme acerto camuflado de regulamento. Se valesse nota a ousadia, talvez a Beija-Flor tivesse que mudar alguma coisa. Não vale, e então as outras é que devem copia-la.

Do ritual religioso ao ensaio de samba em si, nunca vi nada parecido. Pela intensidade, pela força do chão da escola e pelo envolvimento de uma comunidade que trabalha nesta sexta-feira, mas que sambou e cantou alto até as 3 da manhã como se não houvesse amanhã.

Nilópolis é tribo e a Beija-Flor sua religião.

Seus ensaios são rituais sem igual. E não a toa, seus resultados também.

Abaixo, um trecho do que é o “começo” do ensaio na escola.

abs,
RicaPerrone

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